Tuesday, October 19, 2010

Distracções

Tenho dificuldade em estar atento, em concentrar-me apenas numa única tarefa. Talvez seja culpa da cultura de multitasking constantemente incutida ao longo da minha formação, talvez seja culpa de mim próprio por insistir em manter o twitter, o facebook e o gtalk ligados ao mesmo tempo que procuro pela vontade de fazer alguma coisa. Estou mais inclinado para apostar na segunda hipótese.

Há uma verdadeira auto-estrada de informação que continuamente submerge-me num oceano de dados inúteis e desnecessários para a eficiente progressão do meu dia-a-dia. Tive um professor que dizia: “Ao aprenderem algo novo guardem-no no vosso disco rígido, não na memória RAM”. Pois bem, embora ele tenha razão, suspeito que o buffer do meu cérebro já ultrapassou a sua capacidade máxima e agora não tem remédio se não armazenar toda a informação no disco. Isto deixa-me sem espaço para assimilar a totalidade das novidades mais pertinentes, para não falar que por vezes sinto como que a entrada de nova informação forçasse alguns ficheiros a serem eliminados.

Mas hoje o problema não é a minha capacidade de retenção de dados mas sim o foco dado às tarefas que tenho em mão. Mesmo a simples escrita destas linhas afasta-me de exercícios mais urgentes e, consequentemente, mais importantes. Contudo, vejo-me mais motivado para o desperdício do meu tempo em textos de auto-reflexão, do que para o dispêndio do mesmo em algo mais produtivo.

Talvez um dia devesse tentar simplesmente não ligar o twitter, o facebook e o gtalk, ou pelo menos um deles. Confesso que são estas coisas que mantêm a minha mente sã, mas são elas também as principais responsáveis pela minha constante distracção. Ver o número de tweets por actualizar na minha timeline obriga-me a parar seja o que for que esteja a fazer. Isto pode então levar a que eu me disperse por um link curioso ou que perca alguns segundos a responder a alguém. O mesmo acontece com o facebook. Quem de vocês nunca se apercebeu que tinha passado os últimos minutos a actualizar a página principal na expectativa de alguma reposta, ou comentário, a algo que lá publicaram?

O gtalk é outra história. Os chats, como qualquer conversa, distraem e obrigam-nos a alguma dedicação, visto ser socialmente incorrecto deixar alguém à espera de uma resposta durante um longo período de tempo. Contudo, este não é um verdadeiro problema, visto que por dia apenas falo com cerca de quatro pessoas, e apenas mantenho uma conversa prolongada com uma ou duas. Como se costuma dizer, “não é por aí”.

A conjugação de todas estas distracções fazem-me questionar da minha real capacidade como multitasker. Talvez seja a minha recém-descoberta dificuldade em assimilar novas ondas de informação, talvez seja este um mero sintoma de uma profunda desmotivação psicológica por falta de um sentimento de realização naquilo que faço. Talvez sejam todos estes motivos, e nenhum deles.

Há meses li um artigo que citava um estudo onde indicavam que fazer uma pausa para consultar o e-mail, ou para aceder às redes sociais, ajudava a aumentar a produtividade no local de trabalho. Hoje em dia é comum ver normas contra o uso das redes sociais, empresas com sites como o twitter ou o facebook bloqueados, e estudos atrás de estudos, feitos apenas para demonstrar o quanto perder tempo a navegar pela Web seja a socializar ou não, acaba por resultar apenas numa quebra de produtividade.

Ontem encontrei uma citação que dizia algo do género “só porque muita gente está no lado oposto, não significa que tu não estejas no lado certo”. Contudo, estou mais inclinado para acreditar que aquele estudo inicial precipitou-se no momento de tirar as reais ilações. Sim, fazer uma pausa de tempos a tempos ajuda a manter alguma da sanidade que, caso contrário, se esvaneceria com a imersão constante na mesma tarefa. Mas uma simples pausa não é o mesmo que várias horas de contínua tentação por parte de redes sociais em perpétua actualização.

A solução é simples, parar de queixar-me, desligar as redes sociais e pôr as mãos ao trabalho.

Monday, October 04, 2010

Confissões

Este não é um momento da verdade. Não sinto necessidade em aliviar a minha consciência, nem tão pouco de revelar algo mantido em segredo. Não. Apenas tenciono ponderar sobre algumas coisas que são, só por si, únicas em mim.

Nunca provei Nestum. Não sei ao que sabe, nem tão pouco do que é feito. Quando era pequeno a minha papa predilecta era Milupa e sempre assim foi. Ora comia Milupa, ora uma papa da fruta que a minha avó fazia com bolachas Maria, iogurte, e vários tipos de fruta.

Nunca vi o Rei Leão. Conheço vagamente a história, e já ouvi o nome de algumas das personagens, mas nunca o vi e não tenciono ver, pelo menos, não por enquanto. Vi o Em Busca do Vale Encantado. Uma história bonita, uma história de amizade, adulta, com uma bela mensagem.

Nunca fui à Eurodisney, nem a nenhum grande parque de diversões como a Isla Magica. Fui à Bracalândia uma vez na escola primária. Fui a vários parques aquáticos no Algarve. Diverti-me bastante por lá. Tenho vertigens por isso atracções que envolvam alturas, e andar muito depressa, não eram o ideal para mim.

Nunca tive um animal de estimação per se. Tive uma tartaruga chamada Speedy. Era pequena e pouco ou nada fazia. Morreu de subnutrição, ninguém cá em casa lhe prestava muita atenção. Mesmo hoje sinto-me responsável pela sua morte. Isso entristece-me. Também tive várias galinhas até há pouco tempo. Às vezes deixava-as à solta só para chatear a minha avó. A gata da minha tia, chamada Didi, passou cerca de um ano connosco. Era suposto passar apenas duas semanas, mas como alguém uma vez me disse, sofria de Síndrome de Estocolmo e não queria voltar para a sua casa.

Nunca vi o Samurai X. Não sei qual a sua história, nem qual o seu apelo. Vi o Dragon Ball, os Power Rangers e até mesmo Pokémon. Participei em torneios de cartas que se realizavam num café perto de minha casa. Cheguei a ficar em terceiro lugar num desses torneios. Foi o meu melhor resultado.

Nunca li “Os Lusíadas”. Nem tão pouco os estudei na escola. No décimo segundo ano falámos por alto sobre eles, em comparação com “A Mensagem”, mas nunca os estudei aprofundadamente. Tenciono ler, um dia, mas não por enquanto.

Tudo tem o seu tempo, um momento ideal, único, para ser vivido. Passei ao lado destas coisas, algumas delas em definitivo. Sentei-me na margem a observar enquanto o rio seguia o seu curso. Hoje, algumas destas coisas não fazem sentido. Outras terão a sua oportunidade. Já as restantes mediram forças com adversários à altura e saíram derrotadas.

Há momentos para tudo. Vivo hoje noutro tempo, ao qual novos dias se seguirão.