Para muitos, concluir o curso significa o fim da vida como estudante e o início de uma nova aventura no mercado de trabalho. Para mim, não.
A minha vida de estudante, de uma maneira ou de outra, continua agora no mestrado. Embora seja perfeitamente possível conciliar o mestrado com um emprego, e até mesmo aconselhável, a verdade é que eu não o quero fazer. Sempre que envio um currículo ou respondo a um anúncio, mais do que sentir ansiedade por uma possível rejeição, temo a possível resposta positiva que felizmente até agora ainda não recebi.
Porquê? A resposta é simples, porque não quero perder o controlo da minha vida. Não é que não me sinta pronto para enfrentar o mundo do trabalho, se assim fosse não teria passado o último ano a estagiar de graça, dedicando a totalidade do meu tempo livre para poder conciliar o trabalho com os estudos – pelo menos durante os primeiros nove meses, já que os restantes foram de estágio curricular –, mas sim porque ainda não sinto que seja a altura certa.
No outro dia respondi a um anúncio de uma empresa multimédia sediada em Lisboa. Apesar de o mestrado ser apenas dois dias por semana, não imagino como seria possível conciliar as duas coisas, vendo-me obrigado a deslocar-me semanalmente ao Porto, já para não dizer que não vejo com bons olhos uma mudança para a capital. Não que tenha alguma coisa contra a cidade, mas não sinto que seja a altura certa.
Felizmente, não me responderam. Decidi então procurar apenas ofertas de emprego próximas da minha área de residência, que é a mesma coisa que dizer: como os media de Ovar não estão disponíveis para me contratar, a melhor opção seria alguma empresa da Invicta. Volta e meia encontro um anúncio que corresponde a estas exigências, contudo não consigo deixar de me sentir algo relutante em responder.
Aceito que a independência financeira e a oportunidade de sair de casa são grandes aliciantes. Ter dinheiro para comprar um carro novo, poder finalmente fazer a minha transição de PC para Mac e comprar aquela Nikon D90 que tenho andado a namorar, são sonhos facilmente concretizáveis, à distância de um "sim" de uma qualquer empresa disposta a ter-me dentro dos seus quadros. Mas em termos de sonhos materialistas, confesso ter mais olhos que barriga. Pois aquilo que realmente quero é a verdadeira experiência universitária que até agora me foi negada.
O desemprego assusta-me, mais do que nunca sofro com a escassez do dinheiro que nos últimos três anos vi-me forçado a racionar para manter o mínimo nível de conforto e poder continuar a investir nos meus eventuais caprichos. Mas essa realidade só cairá em peso daqui a dois anos, se, concluído o mestrado, a situação se mantiver igual, pois aí não terei mais desculpas para ocupar o meu tempo. Há sempre a hipótese do doutoramento, mas não o quero fazer em comunicação, e se agora é complicado pagar um mestrado, ainda pior seria a transição para o terceiro ciclo.
Infelizmente, nem sempre temos aquilo que queremos. Talvez não esteja destinado a ter uma verdadeira experiência universitária, ou talvez a consiga conciliar com um emprego em part-time ou com uma possível colaboração. Apenas o tempo o dirá. Até lá, resta-me lidar com esta falta de vontade que, possivelmente, iria confundir muitos daqueles na minha posição, mas, também, nunca fui de me deixar ir com a corrente, ou de aceitar o curso natural das coisas.
"É tudo uma questão de vontade", e era tudo mais fácil se fosse capaz de a compreender.