Nada Surf, You Know Who You Are |
Only when we get to see the aerial view, will the patterns show. We'll know what to do.
Inside of Love, Nada Surf
Noites primaveris ao volante do meu velho Toyota a caminho do Furadouro. É nisso que penso sempre que ouço a Always Love dos Nada Surf. Cada música presente na nossa íntima playlist leva-nos para um local, um momento, uma emoção, um sentimento. Outras transportam-nos para actos rotineiros, simples ocasiões pontuais ou actos espontâneos. Mas todas guardam algum sentido particular que transcende a melodia e até mesmo a própria letra.
Nada Surf é uma daquelas bandas que marcam presença nas gavetas mais recônditas do nosso arquivo mental. Aquele nome que reconheces mas que não consegues identificar. Aquele momento ‘Eureka!’ que se acende no teu cérebro no preciso instante em que o primeiro acorde começa a tocar.
Por mais Indie, alternativa, ou modesta que uma banda seja, acaba sempre por reunir uma série de fãs capazes de correr meio mundo para não perderem um único concerto. Aqueles que decoram os seus quartos com posters e t-shirts. Com todos os álbuns em CD e vinil nas suas prateleiras, e cada bilhete religiosamente guardado, ou até mesmo exposto como pessoais e intransponíveis Mona Lisas, reservadas para os olhos dos poucos sortudos que os desejem visitar.
Mas, para os restantes mortais, muitas dessas bandas acabam por cair no esquecimento. Remetidas a uma ou outra música presente nas playlists dos seus leitores de mp3, ou àquele álbum que compraste na tua adolescência, e que ainda hoje permanece no mesmo canto da tua estante a ganhar pó, ano após ano, sem nunca sair da sua caixa.
Bandas de fundo que pontualmente aterram aleatoriamente no presente de um dia qualquer. Convences-te que provavelmente já terminaram e que não mais voltaram a tocar ao vivo, ou a lançar um novo single sequer. Talvez alguém se tenha lembrado de perguntar por uma reunião da banda para celebrar um ou outro momento histórico. Sugestão essa que os antigos membros acabaram por descartar por estarem demasiado ocupados com novos projectos, ou então, porque simplesmente já não se dão bem entre si.
Contudo, a história de Nada Surf não cai em nenhum destes lugares comuns. Há dias descobri que não só a banda ainda continua junta, como não pararam de lançar álbuns nos últimos dez anos.
Mas a maior surpresa ficou reservada para o fim. Os últimos dois álbuns são mesmo muito bons. ‘You Know Who You Are’, lançado em Março deste ano, é o oitavo disco de originais desta banda norte-americana. A celebrar o vigésimo aniversário do lançamento do seu primeiro álbum High/Low, no já longínquo Verão de 1996, os Nada Surf estão de regresso após quatro anos de ausência com uma das suas melhores obras musicais até ao momento.
Nada Surf apresenta-se como uma banda mais madura, com letras profundas e uma melodia energeticamente positiva. É notável a grande evolução musical da banda nos catorze anos que separam este álbum de Let Go, o terceiro e mais popular disco deste grupo nova-iorquino.
‘You Know Who You Are’ segue na inspiração de ‘The Stars Are Indifferent to Astronomy’ (como adoro este título), e apresenta-se como um álbum que vale pelo seu todo. Cada faixa segue em crescendo apoiando-se no élan da anterior para concluir em beleza no epílogo de ‘Victory's Yours’, a música que remata este disco. Dois álbuns que funcionam quase como duas longas músicas em constante progressão, a lembrar os melhores momentos de bandas como Lifehouse e Angels & Airwaves.
Nada Surf ganhou assim uma maior relevância na minha playlist pessoal. Não ao ponto de colar posters da banda no meu quarto, ou de forçar algum investimento considerável na aquisição dos seus álbuns. Mas, se algum dia tocarem numa cidade próxima de mim, quem sabe se não estarei na primeira fila para lhes agradecer por estas duas grandes obras, e excelentes fontes de inspiração.
As estrelas podem ser indiferentes à astronomia, já eu não sou indiferente a Nada Surf.