Há pessoas que conhecemos das mais diversas maneiras. Estranhos que todas as manhãs se cruzam no nosso caminho. Velhos conhecidos que viajam connosco nos mesmos transportes. Colegas de escola, de faculdade, de trabalho. Familiares, amigos, amigos de amigos, vizinhos, conhecidos e desconhecidos. Pessoas que, por um motivo ou outro, estávamos destinados a conhecer nem que fosse apenas de passagem.
Graças à internet, as regras do jogo mudaram. É comum, hoje em dia, conhecermos pessoas online que nada partilham connosco no mundo real. Pessoas de cidades diferentes, com percursos académicos e profissionais que nunca se cruzam com os nossos. Desconhecidos com quem não partilhámos uma viagem de comboio, nem tão pouco um festival ou um concerto de música. Pessoas que apenas conhecemos pela casualidade de num certo dia, a uma certa hora, ambos estarmos online.
Podia apenas assumir a internet como um espaço de encontro e comunicação tão válido como qualquer outro espaço físico, e esta conversa terminava por aqui. Contudo, o mundo real não é assim tão simples.
Com a excepção das viagens de avião, não é socialmente aceitável abordar um estranho num transporte público sem existir um propósito claro como a cedência do lugar, ou para avisá-lo que se esqueceu de alguma coisa no banco. Já a internet é desprovida deste género de convenções. Não é visto com maus olhos iniciar uma conversa com um desconhecido a partir do momento que este não hesita em responder.
Estas pessoas “desligadas” do nosso percurso, na maioria das vezes têm pouco ou nenhum impacto na nossa vida além de figurarem como nossos “amigos” nas diversas redes sociais. São erros de casting, conhecidos que noutro contexto não passariam de fantasmas com pouca ou nenhuma relevância na nossa história.
Contudo, nem a vida, nem o destino se constroem de uma maneira tão linear. A internet faz parte do dia-a-dia e no que a socializar diz respeito, abre as mesmas portas que um bar, um concerto ou uma viagem de avião. Todas as pessoas, mesmo os figurantes, são importantes. Por mais mínima que seja a sua intervenção, encaminharam-nos na direcção correcta e fizeram-nos companhia por alguns instantes do nosso percurso.
Por vezes encontro-me a pensar nestas personagens sem amigos em comum. Como as conheci e porquê. Qual o seu valor? Quando vai chegar a sua oportunidade de criarem um impacto? E se esse dia não chegar, porque existem sequer?
Questões que guardo no vento. Sem sentido pois a resposta a seu tempo irá surgir.
Não vejo as pessoas sem amigos em comum como erros, mas como projectos em desenvolvimento. No fundo, alguém “sem amigos em comum”, é em si só paradoxal, pois quando duas pessoas se conhecem, já têm um ao outro em comum.
Na grande história da nossa vida, na qual somos o personagem principal, caminhamos, tomamos decisões e seguimos pela estrada. Não somos narradores omniscientes, nem tão pouco conseguimos adivinhar o que vai acontecer a seguir.
Para elas, somos também nós figurantes. Cada um preocupado apenas com o próximo passo a dar, na esperança que, caso surja a oportunidade, sejamos capazes de dar aquela mão amiga para ajudar os nossos companheiros de viagem.
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