Foi com grande surpresa que ontem recebi a notícia da desistência da equipa Saunier Duval do Tour de France por causa do ciclista Riccardo Ricco – líder da equipa e oitavo classificado da geral – ter testado positivo a CERA, uma nova forma de EPO.
Como nas edições anteriores, tenho seguido este tour praticamente desde o quilómetro zero, e até ao momento as prestações de Riccardo Ricco foram as que mais me impressionaram. De certa forma, ele fazia lembrar o infame Pantani, com os seus ataques bem longe da meta e com uma capacidade tremenda para ultrapassar as dificuldades. Infelizmente, tudo aquilo que me impressionava e que apaixonou Paulo Martins e Luís Piçarra, comentadores da Eurosport, pode não ter passado de uma farsa bem representada pela velha sombra do desporto profissional: o doping.
Apesar de este já ser o terceiro caso de ciclistas a testar positivo na corrente edição do Tour de France, não creio que seja caso para duvidar da verdade desportiva, e muito menos para se desistir por completo da modalidade. Um dado curioso, que vim a descobrir através dos comentadores da Eurosport, foi que uma sondagem no site do Record questionava os visitantes se estes tinham perdido a credibilidade neste Tour. Cerca de 73% votou “Sim”.
Sinceramente, não percebo o porquê de todo este negativismo, então os alegados "batoteiros" estão a ser apanhados e por isso devemos considerar que uma competição que zela pela verdade desportiva não tem credibilidade? É como diz o velho ditado, "é-se preso por ter cão, e preso por não ter."
Talvez estas histórias de apitos arco-íris têm-nos dado umas percepções deturpadas da realidade do desporto. Mas pondo todo este assunto de lado, o que importa neste caso é não perder a fé no ciclismo, e continuar a desfrutar da volta à França.
Sim, existe sempre o receio do ciclista que apoio acabar por ser testado positivo também, mas certamente aqueles que se têm dopado, devem ter tomado medidas para pararem com o processo de forma a não serem desclassificados.
Quanto à verdade desportiva do ciclismo, quem sabe? Talvez até o próprio Lance Armstrong se dopava. Suspeitas surgiram, mas até prova em contrário, ninguém vai questionar as suas sete vitórias consecutivas do tour – feito inédito em quase 100 anos de prova.
Há que louvar o esforço despendido por estes heróis que todos os dias têm que superar centenas de quilómetros ao pedal, subindo a altitudes que superam muitas vezes os dois mil metros. Suportando as mais precárias condições atmosféricas, sob um completo esforço sobre-humano.
É o doping um problema só do ciclismo? Não, existe em praticamente todos os desportos sob formas quase inimagináveis. O ciclismo apenas teve a coragem de tomar o primeiro passo na eterna solidificação da verdade. Talvez esteja na altura das restantes modalidades fazerem o mesmo.
O tour ficou mais pobre sem Riccardo Ricco. Esperemos que o ciclista regresse daqui a uns anos com um melhor sentido de bom senso, e que talvez um dia consiga vencer a maior prova do ciclismo internacional.
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