Aniversário do Twitter |
Foi numa aula de Novos Media já no meu terceiro ano de
faculdade que me foi dada a conhecer uma nova rede social que, na altura,
estava ainda longe de alcançar o impacto mediático que hoje tem. Estou a falar,
obviamente, do twitter.
De microblogue, a sala de chat, de um espaço para criar e
contar histórias, a uma caixa-de-ressonância de opiniões, ao longo dos últimos
anos vi esta rede social evoluir e transformar-se. Muitos daqueles que conheci
nesses primeiros tempos há muito que deixaram de participar no dia-a-dia desta
rede. Alguns porque já não se identificam naquilo que ela se tornou, outros
porque encontraram noutro espaço algo mais aliciante com o qual perder o seu
tempo.
Quando comecei a usar esta rede usava-a essencialmente como
uma plataforma para partilhar ideias e pensamentos. Era um microblogue usado
para partilhar todas aquelas frases soltas demasiado pequenas para justificaram
o espaço e a energia que uma publicação em um dos meus blogues exigia.
Cedo comecei a observar que nem todas as pessoas usavam o
twitter da mesma forma. Algumas limitavam-se a partilhar ligações de notícias,
vídeos ou outro tipo de conteúdo que achavam interessante, enquanto outras
tinham transplantado a essência do mIRC para esta plataforma, e usavam-na como
uma simples sala de chat para conhecer e interagir com novas pessoas.
Demorei algum tempo, confesso, mas eventualmente aprendi a
responder, a fazer retuítes e a interagir com os diferentes utilizadores que
povoavam esta rede. Ainda sou do tempo, sim, neste caso terei mesmo que usar
esta expressão, mas de facto, ainda sou do tempo em que era possível ver as
interacções de um utilizador com contas que nós não seguíamos. Foi, aliás,
desta forma que conheci muitas das pessoas com quem interagi nos meus primeiros
anos de twitter.
Um dos episódios mais caricatos foi quando aprendi a
utilizar hashtags. Já tinha visto pessoas a colocar cardinais antes de uma
palavra mas nunca percebi ao certo porque o faziam. Um dia, a acompanhar um
evento, perguntei a várias pessoas o que era uma hashtag e qual a ligação que
deveria colocar no meu navegador para acompanhar esse evento.
Após algumas tentativas frustradas acabei por recorrer ao
Google, onde aprendi que uma hashtag era uma etiqueta precedida de um cardinal
usada para ligar uma série de tuítes a um único evento.
Hoje em dia, basta carregar em uma dessas etiquetas para ver
todos os tuítes em que elas são incluídas. Naquela altura não. Se queríamos
seguir uma determinada hashtag era necessário ainda pesquisar por ela.
Felizmente, esta alteração, ao contrário de muitas outras, acabou por ser
positiva. Tanto que rapidamente redes como o facebook e mais tarde o instagram
também adoptaram esta técnica, ignorando onde a mesma tinha sido originada.
Durante estes onze anos, confesso mais uma vez que nem
sempre fui um utilizador assíduo. Por volta de 2012, já muitas das pessoas com
quem convivia e falava numa base diária tinham saído desta rede. A partir daí
comecei apenas a usar o twitter para divulgar artigos do meu blogue, notícias
de ciência, música, vídeos e um ocasional pensamento solto.
Foi em 2015 que decidi voltar a usar esta rede de forma
habitual. Comecei a seguir novas contas, a responder e a interagir com novas
pessoas e, eventualmente, comecei a criar conteúdo que ia muito além da
divulgação de projectos pessoais ou de pensamentos soltos.
Ao fim destes onze anos testemunhei como o twitter, os seus
utilizadores, e o universo das redes sociais se alteraram em consonância com as
vontades e com as necessidades das pessoas e do mercado digital.
Com esta riqueza de utilizadores com conceitos, ideias,
percursos e histórias de vida distintas, o twitter transformou-se naquilo que é
hoje. Para o bem, e para o mal.
Ao longo deste processo de transformação aprendi a
identificar os diferentes tipos de utilizadores que coabitam nesta rede social.
Podemos encontrar onze géneros claros de utilizadores que, primeiro em 140, e
hoje em 280 caracteres, usam esta rede com os seus próprios propósitos e
objectivos.
Algumas pessoas reflectem um pouco de cada um, mas é ainda
possível encontrar exemplos de contas dedicadas apenas a um único foco.
O Ideólogo
Foi uma das primeiras espécies a habitar o twitter. São
pessoas que publicam pensamentos e conversas internas sem nunca interagir com
ninguém. Se em tempos eram a forma mais popular de usar este rede, hoje são
vistos como párias, ignorando por completo um dos principais pilares de
qualquer rede social, a interacção.
As Câmaras de Eco
Utilizadores que usam a sua conta para partilhar notícias,
vídeos ou ligações sem nunca produzirem conteúdo próprio. Se têm alguma espécie
de interacção com outras contas ou utilizadores, fazem-no apenas à base de
retuítes.
Os Workaholics
Contas ‘profissionais’ usadas apenas para partilhar eventos
relacionados com trabalho, ou com projectos desenvolvidos pelo seu utilizador.
A interacção é mínima, usando a rede social como uma montra para eventuais
empregadores. São pessoas para quem as redes sociais são uma ferramenta que
usam para construir a sua própria personagem. O objectivo final é retirar os
proveitos da sua popularidade online para fazer crescer a sua carreira
profissional.
Os "papa conferências"
Estas contas limitam-se a fazer o acompanhamento de
conferências. A opinião é dada através da selecção das citações dos oradores
acompanhadas das hashtags do evento. A maioria apenas funciona uma vez por ano
mas alguns parecem fazer vida disto.
Os storytellers
Uma espécie ameaçada que chegou até a ser alvo de notícias
há cerca de oito anos. Foram um dos primeiros fenómenos associados a esta rede.
Estas contas usam o twitter para contar pequenas histórias. Aspirantes a
escritores que encontraram nos 140 caracteres, que agora são 280, o desafio
ideal para a sua procrastinação.
Os endoutrinadores
Espécie que apareceu por volta de 2016. Políticos ou
aspirantes a tal, que usam o twitter para criar bolhas de opinião onde o debate
tem sempre um único sentido. Rodeiam-se de Yes
Men que controlam para tentar humilhar e calar quem tem uma opinião
diferente.
Os produtores de conteúdo
Especialistas e pessoas comuns que usam esta rede para
partilhar e esclarecer temas que podem ou não estar na berra da agenda
mediática. Conhecidos por construir longas threads, disponibilizam sempre
fontes e ligações para quem quer saber mais.
Os facebookers
Pessoas que cresceram com o facebook e que tentam replicar a
experiência que lá tiveram nas restantes redes sociais. Usam o twitter para
partilhar fotos e acontecimentos do seu dia-a-dia na esperança de receberem
gostos e interacções.
Os perfis ligados
Contas que apenas existem porque ‘temos que estar em todo o
lado’. Os seus tweets são apenas links de publicações feitas no facebook ou no
instagram. A interacção é rara e muitas vezes inexistente.
Os sociais
Malta que está aqui desde o início e que ainda usa o twitter
como uma sala de chat. Dizem ‘bom dia’ e passam o tempo a interagir com outras
pessoas, seja através de respostas ou por mensagem privada.
Os trolls
Utilizadores que apenas existem para ver o Mundo a arder.
Nunca dizem nada sério. Insultam tudo e mais alguma coisa. Os perfis são falsos
e devem ser sempre evitados. Alimentam-se de atenção. Sem atenção acabam por
definhar.
Cada um de nós já passou por um destes diferentes estágios
num certo momento. Alguns ficaram presos a uma destas identidades, outros fluem
entre aquelas que mais se adequam à sua personalidade. É esta riqueza que torna
o twitter um espaço tão interessante e, ao mesmo tempo, tão perigoso.
Para mim? Para mim continua a ser aquela casa onde os meus
pensamentos, as minhas ideias, as minhas notas soltas sobre um determinado
tema, habitam, coabitam e viajam para lá das páginas da minha mente, e para lá
da projecção da minha voz, ou da minha escrita.
Não é um espaço que me define, mas é um espaço onde sei que
tenho, e onde sempre irei ter, a minha voz.