366 dias, 237 entrevistas, 90 Segundos de Ciência, 26 Bilharacos, mais de três mil anos de “Eureka! As Descobertas Que Mudaram o Mundo”, quatro cortes nas taxas de juro, um litro de azeite no joelho, e 0 pencas depois, sejam bem-vindos a mais um episódio do Regresso da Véspera da Véspera de Natal, a tradição anual mais aguardada pelos fiéis seguidores da Igreja Universal do Sagrado Chinelo, e por todos aqueles cujo ódio a pencas os une neste santo dia.
Anteriormente em A Véspera da Véspera de Natal:
“É o Mindo! Ele está vivo. Está a comer queijadas com o Eça
de Queiroz, mas está vivo!”
“Grande Scott Pilgrim, esqueci-me de calcular para o peso
destes passageiros. Estamos no sítio certo mas o carro perdeu óleo.”
Depois:
Mindo, o Capitão Iglo e a Menina do Gás entram no Punto GT e
juntam-se aos restantes. Doc, o Brown, coloca as coordenadas para o presente,
desta vez sem se esquecer de calcular o peso do Mindo e da toalha de Eusébio.
O alfa arranca e começa a empurrar o Punto GT. Jesus, o
Cristo, que por ali descansava já fora das suas palhas, vê o Punto GT
desaparecer numa bola de raios, coriscos, e secretos de porco preto.
Ao seu lado, a figura imponente com um casaco de cabedal e
óculos de sol aparece por entre as sombras da floresta e toca no seu ombro.
“O Mindo foi sinalizado como alvo para exterminação, vem
comigo se quiseres que ele viva”.
Entretanto, no Punto GT, o Capitão Iglo, a Menina do Gás,
Jesus, o Jorge, Jorge, o Palma, Mindo, Doc, o Brown, e a toalha de Eusébio
estão a ser empurrados pelo alfa.
“Quando é que chagamos aos oitochentcha e oitcho?”, grita
Jesus, o Jorge, abalado pelas vibrações do Punto GT.
Raios, coriscos, e secretos de porco preto começam a envolver
o veículo à medida que o ponteiro se aproxima dos 90. Um curto-circuito –
daqueles eléctricos, não o que dá na SIC Radical (sim, ainda dá, não o
cancelaram depois do Alvim e do Unas saírem de lá) – como estava a dizer, um
curto-circuito atinge o capacitador de fluxo.
“Grande Sco…” mas antes de terminar a palavra Doc, o Brown,
Mindo, a Menina do Gás, os restantes passageiros, e o Punto GT desaparecem de
vista.
Horas mais tarde Mindo desperta no colo de Jorge, o Palma,
envolto na toalha de Eusébio. Estão ainda dentro do Punto GT mas algo parece
diferente.
“Isto é subjectivo”, diz Mindo com o arraste de voz de
alguém que acabou de acordar com uma enorme dor de cabeça.
À sua volta está uma floresta não muito diferente daquela
que existia em torno do Ramalhete mas nem o alfa, nem a linha de comboio, nem
as queijadas, nem as soirées, por ali se encontravam.
“Um curto-circuito abalou o capacitador de fluxo e viemos
parar ao destino errado. É o que dá usares óleo de mistura em vez de girassol,
Doc”, explica o Capitão Iglo olhando para Doc, o Brown, com ar de quem não vai
partilhar o último douradinho com ele.
“Destino, não. Data errada. E se queres vai tu comprar o
óleo que nem com os descontos de Natal do Continente eu tenho dinheiro para
pagar isso”, responde Doc, o Brown.
“Onde… Quando viemos parar?”, questiona a Menina do Gás.
Jorge, o Palma, procura por uma garrafa de uísque para com
quem ter uma conversa já que Jesus, o Jorge, ainda não decidiu que pronúncia de
portunhol melhor se adequa à sua situação.
“33”, responde Doc, o Brown.
“Há 33 anos? Estamos em 1991? Mais um pouco e podíamos ir
visitar a Expo 97”, diz a Menina do Gás.
“Sempre quis ir ao Tripanário”, responde o Capitão Iglo.
“Antes fosse, mas não. Estamos no ano 33. O Ramalhate. Não.
Pior. As queijadas ainda não foram feitas e o pessegueiro de D. Marcelo, o
Afecto ainda não foi plantado”, suspira Doc, o Brown, levando as mãos à cabeça
em desespero.
Jorge, o Palma, desiste de procurar um uísque para com quem
ter uma conversa e pergunta a Doc, o Brown, se não podiam simplesmente usar o
Punto GT para regressar para o presente.
“Consigo reparar o capacitador de fluxo mas o Punto GT
continua sem óleo e o próximo alfa só volta a passar daqui a dois mil anos”
“Ano trinte e três? Conheço um tipo que é capaz de nos
ajudar”, diz Jesus, o Jorge, que perante o desespero da situação decide ser
eloquente. “Temos só um problema”, acrescenta.
“Qual?”, pergunta Doc, o Brown.
“Ele vive na Galileia e segundo me lembro é por esta altura
que o vão tirar das suas palhas”.
Uma esfera de raios, coriscos, e cebolada de moelas, aparece
de repente próxima do Punto GT. Dentro dela está a figura imponente com um
casaco de cabedal e óculos de sol.
“Não devias estar nu?”, pergunta a toalha de Eusébio.
“Isso é subjectivo”, exclama Mindo ainda zonzo e triste por
não encontrar nenhum íman por ali perto.
“Venham comigo se quiserem regressar ao presente”, exclama a
figura imponente esticando a mão.
A esfera de raios, coriscos, e cebolada de moelas, expande. Mindo,
Jesus, o Jorge, a Menina do Gás, e o Capitão Iglo, aceitam o convite, deixando
Doc, o Brown, Jorge, o Palma, e a tolha de Eusébio para trás para finalizarem
as reparações no Punto GT.
A esfera envolve o grupo e transporta-os para a Galileia
onde um jovem Jesus, o Cristo, estava a acabar de montar uma mesa do Ikea para
um cliente.
“Trouxeste-me as queijadas?”, pergunta Jesus, o Cristo, ao
aperceber-se da presença da figura imponente com um casaco de cabedal e óculos
de sol.
“Esqueçeram-se-mas”, responde o Capitão Iglo, piscando o
olho a Mindo.
“Eu pedi-te para relembrares o Eça antes de voltares”, diz
uma voz do interior da casa. Na porta está Jesus, o Cristo, o actual, não o
jovem, Fernando Pessoa e os seus heterónimos.
“Isto é demasiado ai Jesus para a minha cabeça”, suspira a
Menina do Gás confusa com a presença dos heterónimos e com os dois Jesuses à
sua frente.
Uma carrinha dos Pregos Garcia passa por ali sem parar e a
fazer sinais de luzes.
“Está quase na hora de ires para o jardim”, diz Jesus, o
Cristo, o actual, a Jesus, o Cristo, o jovem.
“Porque é que a carrinha diz que tem dois mil anos de
garantia se estamos no ano 33?”, pergunta Jesus, o Jorge.
“Quando encontras um slogan que funciona não vale a pena
mudar”, responde Fernando Pessoa e os heterónimos.
“Estamos a ficar sem tempo”, reforça a figura imponente.
“Ok, ok. Já percebi que não me trouxeram as queijadas mas
como combinado transformei este vinho em azeite”, responde Jesus, o Cristo.
“Não era suposto ser água?”, pergunta a Menina do Gás.
“Não, Doc, o Brown, pediu azeite. Era mais fácil transformar
em vinagre, mas enfim, eu gosto de desafios.”
A figura imponente segura no garrafão de azeite e reactiva a
esfera de raios, coriscos, e cebolada de moelas. Jesus, o Cristo, Mindo, a
Menina do Gás, o Capitão Iglo, Jesus, o Jorge, Fernando Pessoa e os seus
heterónimos entram na bolha.
Na estrada Virgílio e Dante passeiam em direcção a Jerusalém
para perguntar sobre a situação política em Florença.
“Isso é subjectivo” grita Mindo, antes que qualquer um possa
abrir a boca. E tão rápido como chegou, Mindo e o seu grupo desaparecem de
vista.
De regresso ao Punto GT, Doc, o Brown, finaliza as
reparações no capacitador de fluxo.
A esfera reaparece e dentro dela regressa Mindo e o seu
grupo, agora com Jesus, o Cristo, Fernando Pessoa e os seus heterónimos.
A figura imponente despede-se deles e reinicia a esfera.
“Espera. Não tinhas dito que o Mindo foi sinalizado como
alvo para exterminação?”, pergunta Jesus, o Cristo, ora nas palhas estendido, ora
nas palhas deitado.
“Quando regressarem ao presente perguntem a Vasco da Gama
para vos levar ao pessegueiro de D. Marcelo, o Afecto na sua nau espacial.
Explicarei tudo lá”.
“Como é que vamos meter toda esta gente no carro?”, pergunta
Jorge, o Palma.
“Fernando Pessoa e os heterónimos vão na mala, os restantes
vão ter que ir ao colo uns dos outros”, responde Doc, o Brown, finalizando as
reparações do capacitador de fluxo.
“Não é óleo de girassol mas deve chegar”, diz o Capitão Iglo
depois de despejar o garrafão de azeite no depósito do carro.
“Usaste o cupão de 10%?”, pergunta Jesus, o Jorge, a Jesus,
o Cristo, enquanto este abre a app do Continente para fazer recuperar cupões.
Doc, o Brown, regressa ao volante do Punto GT e introduz as
coordenadas para o presente. Mindo, o Capitão Iglo, a Menina do Gás, a toalha
de Eusébio, Jesus, o Jorge, Jorge, o Palma, e Jesus, o Cristo, entram no carro,
enquanto Fernando Pessoa e os seus heterónimos aconchegam-se na mala.
“Para onde vamos, não precisamos de estradas”, diz Doc, o
Brown, sem que ninguém lhe fizesse o set up para usar essa frase.
O Punto GT começa a levitar graças ao azeite transformado em
vinho.
“Não era o vinho que tinha sido transformado em azeite?”,
pergunta a Menina do Gás.
Isso. Devido ao vinho transformado em azeite. E desaparece
do ano 33.
De regresso ao presente, a figura imponente com um casaco de
cabedal e óculos de sol aparece junto ao pessegueiro de D. Marcelo, o Afecto.
Uma mala estranha que parece abandonada encontra-se junto à base do tronco.
A figura imponente abre-a e um contador com números
vermelhos começa a andar para trás. Restam 59 minutos e 59 segundos.
É uma bomba? Um aviso? Será que o Mindo vai finalmente
encontrar um íman?
Não percam o próximo episódio, porque nós também não!
Esta épica história regressa na próxima Véspera da Véspera
de Natal.
Até lá continuem a celebrar o dia mais aguardado ao longo de
todo o ano. Dediquem estas horas a espalhar pelo Mundo as palavras de
felicidade que só um dia como o 23 consegue transmitir, não se esqueçam de
pagar o condomínio, e lembrem-se que os vossos amigos que nasceram a 29 de
Fevereiro só voltam a fazer anos em 2028.
Pois hoje é a Véspera da Véspera de Natal, dêem as mãos e
cantem todos comigo:
Morram pencas, morram! Pim!