Thursday, November 17, 2011

Cavaquinho

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Não mais irei ver o Paulo a fazer o cavaquinho ou o T-Rex. Por mais embriagado que ele esteja, tais momentos, embora épicos, não se vão voltar a repetir. O motivo é tão simples como a própria explicação que ele deu há algum tempo. Criámos e engrandecemos tanto as memórias do cavaquinho que qualquer tentativa de as recuperar apenas poderá resultar em desilusão e na consequente morte do mito.

Os heróis, ou melhor, a sua imagem constrói-se pelos mitos criados em volta das suas conquistas. Adorados pelos seus feitos, as suas histórias são vítimas de um estratégico embelezamento com o intuito de os elevar ao estatuto de campeões, de Deuses terrestres dignos de serem idolatrados por massas de devotos fãs.

Contudo, essas fábulas bem-intencionadas acabam por pesar na consciência do próprio herói, que assim se sujeita a ser acusado de fraude por um ou outro pormenor omitido, exagerado, ou não explicado. Mas, no final do dia, a real densidade deste peso não recai sobre o cavaleiro, nem tão pouco sobre o trovador, mas sim sobre o influenciável aprendiz que segue todas as suas pisadas.

O meu primeiro contacto com a dura realidade de um ídolo deu-se aquando da leitura de Touching From a Distance, biografia de Ian Curtis, vocalista dos Joy Division, escrita pela sua mulher Deborah. Ao descobrir os pormenores mais humanos da sua vida, envoltos em clichés de traição, drogas e egocentrismo, comecei a vê-lo como uma pessoa talentosa e não como o distante ídolo incompreendido que os bardos o faziam parecer. Não me desiludi, e não comecei a ouvir as suas músicas de maneira diferente. Senti-me mais próximo dele e aceitei-o como alguém com uma história real, com alguns pontuais rasgos de inspiração e de talento. Contudo, também compreendo que outros não pensem da mesma forma.

É preciso ter cuidado com as expectativas que criamos, com os pedestais que designamos para determinadas coisas. Quanto mais alto elevamos alguém, maior, e mais dolorosa, é a queda.

Não procuro elevar o Paulo, ou o seu cavaquinho, ao título de herói. As escassas vezes que testemunhei este acto vão para sempre ficar guardadas nas minhas memórias como momentos verdadeiramente épicos de uma genialidade criativa. Exemplos crus de como a falta de sentido de alguma coisa pode quebrar a monotonia de um simples almoço.

E para mim serão sempre isso, memórias. Não desejo voltar a ver o cavaquinho, e espero que ele não mais se repita. Deixemos que as suas histórias alimentem o mito, que esses momentos se cristalizem no tempo como marcos de uma História colectiva partilhada por todos aqueles que os testemunharam.

Deixemos que ele permaneça um segredo mistificado pelos nossos contos. Está na hora de o deixar descansar. O cavaquinho teve o seu tempo, e dele hoje me despeço.

Cavaquinho, cavaquinho, cavaquinho…

Wednesday, November 16, 2011

Com Tranquilidade

Imagem DR
A selecção portuguesa derrotou a Bósnia-Herzegovina por seis bolas a duas carimbando de forma categórica o passaporte para o Euro 2012. Apesar do que o resultado possa indicar, o jogo de ontem foi tudo menos fácil para a equipa das quinas.

Com uma confortável vantagem de dois golos à passagem da primeira meia hora, a selecção soube impor o seu jogo, construindo jogadas de ataque e impedindo que a Bósnia saísse do seu meio campo. Rui Patrício era um mero espectador perante a incapacidade dos bósnios de sair em contra-ataque. Contudo, quando Portugal estava próximo de fazer o terceiro golo, num espaço de cinco minutos, Hélder Postiga é admoestado com um cartão amarelo por simulação de uma falta na área da Bósnia, enquanto as imagens do lance demonstram claramente que era falta, e sofre o 2-1 num penalty marcado por mão de Fábio Coentrão, precedida por um empurrão nas costas do jogador que passou incólume aos olhos do árbitro.

A segunda parte adivinhava-se complicada, mas Portugal soube reagir bem com uma fantástica jogada de Cristiano Ronaldo culminada com um remate à entrada da área que resultou no terceiro golo da equipa das quinas. Novamente a euforia dos portugueses estava destinada a ter sol de pouca dura. Mais um erro de arbitragem a negar um penalty claro por mão do jogador bósnio serviu de presságio para o 3-2 marcado em fora-de-jogo na sequência de um livre onde a defesa portuguesa foi penalizada pela sua passividade.

Felizmente a selecção não se deixou abater e partiu para a goleada com dois golos de Hélder Postiga e mais um de Miguel Veloso. Ontem foi uma noite de festa no Estádio da Luz com a selecção portuguesa a garantir o apuramento para o quinto Campeonato da Europa consecutivo que se irá realizar em Junho de 2012 na Polónia e na Ucrânia.

Mas ontem foi também uma noite de avisos. A facilidade com que o árbitro favoreceu a selecção bósnia é um claro sinal de interesses externos que a todo o custo querem impedir que Portugal tenha sucesso. Embora tenha passado um pouco ao lado das incidências do play-off, no mesmo dia que a selecção se preparava para jogar a cartada decisiva de apuramento para o Euro 2012, Michel Platini, Presidente da UEFA, prestou declarações onde afirmava que Messi iria ultrapassar todos os seus recordes. Um comentário aparentemente inocente mas que mais uma vez ignorava as prestações e a qualidade de Cristiano Ronaldo.

Além do apuramento para o Campeonato da Europa, a noite de ontem trouxe-nos duas certezas: a nossa selecção ainda é muito passiva a defender e não podemos esperar exibições imparciais por parte das equipas de arbitragem. Cabe a Paulo Bento escolher os melhores jogadores, e melhorar a capacidade defensiva da equipa nos oito meses que restam até ao Euro 2012.

O segundo problema será resolvido com uma equipa de qualidade capaz de praticar bom futebol e de vencer categoricamente as selecções que aparecerem pelo nosso caminho. Só assim seremos capazes de ganhar o respeito que merecemos, calando de uma vez por todas as vozes internas e externas que se alimentam do nosso insucesso. Ontem conseguimos fazê-lo apesar das adversidades. Ontem fomos maiores que nós próprios ao garantir um lugar que já era nosso por direito.

Agora resta-nos sonhar, esquecer os desertores, e seleccionar os melhores 23 para representar a selecção e tentar, com tranquilidade, ir o mais longe possível, sempre com a visão da conquista no horizonte.

O nosso lugar na História está à distância de um sonho.

Tuesday, November 08, 2011

Se o Mundo Acabar Hoje?

Asteróide 2005 YU55, Foto DR
Por volta das 23h30 desta noite o asteróide 2005 YU55, com 400 metros de diâmetro, vai rasar a Terra a uma distância de 324.600 quilómetros, distância menor que a que separa a Lua do nosso planeta (384.000 km). Embora esta notícia não seja alvo de uma forte cobertura mediática, despertou em alguns cépticos um certo sentimento de apreensão, impulsionado por um alegado teste das transmissões de emergência dos media norte-americanos, que a FEMA (Federal Emergency Management Agency) tem programado precisamente para hoje.

Apesar deste sentimento não passar de uma preocupação desmedida, refutada pela comunidade astronómica mundial, não deixa de ser interessante ponderar sobre as eventuais consequências do impacto de um asteróide de grandes proporções no nosso planeta. Nestas situações é comum referir-se o asteróide de 10 km de diâmetro que caiu na Península do Yucatan (México) há cerca de 65 milhões de anos atrás, até hoje indicado como um dos principais responsáveis pela extinção dos dinossauros.

O que aconteceria então se o 2005 YU55 atingisse a Terra? Embora não tenha tamanho suficiente para causar um Evento de Nível de Extinção como aquele que caiu no México no final do período Cretácico, seria capaz de causar elevados estragos a uma escala global, dependendo da zona que fosse atingida.

Com fortes probabilidades de colidir numa zona marítima, visto o nosso planeta ser 70% coberto por água, causaria enormes tsunamis capazes de arrasar países inteiros, fazendo desaparecer linhas costeiras por completo. Mesmo regiões mais interiores a largas dezenas de quilómetros da zona de rebentação seriam afectadas pela fúria das águas.

Um impacto em terra teria resultados catastróficos, capaz de destruir uma região inteira e arrasar cidades, tornando inabitável toda a zona em volta. Mas as consequências em curto prazo não são nada em comparação com aquilo que a Humanidade teria que viver a seguir. Dependendo da zona atingida pelo asteróide, são diversas as consequências a longo prazo para a vida no nosso planeta.

Desde uma camada de poeira fina a cobrir a nossa atmosfera durante anos, a extensos invernos nucleares, causados por um abrupto aumento do efeito de estufa, nenhum cenário abonaria qualquer tipo de esperança para a manutenção do nosso nível de vida actual. Às incontáveis mortes causadas por fome, doença e exposição ao frio, há que acrescentar o racionamento de água e alimentos e a supressão de muitos dos direitos de uma sociedade democrática.

Como iria reagir a Humanidade a esta situação? Veríamos a luta pela repartição de recursos incrementar os conflitos entre os países? Seríamos solidários uns com os outros? Estaríamos prontos para dar a mão ao próximo sem nos preocuparmos connosco? Felizmente, não teremos que responder a estas perguntas tão cedo. Contudo, não deixa de ser irónico que embora sejamos mais evoluídos tecnologicamente que os nossos antepassados, continuamos a ser tão ou mais vulneráveis que os dinossauros quando confrontados com os desígnios do Universo.

Se o Mundo acabar hoje? A única certeza que temos é que por mais informados que estejamos nada nos poderá preparar para uma catástrofe de tamanhas proporções.

Para mais Informações:
What Would Happen if Asteroid 2005 YU55 Hit Earth?