Monday, May 18, 2009

100th: Love Tore Him Apart



Ian Curtis (15th July 1956 - 18th May 1980)

Good-bye Ian! You'll forever keep on walking in silence in the hearts of your fans.

Tuesday, May 05, 2009

Texto sobre a faculdade cujo título se perdeu algures pelo caminho

Ainda me sinto como se pudesse salvar o mundo, mas agora sei que mesmo que o fizesse nada mudaria.

É difícil lembrar-me do que sentia há três anos atrás, da maneira como vivia sob a esperança e as expectativas de um futuro melhor. Não me esqueço, contudo, das coisas que queria, das coisas que precisava, muito porque ainda não as tenho, mas também, porque sem elas a minha simples existência não faria sentido. Como nunca fez.

Continuo sem saber por que escolhi este curso, talvez a "mentira" que conto a mim próprio todos os dias, ou pelo menos sempre que alguém me faz essa pergunta, seja a verdadeira justificação, e todas estas constantes dúvidas sejam apenas a minha forma de tornar especial aquela manhã de Julho, num café de Aveiro, onde o meu futuro para os próximos três anos – e, possivelmente, para o resto da minha vida – foi traçado.

"Quero ser escritor, mas falta-me experiência de vida, e o Jornalismo é a área perfeita para a ganhar", com algumas variações consoante a pessoa e o momento, é esta a minha resposta. Sou um verdadeiro escritor, incapaz de juntar duas frases com sentido e sentimento, há mais de dois anos... A verdade é que já não sei o que sou, ou o que quero ser. Larguei a prosa e virei-me para a poesia, mas a minha lírica não é mais que versos soltos e palavras em bruto que surgem juntas numa pequena explosão momentânea de sentimento. Sinto como se tivesse perdido o meu "dom", e sem ele não sou nada se não banal.

Às vezes encontro-me a ler textos antigos que escrevi quando ainda era capaz de sentir, vejo-os como se outra pessoa os tivesse escrito por mim. Já não reconheço aquele rapaz que nunca satisfeito com o seu produto final, conseguia criar verdadeiras histórias épicas, autênticas sinfonias que melhor trabalhadas tinham o potencial para serem lembradas na própria História como autênticos clássicos contemporâneos.

Mas esse "dom" já não me pertence. Com o tempo perdi o olhar optimista que tinha sobre o Mundo. Os meus dias passaram de verdes colorações da realidade para constantes tardes cinzentas, vazias de esperança. Bom, não vazias, mas quase, pois é tão ínfimo o leve traço de sonhos e expectativas que me faz acordar todos os dias, que já não o consigo sentir.

Outra justificação, à qual sempre neguei qualquer influência, embora soubesse que estava a enganar-me a mim próprio, era a possibilidade de te encontrar, não no imediato, se assim fosse o Porto não teria sido a minha opção, por mais que na altura visse naquela cidade o meu "El Dorado", mas num futuro em que tivesses mudado o suficiente para te poder amar e para tu aceitares o meu amor, e o retribuíres com toda a entrega que uma relação épica, como aquela que imagino e desejo para mim, poderia dar.

Mas tudo isso não passava de uma ilusão. Pois tu não eras capaz desse feito, porque, na verdade, nunca soube, e ainda não sei, quem tu és. Apenas sei que não és assim. Embora hoje tal opção não faça qualquer sentido, não posso negar que na altura estes pensamentos não tenham tido qualquer tipo de influência na minha decisão. Pois a verdade é que tiveram.

Aprender a esquecer o passado foi uma lição que a faculdade não me ensinou. Talvez esquecer não seja a palavra certa, talvez devia ter dito "aprender a deixar o passado em paz". Independentemente dos motivos que levaram a esta decisão, três anos passaram, o caminho já foi percorrido e já é tarde para pensar no que me levou a o escolher. Três anos... Ditos desta forma quase parecem uma eternidade, mas passaram tão rápido que quase nem dei por isso.

Há não muito tempo atrás perguntei a uma pessoa se sentia que tinha vivido uma verdadeira experiência universitária. Ela respondeu que não – "faltou-me fumar o meu primeiro charro, apanhar a minha primeira bebedeira." A resposta surpreendeu-me, vindo de quem vinha, pois eu também penso da mesma forma, se bem que à sua resposta posso acrescentar: "faltou-me aprender a tocar guitarra; embora esteja a aprender Russo, estou longe de ser capaz de ler Dostoevsky na sua língua original; faltou-me ter uma vida boémia, saber mais sobre arte e literatura, ser capaz de citar autores e passar noites em lugares à margem da trivialidade dos lugares comuns, a ter discussões profundas sobre a própria existência; faltou-me pertencer a um grupo coeso no qual me sentisse pela primeira vez integrado, com o qual as saídas à noite estariam já implícitas e no qual encontraria sempre alguém disposto para me acompanhar a todos os eventos que faltei ou que não desfrutei na plenitude por não ter alguém para ir comigo, ou por levar alguém que fosse capaz de saborear a natureza do momento comigo; mas acima de tudo faltou-me amor. Uma primeira verdadeira paixão, uma primeira verdadeira relação. Faltou-me sentir pela primeira vez que alguém sente o mesmo que eu, que me compreende, que precisa de mim tanto como eu preciso dela e que quer estar comigo tanto como eu quero estar com ela. Tudo o resto é insignificante sem amor.

Mas não sou um falhado, não me sinto como um falhado e, por mais incrível que pareça, a cada dia que passa mais tenho a certeza que fiz a escolha certa. Não falhei na vontade de encontrar verdadeiras amizades, na vontade de encontrar alguém como eu, alguém com os mesmos interesses e com uma forma parecida de pensar. Não, nem em sonhos podia imaginar o número de pessoas assim que acabei por encontrar, quer dentro do curso, quer através dele.

Não falhei na busca por momentos que tão cedo não irei esquecer e cuja importância para sempre me ajudará a ultrapassar quaisquer dificuldades que possam surgir. Não falhei na experiência de vida, que embora em muitos aspectos ainda não me permita compreender ou saber o que fazer em certas situações, deixa-me com uma visão que mata a ingenuidade ganha após seis anos de viver à parte de todas as circunstâncias da típica vida de liceu.

Não, não falhei. Nunca estive num lugar melhor, mas também não aceito que apenas porque não tenho motivos para me queixar, isso sirva como desculpa para me deixar levar pelo destino e não pedir mais. Não. Eu quero mais e embora já seja tarde para o conseguir na faculdade, arranjarei forma de alcançar o meu lugar.

Falta pouco para dizer adeus àquelas velhas portas do edifício em segunda-mão perdido no interior da cidade Invicta, ao qual chamei casa nos últimos anos. Lá, não vivi a experiência universitária que esperava, mas acabou por ser uma etapa importante para o início da minha vida. Talvez salvar o mundo continue a não ser suficiente para alguém sentir por mim aquilo que eu estou disposto a sentir pelos outros, mas o dia chegará em que nada precisarei de fazer à parte de apenas ser eu próprio.