Nos últimos anos raras foram as vezes que, por um motivo ou outro, estive sem acesso à internet por um longo período de tempo. Há cerca de um ano o meu portátil avariou, como na altura não tinha outro computador em casa, nem sequer um smartphone, não tive remédio se não resignar-me ao período de espera para reparação que durou à volta de um mês.
Infelizmente, limitar-me a ficar desligado não é um luxo com o qual me possa deleitar. Era Março e o segundo semestre tinha apenas começado. Não fosse por algumas propostas de projectos e pouco ou nada havia para fazer. Pedi ajuda a um amigo para me deixar ir a sua casa usar a internet para responder a alguns e-mails, e para enviar as propostas. Como fazia isto cerca de duas vezes por semana não posso dizer que estive completamente “desligado” durante esse tempo.
Na ausência de um computador, agravando a isto o facto de estar doente, encontrei algum reconforto na televisão. Descobri algumas séries novas e revi outras que há muito tinha deixado de ver. Permaneci atento ao telejornal, praticamente o único programa televisivo que acompanho diariamente quando não tenho qualquer problema em aceder à internet, portanto, não estava mesmo nada desligado, talvez apenas um pouco fora do alcance daqueles que não tivessem o meu número de telefone.
Em 2013, talvez não seja assim. Segundo este artigo, a frequência de explosões solares vai aumentar a um nível que já não é visto desde 1859. Na altura as comunicações por via de telégrafo foram gravemente afectadas ao ponto de serem necessários longos meses até estas voltarem a funcionar.
Isto foi no século XIX onde, em comparação com a tecnologia de hoje em dia, éramos bem mais primitivos. Em 2013, se o pior cenário se vier a realizar, podemos estar perante um verdadeiro “switch off” à escala global. Não ficaremos apenas sem internet, mas os computadores, telemóveis, televisores, electrodomésticos e carros podem irremediavelmente deixar de funcionar.
Todo e qualquer aparelho maioritariamente electrónico corre sérios riscos de ficar inutilizado devido à alta intensidade de radiação solar que vai passar pelo nosso planeta, aliada aos eventuais pulsos electromagnéticos, conhecidos por serem capazes de deixar uma grande cidade às escuras em meros segundos.
Sem querer soar como um profeta do apocalipse, a verdade é que a possibilidade deste evento acontecer é algo que nos devia preocupar. Nos cenários mais optimistas, talvez apenas acabemos por sofrer algumas quebras de energia sem que delas surjam grandes complicações. Contudo, é importante olhar para nós próprios e reflectir sobre como seremos capazes de “sobreviver” sem estarmos constantemente ligados à rede.
O Mundo iria literalmente parar e, durante alguns meses, teríamos que nos reabituar a viver sem o auxílio da tecnologia. Os contactos teriam que ser feitos pessoalmente, por escrito, ou através de telefones fixos, a rádio iria substituir a internet como a principal fonte de informação imediata, a televisão teria que regressar ao analógico, os pagamentos teriam que ser sempre feitos em dinheiro e muitos carros e transportes públicos deixariam de funcionar. Outros problemas a nível do funcionamento dos serviços de saúde, registos bancários, e de comunicação com os serviços de segurança e de emergência, também marcariam esta nova sociedade inadaptada a uma vida mais “real”.
Estaremos assim tão dependentes da tecnologia que o único resultado de um switch off não programado seria o pânico geral? Gostava de acreditar que não, mas a verdade é que tudo aponta em contrário. Mas talvez nem tudo seja negativo. A falta de internet e televisão poderá incentivar as pessoas a ler e a sair de casa, a enriquecerem-se cultural e intelectualmente após se verem livres da constante amálgama de informação indecifrável que a cada segundo estes meios lhes tentam impingir.
A verdadeira ameaça, contudo, não se prende pela falta de comunicação, mas sim no risco de perdermos a nossa memória digital. Ficheiros, documentos, blogues e sites, todos arriscam-se a ser apagados se os discos e servidores onde se encontram sofrerem mazelas irreparáveis.
Todo o arquivo deste blogue encontra-se em formato digital, assim como a maioria do meu portfólio académico e profissional. Todo o conteúdo ao qual nos últimos anos dedicámos horas, dias e meses para criar poderá desaparecer em meros segundos com pouca ou nenhuma prova da sua existência. Torna-se assim importante proteger o nosso arquivo digital e, quiçá, manter algumas cópias analógicas desse mesmo arquivo.
O tempo dirá até que ponto estamos prontos para retroceder no nosso avanço digital. Até lá, como já diziam os antigos “desligados”, a prudência é mãe da segurança.