Thursday, August 13, 2015

The Perks of Being a Wallflower

The Perks of Being a Wallflower, Imagem DR
I know there are people who say all these things don’t happen. And there are people who forget what it’s like to be sixteen when they turn seventeen. I know these will all be stories some day, and our pictures will become old photographs. We all become somebody’s mom or dad. But right now, these moments are not stories. This is happening. I am here, and I am looking at her. And she is so beautiful. I can see it. This one moment when you know you’re not a sad story. You are alive. And you stand up and see the lights on the buildings and everything that makes you wonder. And you’re listening to that song, and that drive with the people who you love most in this world. And in this moment, I swear, we are infinite.
Charlie, The Perks of Being a Wallflower

Passeava pela Feira de Lisboa, após almoçar no Great American Disaster. Chovia no início daquela tarde. Chuva miudinha. Aquela que é quase tolerável ao ponto de não te fazer procurar abrigo, mesmo na ausência de um guarda-chuva. Estava já quase a sair quando passei pelo pavilhão da Fnac. Tinham livros originais com 20% de desconto. Entre eles estava o The Perks of Being a Wallflower. Embora o filme seja um dos meus preferidos, ainda não tinha lido o livro, nem tão pouco este constava na minha lista de futuros livros a comprar. Um pouco por impulso, trouxe-o juntamente com o Looking for Alaska de John Green.

Este ano, por um ou outro motivo, foram escaços os momentos em que simplesmente parei para ler um livro. Embora as viagens de comboio tenham regressado à minha rotina semanal, entro nas carruagens tão cansado, que ler é a última coisa na minha mente. No passado dia 7, tirei férias para ir a Vagos ver Within Temptation. Infelizmente, como nem o Luís, nem o Paulo podiam ir, acabei por decidir ficar por casa. Dias antes tinha terminado de ler o An Abundance of Katherines, também escrito pelo John Green, após uns longos meses de tentativas falhadas de ler mais que umas dez ou vinte páginas por semana. No meu quarto estava The Perks of Being a Wallflower, do Stephen Chbosky, separado dos restantes livros para não me esquecer de o trazer de volta para Coimbra.

Depois do almoço, já aborrecido sem algum plano para o que restava do meu dia de férias, passei pelo meu quarto e olhei para o livro. Pensei por alguns instantes e decidi começar a lê-lo. Já sabia que a sua história era contada através de cartas escritas para uma personagem externa e com pouca ou nenhuma descrição, com quem o leitor podia associar-se e ler o livro como se estas cartas tivessem sido endereçadas para si próprio.

Não estava à espera que este método de escrita fosse tão eficaz. O livrou colou-me logo na primeira página e não consegui parar de o ler. Terminei-o pouco depois do jantar. Duzentas e trinta páginas lidas num único dia, com pausas apenas para ir ao Continente com os meus pais, e para comer alguma coisa quando a fome apertava.

Como fã do filme, não esperava que o livro fosse capaz de expandir tanto o pequeno Universo de Charlie, e de acrescentar uma incrível onda de pormenores e de riqueza de storytelling, numa obra tão breve.

O livro em si é bem mais intenso. É impossível ficarmos indiferentes ao sofrimento de Charlie, mesmo que não tenhamos passado pelo mesmo, ou conhecido alguém que viveu algo parecido. Esta história não é uma história de amor. É uma história sobre depressão, sobre as pressões sociais de crescer nos 90s, sobre solidão, sobre família, sobre a introspecção das nossas próprias mentes, sobre a amizade, e sim, também sobre amor.

Há três coisas neste livro que me tocaram e nas quais ainda penso, embora já tenha digerido a sua história há alguns dias. É verdadeiramente diferente ler um livro num único dia e absorver tão intensamente cada sentimento dos seus personagens, em vez de o repartir por várias porções, e suavemente alimentarmos-nos com cada pedaço da história depois de saborearmos cada momento das páginas que terminámos de ler. E talvez seja por essa inesperada intensidade que este livro me tocou tão profundamente.

Mas antes de partir para uma deliberação caótica sobre o efeito que este livro teve em mim, regresso àquilo que estava prestes a enumerar. Digo três coisas, e não três momentos, ou três frases, pois não sei que outro nome lhes dar. São sentimentos, experiências, episódios, palavras, enfim, coisas que me tocaram e que me fizeram pensar na minha adolescência, na minha infância, na minha vida, e no meu momento actual.

A primeira foi algo que nunca me disseram, pelo menos, não quando mais precisava de o ouvir. Faz bem chorar. O Charlie chora em diversos momentos ao longo do livro, bem mais que no filme, e talvez de forma um pouco exagerada. Quer por tristeza, quer por felicidade. O Charlie chora e sempre que o faz, alguém o encoraja a não esconder o que sente. Ninguém lhe diz para parar. Ninguém trata as suas lágrimas como um sinal de fraqueza, mas sim como algo natural e necessário, como parte de quem ele é, e como um alívio para o sofrimento constante que ele não consegue compreender.

A segunda surge logo nas primeiras páginas, quando ele descreve a pessoa para quem está a escrever estas cartas. Quem eu fui no liceu, reflectia-se de forma quase perfeita nessa descrição. Por mais breve que seja, conseguia reconhecer-me naquelas palavras. Não só no liceu, mas nos meus anos de faculdade, e até muito recentemente, revia-me naquelas palavras. Contudo, já não me sinto como essa pessoa que fui em tempos. Não me sinto merecedor da atenção revelada pelas cartas que o Charlie endereçou a alguém. Esse alguém, em tempos, podia ter sido eu, mas não hoje, não quem eu sou hoje. Esta revelação entristece-me. Esta revelação dá-me vontade de chorar. Algo que não consigo fazer.

Por fim, a última coisa que me tocou foram as palavras da Sam para o Charlie. Mesmo no fim, antes de se despedirem. O motivo pelo qual essas palavras ainda hoje ecoam na minha mente vou guardá-lo apenas para mim. Não por ser demasiado pessoal, mas sim por ser algo diferente para cada pessoa que as ler. Não quero de qualquer forma tentar influenciar aqueles que ainda não leram este livro, e que o desejam fazer. Nem tão pouco estragar a surpresa de o descobrirem pelas vossas próprias mãos, como eu fiz naquela tarde chuvosa em Lisboa.

The Perks of Being a Wallflower é mais que um livro, mais que um filme, mais que uma história. É algo único. É uma das minhas histórias preferidas. Sempre o foi, apenas ainda não tinha sido escrita, e eu ainda não a tinha descoberto.