Thursday, March 30, 2006

Porquê?

Magic 8-Ball
Nunca chegaste a um ponto em que te apercebes que passaste a tua vida a fazer perguntas? Por que temos tanta necessidade de questionar tudo, e mais alguma coisa? Por mero prazer, por sede de conhecimento, ou simplesmente porque sim?

Não sei, e não sei se quero saber. Procuro sempre por respostas, mas nem sempre as encontrado nos lugares mais óbvios, ou nos mais apropriados. Nos últimos tempos encontrei respostas a algumas das questões que me têm perturbado, algumas delas vindas dos lugares mais estranhos.

Sempre precisei de viagens espirituais para poder encontrar o ar que me permite respirar, por vezes esse ar encontra-se por debaixo dos nossos narizes, precisando apenas de o inspirar. Mas nem sempre soube isso, e, por muitas vezes, quase me afoguei em seco.

Por mais que o encontre, as respostas continuam por responder, ou apenas meio respondidas. Isto deixa-me sem espaço para manobras, faz-me sentir cansado, e incapaz de nadar. O verdadeiro problema começa quando encontramos, ou pensamos que encontramos, a resposta, mas não a conseguimos decifrar, nem tão pouco alcançá-la. Aí flutuamos num vácuo onde se abrem três portas. A primeira porta vai dar a uma sala de espera, sem relógio, nem etiquetas, onde esperamos até que a porta se abra, e chame pelo nosso nome.

A segunda porta apresenta-nos uma chave, não a chave da resposta, mas uma chave torta que talvez consiga abrir a resposta, mas que com a qual corremos o risco de a deixar escapar, ou de vê-la desvanecer.

Finalmente, a terceira porta indica-nos a saída, onde podemos continuar a busca por novas respostas. A escolha de uma das portas fica ao nosso critério. Tenho por hábito escolher a primeira porta, e por vezes a terceira, mas passando essa porta, entro num vasto universo de portas 1, 2 e 3, sendo raro encontrar respostas já por si abertas.

Por que nunca entrei na porta 2? Por medo? Não. Apenas não acredito que seja essa a solução. As respostas ser-me-ão dadas no seu devido tempo, e essa chave apenas as iria estragar.

Que devo então fazer? O ar é cada vez menos, e cada vez mais me afundo neste vasto oceano. Enquanto o momento não surge, encontro mais uma resposta, quando, sem me aperceber, opto pela terceira porta de uma resposta que há muito tinha permanecido escondida por dentro da primeira porta.

Mas essa nova resposta também não se encontra disponível, e o seu conteúdo é ainda mais nublado que a anterior. Que porta devo escolher? Insisto em dirigir-me para a terceira porta, mas a primeira é cada vez mais aliciante. Será isto assim tão errado? Devo prescindir de uma resposta por outra, ou por meras questões que nunca tive intenção de levantar?

Talvez estas questões tenham resposta. Eu não o sei. Estas questões não têm salas, nem portas. Estas vêm de dentro. Gritadas por um Eu interior que anseia por responder àquilo que tanto o perturba.

Aguardo assim por esse grito, para poder dirigir-me à porta correcta. Porta essa que sempre será um pouco errada. Por entre tantas questões e decisões, nem uma bola 8 mágica será capaz de me responder, ou de me mostrar o caminho. Apenas me resta esperar que o conteúdo valha a pena.

Saturday, March 25, 2006

Shouting in the Nothingness

Imagem DR
Era de manhã. Não havia antes, nem necessidade de o tratar como antes. O Sol já ia alto, bem acima das nuvens. Tão alto que cá em baixo, apenas o cinzento da luz ofusca se reflectia no ar carregado do horizonte.

Mais um dia nublado. O início de uma Primavera normal, como sempre foi. Nenhum antes para sentir falta de. Apenas um dia como todos os outros. Mas, como todos os dias normais, este não seria escrito se não fosse algo mais do que apenas isso. Com nada em particular para fazer, parto para o sítio do costume, onde nada em particular se iria passar. Não num dia tão normal como este.

Dava-me como concretizado, ao conseguir encontrar alegria num dia cinzento. Passando assim a pertencer a um grupo restrito, daqueles que são capazes de o fazer.

Ao subir as escadas, nada para além da normalidade. Normalidade de degraus. Incontáveis. Permanentes e passados. Mantêm uma eterna indiferença rochosa perante tudo aquilo que por eles passa.

Continuo até ao topo. Caminho para aquele local, onde lá estarei, para me banhar pela normalidade que absorve este dia. Que dias normais, esses passados, subindo e descendo degraus, caminhando por passeios e estradas, sobre as quais outros passavam. Outros que seguiam as suas rotinas, procurando o mesmo propósito de uma busca pela normalidade.

Tudo isto ainda não era um antes, se alguma vez viria a ser. Era aquilo que era. Era um agora. Um agora que não precisava de um antes. Que não sonhava em ser um antes, e que não precisava de um antes.

Todos estes caminhos assim continuam, até ao dia em que os agoras do presente se tornem nos antes do passado. Antes que perseguem estes presentes, não como ofertas, mas como aquilo que são: Lembranças de um antes que já foi um agora.

Caminhos férreos, acidentes, realidades, anjos, terraços, perigos, bicicletas e viagens, sempre viagens. E assim, todos os antes culminam num agora. Um agora incapaz de ser aceite. Um agora que não passa disso. Apenas um agora em toda a sua normalidade. Um agora que não teme nem anseia por um antes.

Porque tem algo de ser salvo? Porque tem algo que desaparecer? Porque tem algo de ser relembrado?

Perguntas vãs, com respostas sem sentido. Nem o nada sabe aquilo que é, ou que não é. Hoje é um dia normal. O dia da eterna e simplista nebulização, que nos acinzenta o caminho para a alegria.

Friday, March 10, 2006

O Futuro

Nevoeiro encoberto,
Longínquo Fervor.
Nada para temer,
Nenhum medo para ter.

Futuro, palavra indistinta.
Sem sentido, ou vontade.
Perfeita desnecessidade,
De uma missão extinta.

Longitude horizontal,
Cá num canto de Portugal.
Olhos de Europa perdida,
Futuro incerto, de uma morte desmedida.

Futuro deste, ou daquele.
De mim, ou de ninguém.
Que adianta procurar nele,
A inexistência de alguém?

Futuro, palavra maldita.
Sol de inverno porvir.
Primavera, daquela que foi bem dita.
Sem rumo, ou direcção, de onde partir.

Futuro, que te procura.
Quer-te, e tem-te.
Não há nada a fazer,
Apenas nada a temer.

Confessionário

Imagem DR
Perdoa-me Littlefoot, pois continuo sem pecar.