Nenhuma outra estação alguma vez me causou tanto desgaste, frustração e dor. O Verão. É sempre o Verão. Três pequenos meses que quando se devem prolongar dão a sensação de não durar mais que três semanas. E que quando devem apenas passar, estendem-se extenuantemente.
Quase toda a gente espera o ano todo por esta altura. Anseiam pelas férias, pelos momentos de diversão, pelo descanso, pela perda do sentido de responsabilidade. Quase toda a gente, pois para mim o Verão não é, e nunca foi, nenhuma dessas coisas.
Não é como se não o usasse para descontrair, descansar, ou para me divertir. Ponho a leitura em dia, retomo velhos hábitos perdidos no stress do resto do ano, enfim, faço aquilo que gosto de fazer no meu tempo livre. O grande problema desta maldita estação, é ano após ano, forçar-me a um esforço – até aqui sempre inglório – e a um total dispêndio, e desgaste de energias apenas concentradas num pequeno e simples objectivo que, até agora, sempre falhou: manter aquilo de bom que a Primavera me tem trazido, estável, e reforçá-lo.
Para mim, o excesso de tempo livre nunca jogou a meu favor. Estranhamente, de um momento para o outro, tempo livre era algo que não existia, embora eu sempre o tivesse e mesmo quando o não tinha, nada me impediria de o criar. Mas, ano após ano, estes três meses apenas servem para aumentar ou criar distâncias. Gerar conflitos, eliminar esperanças, destruir sonhos, alimentar a dor, e cimentar uma cada vez maior visão pessimista do Presente, e do Futuro.
Não odeio o Verão. O ódio não é suficiente para descrever aquilo que esta estação me faz sentir. Não culpo Junho, Julho, Agosto e Setembro. São apenas meros peões situados no local errado, na hora errada. Não existe alvo algum no qual acertar a seta da culpa. O tabuleiro é sempre o mesmo, mas as peças são diferentes. As jogadas alternam-se, e os jogadores, bem, esses, raramente regressam à partida após saírem do campo. E nas raras ocasiões que o fizeram a previsibilidade das suas acções não deixou espaço para descuidos, ou margens de manobra, para ilusões, ou desilusões.
A chegada de Setembro, que muitos podiam pensar ser capaz de terminar com todo o ambiente negativo criado à volta do Verão, apenas levanta o véu para revelar os estragos, e todo o mal feito durante esses pequenos e inacabáveis meses. Por vezes esse mal prolonga-se pelo Outono, o Inverno, e pelas futuras estações. Conflitos que poucos meses antes o mais céptico pessimista não seria capaz de prever.
Até este Verão terminar, e os resultados finais se revelarem, nada me fará deixar de acreditar que desta vez será diferente. Que o reinado de ínfimos anos tórridos finalmente chegará ao fim, dando lugar a uma nova era de incerteza, mas de optimismo.
Confesso que a esperança que neste momento sustém esta crença em mudança, já foi maior, mas a verdade é que mais cedo ou mais tarde algo irá mudar. Seja neste, ou no próximo, chegará o Verão em que mesmo que seja necessário aguentá-lo até Setembro, quando o seu fim chegar, e a cortina for levantada, a imagem que a Primavera deixou, não estará apagada e ofuscada, mas sim reforçada e nítida.