Tuesday, June 11, 2013

Comprar um telemóvel às pinguinhas

Imagem DR
“O número de transístores por chip sofre um aumento de 60% a cada 18 meses, em produtos com o mesmo custo de produção”. Conhecida como Lei de Moore, esta afirmação data de 19 de Abril de 1965. Gordon Moore, então presidente da Intel, previu assim o ritmo de evolução da capacidade dos processadores para as próximas décadas. Até hoje, esta lei manteve-se inalterada, sem espaço para qualquer contestação.

É esta capacidade de rápido desenvolvimento da nossa tecnologia que nos permite, hoje em dia, passear no bolso com um smartphone, capaz de ridicularizar os computadores topo de gama vendidos há dez anos atrás.

Tamanha evolução, em tão curto espaço de tempo, faz com que um equipamento electrónico comprado hoje, se torne obsoleto no espaço de dois ou três anos. Este tempo de vida útil reduzido, embora seja bom para o mercado de consumo, força os utilizadores a trocarem de equipamento com uma frequência bem maior do que estes pretendiam. 

Vítimas da constante inovação tecnológica, a maioria dos utilizadores, procura estar a par das mais recentes novidades. O smartphone que compraram no ano passado já não é tão veloz como estes gostariam, e cria alguns entraves no bom funcionamento de algumas aplicações. 

Confrontados com esta realidade, restam duas soluções. Ou investem num equipamento de topo, cujo preço pode facilmente exceder os quinhentos euros. Ou continuam a apostar em smartphones de gama média, comprando um novo dentro de uma baliza de tempo cujas suas carteiras são capazes de suportar.

Para algumas pessoas, um telemóvel capaz de fazer/receber chamadas e enviar mensagens de texto, é mais do que suficiente para se entreterem durante o dia-a-dia. Contudo, para muitos, o acesso móvel à internet, contas de e-mail e redes sociais, assim como a utilização de certas aplicações, são elementos essenciais para as suas funções profissionais e actividades de lazer. 

Ao fim de três anos, encontro-me num impasse em relação ao meu equipamento actual. Comprado em Outubro de 2010, o meu Samsung GT-I5800, já não é capaz de suprir as minhas necessidades diárias de comunicação e entretenimento. Há alguns meses, fiz a actualização do firmware do meu smartphone para a versão Android 2.2. Desde então, ele ficou mais lento, deixou de suportar algumas aplicações, e a bateria já não dura tanto. Em tempos conseguia usá-lo durante dois dias seguidos sem ter necessidade de o carregar. Hoje, basta aceder durante alguns minutos à rede 3G para que a bateria caia no vermelho.  
Samsung GT-I5800
Vejo-me assim forçado a adquirir um novo equipamento. Embora não pretenda fazê-lo antes do final de Outubro, altura propícia a promoções e novos lançamentos, já estou no mercado a analisar as alternativas mais viáveis, dentro do preço que estou disposto a pagar. 

Enquanto adio a minha decisão, decidi perder um momento para rever todos os telemóveis que adquiri ao longo dos anos. Faz precisamente onze anos que tive o meu primeiro telemóvel, um Nokia 6210. Considerado um topo de gama, na altura o seu preço podia chegar a trezentos euros. Mas graças aos pontos acumulados na TMN, aliados a uma promoção ocasional, consegui comprá-lo por pouco mais de cem. 


Nokia 6210
As principais inovações deste telemóvel incluíam acesso à rede WAP, comunicação por infra-vermelhos, e a mais recente versão do jogo Snake. Muitas horas perdi em frente àquele ecrã monocromático a tentar bater a minha pontuação máxima.  

Infelizmente, este telemóvel teve uma vida curta de pouco mais de dois anos. Um dia, após um treino do clube de futebol onde jogava, reparei que o meu champô tinha rebentado dentro do saco. O líquido entranhou-se nos circuitos do meu 6210, criando uma mancha que dificultava a escrita e a leitura das mensagens.

Ainda durou alguns meses até este se desligar pela última vez. Há já algum tempo que estava a juntar dinheiro para comprar um computador novo, contudo, ainda estava longe do meu objectivo. Decidi então usar esse dinheiro para comprar um telemóvel novo. A escolha recaiu sobre o Motorola V300



Motorola V300
Atraído pelo seu aspecto – sempre tive um fraquinho por telemóveis em forma de concha –, não me deixei intimidar pelo seu preço de duzentos e cinquenta euros. Este incluía um ecrã a cores, um ecrã exterior monocromático, toques polifónicos e uma câmara fotográfica. O grande problema deste telemóvel era não possuir nenhum sistema de ligação de dados entre dispositivos, além do WAP. Por causa disto, nunca fui capaz de guardar as fotografias que tirei com ele.

Também este tem uma história trágica. No início de 2007, fui assaltado numa rua do Porto. Além da carteira, levaram-me o telemóvel. Embora já estivesse a pensar comprar um novo, por causa das limitações a nível da qualidade da câmara fotográfica e da conectividade entre equipamentos,  não estava pronto para o fazer naquele momento, nem tão pouco, por motivos tão completamente fora do meu controlo.  

Acabei por procurar uma solução de recurso a um preço acessível. Usei novamente os pontos que tinha guardados da TMN para comprar um Samsung SGH-Z230. Por cem euros, este telemóvel conquistou-me pelo seu design, pelo formato em concha, e pelo duplo ecrã que permitia tirar fotos a mim próprio, ou com outra pessoa, sem ter que pedir a alguém que o fizesse por mim. Tinha bluetooth e um jogo de patins em linha, que usava para queimar tempo sempre que o meu leitor de mp3 ficava sem bateria. 



Samsung SGH-Z230
Acompanhou-me em todas as viagens que fiz pela Europa fora e, além de um ou outro risco, continua a funcionar na perfeição. 

Durante muito tempo resisti à moda dos smartphones. Simplesmente não era para mim. Sempre fui bastante poupado no que toca às minhas comunicações móveis. Um carregamento de dez euros chegava a durar-me dois ou três meses. Não me parecia viável passar a pagar uma mensalidade só para poder aceder à internet no telemóvel.

Em Outubro de 2010, não consegui resistir mais à tentação de comprar um smartphone. Equipado com a versão Android 2.1, cartão de memoria de um gigabyte, máquina fotográfica de três megapixéis e 256 Mb de RAM, este telemóvel era mais avançado que o meu primeiro computador.

Com um preço de duzentos e cinquenta euros livre, ou duzentos euros com contrato na operadora, o Samsung GT-I5800 era, de longe, o melhor smartphone que alguém podia adquirir naquela altura, dentro deste preço. 

Ainda hoje continua a fazer jus ao investimento. Contudo, passados três anos, creio que está na hora de mudar.

No ano passado, tive que adquirir um número de outra operadora, que não a TMN, por motivos profissionais. Como ia precisar de outro telemóvel, e o meu velho Samsung SGH-Z230 estava bloqueado para a TMN, decidi comprar no OLX um Motorola ROKR U9. Escolhi este telemóvel apenas pelo seu aspecto. Encontrei um vendedor fiável, com um equipamento em bom estado, e não hesitei em comprá-lo.

Embora não tenha grandes razões de queixa, começo a achar pouco prático andar com dois telemóveis. De facto, na maioria das vezes, deixo o meu Motorola em casa, chegando mesmo a esquecer-me que ele existe durante dias a fio. Felizmente, aquele número tem pouca actividade. 

Motorola ROKR U9
Por tudo isto, não ponho de lado a possibilidade de adquirir um DUAL SIM. Até Outubro, ainda tenho algum tempo para tomar uma decisão ponderada, e para analisar todas as minhas opções.

Quando falei sobre esta minha intenção a um amigo meu, ele disse-me para “deixar de comprar um telemóvel às pinguinhas” e para comprar um telemóvel “a sério”. 

Nos últimos onze anos gastei um total de setecentos euros em telemóveis. Valor suficiente para comprar um iPhone 5 ou um Samsung Galaxy S4. Contudo, há onze anos atrás não existiam smartphones e, tivesse eu esperado, apenas hoje poderia adquirir o meu primeiro telemóvel.

Para mim, não faz sentido dar mais do que duzentos euros por um smartphone. É um objecto útil, de uso diário, cuja velocidade e qualidade de construção, são importantes para um bom desempenho das tarefas que estes dispositivos se propõe a realizar. É também um objecto volátil, capaz de ser danificado com alguma facilidade, e atraente para qualquer amigo do alheio. Mas, acima de tudo, é uma vítima da Lei de Moore.

Podia investir hoje quinhentos euros num smartphone de gama alta. Podia fazê-lo com o argumento de que, em vez de três, este durará cinco anos. Mas, daqui a 18 meses, quando os novos equipamentos arrasarem por completo os actuais, não me sentirei tentado a adquirir um novo?

Existem inúmeras alternativas, das mais variadas marcas, a um preço acessível. Basta para isso estarem atentos ao mercado, aos fóruns de discussão, e aos sites especializados na avaliação destes equipamentos. É possível adquirir um bom smartphone, a um preço relativamente baixo, sem termos que pagar mais pela marca, ou por extras sem nenhuma utilidade prática.

Vivemos num ciclo vicioso, vítimas da evolução tecnológica. A única forma de escaparmos a ele, é gerir de forma prática e inteligente os gastos que estamos dispostos a suportar.

Wednesday, June 05, 2013

Doce Tentação

Pão-de-Ló de Ovar
Doces. Bolos. Pastéis. Gelados. Semi-frios. Se fosse possível, não me importava de passar o resto da minha vida a alimentar-me apenas de doces. Punha de lado a sopa, dispensava os aperitivos e o prato principal e saltava directamente para a sobremesa. Felizmente, sou sensato ao ponto de saber que se o fizesse não teria muitos mais anos para desfrutar destes simples prazeres.

A gastronomia portuguesa é bastante rica e diversificada. De Norte a Sul criámos, ao longo de gerações, inúmeros pratos que, quer em tempos de escassez ou de abundância, apresentam alternativas saudáveis para nos alimentarmos de uma forma sustentável e nutritiva. Todos eles conjugados numa bela coreografia de sabores, difícil de igualar.

Mas como nem só de pão vive o Homem, atrevo-me a retirar do contexto a mal-amada frase de Maria Antonieta e pedir que nos deixem comer bolo. Comecemos então por Lisboa e pelos Pastéis de Belém. Com ou sem canela, alguns gostam deles com açúcar, outros preferem-nos ao natural, sem nunca nos esquecermos do café que os acompanha. Fora da capital comem-se Pastéis de Nata e até já existe uma cadeia de fast food chinesa especializada em os vender. Receita roubada que em nada se assemelha ao segredo bem guardado de uma das 7 Maravilhas da Gastronomia Portuguesa.

Seguimos então para Sintra e para as suas famosas Queijadas. Bem junto à estação já se sente o cheiro das fornadas acabadinhas de fazer. Uma óptima oportunidade para nos sentarmos a apreciar a paisagem desta terra icónica, mas o nosso caminho é longo e ainda agora começou. Continuemos assim a subir até Leiria. 

Façamos um intervalo para provar um Mil-folhas ou para conhecer as Brisas-do-Lis, pequenos pastéis de ovos e amêndoa parecidos com o Quindim brasileiro. De seguida damos um salto a Fátima. Não para lavarmos a nossa alma do pecado da Gula, mas sim para bater à porta da Pastelaria Milano, casa das desconhecidas Estrelas de Fátima. Um pequeno doce de ovos, amêndoa e açúcar capaz de nos levar aos céus.

Não. Não me esqueci das Cavacas mas a viagem já vai longa e acabei de chegar a Tentúgal. Casa dos pastéis do mesmo nome. Doces de ovos envolvidos em massa folhada. Que apenas evito comer pois não tarda nada chegarei a Aveiro. 

Decido passar por cá a noite. Passeio na Barra e provo uma Tripa de chocolate. Morango, Ovos Moles, Chocolate com Avelã, Amêndoa, e até mesmo alguns chocolates e doces comerciais podem ser encontrados na lista de sabores deste doce parecido com uma Bolacha Americana que alguém se esqueceu de tostar. 

Na manhã seguinte tomo o pequeno-almoço na Confeitaria Ramos. Em pleno centro de Aveiro experimento uns Ovos Moles com chocolate que não se encontram em nenhum outro lugar. Desço a rua até à Pastelaria Veneza e provo os doces com o mesmo nome dessa cidade Italiana. Não fosse Aveiro a “Veneza de Portugal” e a existência destes pastéis, em muito semelhantes às Estrelas de Fátima, veria a sua origem questionada. 

Regresso à viagem. Paro em Ovar de propósito para levar um Pão-de-Ló. Esqueci-me do garfo por isso terei que o deixar para mais tarde. Em Arouca, logo à entrada, entre Trilobites e Conventos, encontro umas Castanhas de Ovos e umas fatias do Pão-de-Ló local. Húmido e coberto por açúcar, uma única fatia serve entre três a quatro pessoas. Muito bom. Muito doce. Exige-se alguma moderação.

Atravesso o Porto e sigo para Felgueiras. Em Margaride reencontro o seu tão típico Pão-de-Ló. Mais parecido com um bolo seco, é um bom aperitivo para ser comido com queijo da serra acompanhado de um copo de Vinho do Porto. 

Já farto de pães-de-ló vou até Santo Tirso. Entre Jesuítas e Limonetes não me consigo decidir. Podia dar um salto a Santiago de Compostela para comer uma Torta de Amêndoa, mas encontro-me de repente com desejos de alfarroba. 

Apanho o avião para Faro. Em Tavira como uns doces em formato de fruta mas que de saudável pouco ou nada têm. Encontro na alfarroba um excelente substituto para o chocolate e levo algumas para casa, pois a viagem já vai longa e o meu estômago não tem espaço para tanto doce.

Possuímos um rico património gastronómico do qual, estes, são apenas alguns exemplos. A comida portuguesa é um excelente aperitivo para a sobremesa que, quando bem escolhida, permite-nos finalizar uma boa refeição com um pequeno pedaço de céu (seja ele em natas ou não). 

Ninguém pode viver à base de doces, mas eles dão o mote para uma agradável viagem com um garantido final feliz.

Tuesday, June 04, 2013

Em bom português, Parte II

Foto: DR
Ao longo do meu percurso académico tive vários professores de Português. Alguns melhores do que outros. Cada um com o seu nível de exigência e de interesse pelos alunos.

Nunca estudei em escolas privadas, contudo, as escolas públicas que frequentei sempre estiveram bem cotadas nos rankings de desempenho escolar. O meu liceu chegou mesmo a figurar no top 10 nacional. Feito assinalável, tendo em conta que a minha escola secundária não pertence a um grande centro.

Não culpo as minhas eventuais falhas na aprendizagem da língua portuguesa, na qualidade dos meus professores. Embora fosse um aluno exemplar, nem sempre me empenhava a cem por cento. Contudo, assim que identifiquei os meus erros, procurei compreendê-los e encontrar soluções para que estes não se voltassem a repetir.

Hoje em dia existem diversas ferramentas ao nosso dispor para facilitar a compreensão e a aprendizagem da nossa língua. Desde dicionários online, como o Priberam da Porto Editora, a fóruns de discussão e esclarecimento de dúvidas como o Ciberdúvidas.

Não existe qualquer tipo de desculpa capaz de justificar que alguém continue ignorante sobre como se escreve em bom português.

E se, -se ou -sse?


Um dos casos que, ainda hoje, me geram maior confusão é a diferença entre as palavras hifenizadas com “se” e os verbos no pretérito perfeito do conjuntivo que terminam com “sse”. Durante anos evitava usar estes termos, procurando formas de dar a volta à questão usando sinónimos, ou através de um abrasileiramento da frase colocando o “se” antes da palavra, em vez do verbo hifenizado.

Tive que esperar pelo meu décimo primeiro ano para que uma professora me tentasse explicar a diferença entre estas duas formas verbais. A sua explicação, meramente gramatical, de pouco ou nada ajudou. Continuei a basear a minha decisão na sorte e na minha intuição. Felizmente, na maioria das vezes acabava por acertar.

Com o passar dos anos, a minha experiência de escrita, aliada à minha capacidade de aprender com os erros, permitiu-me ser capaz de escrever os verbos na forma correcta sem ter que questionar a sua implementação. O truque que usava era um simples jogo mental. Pronunciava a palavra que queria dizer, sílaba a sílaba. Se a sílaba tónica calhasse na sílaba grave, então sabia que a palavra se escrevia com duplo “S”. Quando tal não acontecia era porque a palavra acabava com hífen seguido de “se”.

Isto pode parecer algo complicado, principalmente para alguém que não sabe pronunciar uma palavra de forma correcta. Felizmente, ensinaram-me recentemente um truque mais fácil para determinar qual a forma verbal que deve ser usada. Basta colocar a frase na forma negativa.

Por exemplo, qual a diferença entre “esperasse” e “espera-se”? Vejamos as seguintes frases: “Agora espera-se que o comboio chegue”; “acreditava que ele esperasse por mim”. Vamos agora colocar ambas as frases na forma negativa: “Não se espera que o comboio chegue”; “não acreditava que ele esperasse por mim”.

Como podem ver, no caso em que o verbo é hifenizado com “se”, na forma negativa o “se” passa para a frente do verbo. Na outra situação, a forma verbal mantém-se inalterada apesar da frase se encontrar, agora, na forma negativa. 

Basta colocarem o “não” antes do verbo, seguido de “se”. Se a frase mantiver o sentido que pretendiam então é essa a forma correcta.

Eu fui, tu fostes, ele foi


Este problema é mais comum na oralidade do que na escrita. Mas comuns também são as pessoas que escrevem como falam. Quantas vezes não sentiram os vossos ouvidos a zumbir sempre que alguém dizia algo como “eu foi ao supermercado”?

Algumas mentes ignorantes de tão iluminadas se acharem, dizem que isto não passa de um regionalismo, e que deve ser aceite, como as dicotomias café/bica, pingo/garoto, ou guarda/chapéu-de-chuva. Essas pessoas estão erradas. É apenas um erro grosseiro. Grosseiro e excessivamente comum.

A explicação é simples, basta recitarem o pretérito perfeito (ou o passado) do verbo “ir”. “Eu fui, tu foste, ele foi, nós fomos, vós fostes, eles foram.” “Foi” apenas pode ser usado na terceira pessoa do singular. Ele “foi” ao supermercado, se foste tu que fostes, então apenas podes dizer “fui”. 

Hífen. Isso é o tracinho, não é?


Graças a uma estranha popularidade do meu anterior artigo, algumas pessoas sugeriram que explicasse a diferença entre os verbos no infinitivo pessoal, e as suas formas hifenizadas.

Embora não me recorde de nenhum caso concreto, é comum ver alguém a escrever num comentário a uma notícia, ou num fórum, algo como “para puder-mos” em vez da forma correcta “para podermos”.

Esta forma hifenizada é uma conjugação pronominal da segunda pessoa do singular do imperativo do verbo “poder”. Enquanto “Podermos” diz respeito à primeira pessoa do plural do infinitivo do verbo “poder”.

Esta é usada quando o sujeito da frase se encontra omitido e é, normalmente, precedida pelas preposições “para” ou “de”. “Para podermos explicar-te, precisas de estar atento”.

“Podermos” não deve ser confundido com “pudermos”. A segunda diz respeito ao futuro do conjuntivo e geralmente é precedida pelas conjunções “se” e “quando”. “Se pudermos ajudar-te, ficaremos contentes com o teu progresso”.

Esta é uma questão de base que apenas surge por causa do uso incorrecto desta forma verbal na oralidade, e por falta de uma formação gramatical mínima, no que aos verbos diz respeito.  

São inúmeros os casos de mau uso da língua portuguesa. A maioria são facilmente evitáveis, bastando para tal informarmo-nos junto dos meios especializados.

Com a actual facilidade de acesso às tecnologias da informação, não existem desculpas para que as pessoas não procurem melhorar a sua qualidade de escrita, ou para que, pelo menos, sejam capazes de evitar este tipo de erros.

Não pretendo iniciar um movimento de defesa do uso correcto da língua portuguesa. Tais movimentos já existem, assim como recursos de livre acesso, que têm como objectivo educar e esclarecer dúvidas sobre como se deve escrever em bom português.

Apenas espero que encontrem alguma utilidade nas dicas que aqui deixei. Que melhorem a vossa escrita. Que sejam capazes de aprender com os vossos erros. E que perpetuem o bom uso da nossa língua materna.

Monday, June 03, 2013

Em bom português

Foto: DR
Há quem se veja grego para escrever em bom português. A língua de Camões pode ser a mais bela, mas está longe de ser a mais simples. Contudo, existem pequenos truques para vos ajudar a evitar alguns erros de palmatória.

Costuma-se dizer que mesmo quando toleramos certos erros ortográficos, que ocorrem por distracção ou por pressa na escrita, na maioria dos casos a avaliação da gravidade de um erro resume-se a esta simples dicotomia: Ou a pessoa sabe escrever, ou não sabe.

Infelizmente, a maioria das pessoas que se encaixam na segunda categoria são  vítimas de um mau sistema de ensino, e da sua própria incapacidade de procurar métodos de aprendizagem que os ajudem a escrever em bom português.

A língua é um elemento vivo, moldável e em constante renovação. Adapta-se a qualquer tempo, região ou idade. Nunca é tarde para aprender e nunca foi tão fácil fazê-lo.

Para ajudar todos aqueles que ainda vêem no português um bicho-de-sete-cabeças, deixo aqui algumas dicas úteis para simplificar o processo de acentuação das palavras.

EGA. Não. Não é o da Rua Sésamo, nem tão pouco o Moniz.


Esdrúxula, Grave e Aguda. Nos meus tempos de Escola Primária, a minha professora ensinava-nos a separar as sílabas das palavras batendo palmas entre a entoação de cada uma das sílabas. Vejamos então a palavra “sílaba”. Sí. La. Ba. Esta palavra tem três sílabas e, como todas as palavras da língua portuguesa, apenas as últimas três sílabas podem ser acentuadas.

Essas três últimas sílabas são denominadas de acordo com a seguinte ordem: Esdrúxula (sí); Grave (la) e Aguda (ba). Sempre que tiverem dúvidas sobre se uma palavra leva ou não acento, façam o jogo das palmas. Se a sílaba acentuada for a sílaba esdrúxula, ou seja, a terceira sílaba a contar do fim, então a palavra tem que ser obrigatoriamente acentuada.

Todas as palavras esdrúxulas, ou melhor, todas as palavras acentuadas na terceira sílaba a contar do fim, têm que ser acentuadas. É uma regra da língua portuguesa que não abre espaço a excepções.

Advérbios de Modo (ou aqueles que acabam em mente)


Um dos erros mais comuns, e facilmente evitáveis, é ver um advérbio de modo acentuado. “Rapidamente” escrito “rápidamente” é um dos mais gritantes. Ora, pode parecer contraditório dizer que “rapidamente” não leva acento no primeiro “a” quando ainda há pouco expliquei que a sílaba esdrúxula tem que ser sempre acentuada. De facto, o radical “rápida”, visto que tem apenas três sílabas, é acentuado na sua sílaba tónica. Agora, contem as sílabas do advérbio “rapidamente”. Ra. Pi. Da. Men. Te.

Ao adicionarmos o sufixo “mente” a palavra passa a ser composta por cinco sílabas. Visto que a sílaba tónica já não se inclui nos elementos EGA, esta não pode ser acentuada. Em regra, os advérbios de modo não levam acento.

Há, À, Á. Minha machadinha...


Leitor assíduo das secções de comentários de alguns jornais online portugueses, perco mais tempo a tentar compreender aquilo que as pessoas tentam dizer, do que a ponderar sobre a pertinência do seu conteúdo.

Um dos erros que mais vezes surgem por lá é o uso de uma anormalidade alienígena chamada de “á”. “Á” com acento agudo simplesmente não existe. É o mesmo que dividir por zero. Não se pode dividir por zero, nem tão pouco se pode escrever “à” com acento agudo (á) em vez de grave (à).

Este é dos poucos casos que eu ainda sou capaz de perdoar, pois tive que esperar pela conclusão do meu décimo primeiro ano para que alguém mo ensinasse. Se eu nunca tive um professor de português capaz de explicar algo tão simples, suponho que o mesmo se aplique à grande maioria dos portugueses.

Outro erro menos grave, mas muito mais imperdoável, é a confusão entre o “há” e o “à”.  “À” é usado como uma preposição de lugar ou de modo. Por exemplo “à porta” ou “à moda do Porto”. “Há” é uma forma verbal do verbo “haver” no modo imperativo. É apenas usada quando nos referimos à existência de algo, ou quando queremos definir um ponto no tempo: “há tremoços”, “há três anos atrás”. Quando dizemos “há tremoços” estamos a anunciar que naquele estabelecimento existem tremoços.

A situação que poderá gerar maior confusão acontece quando nos referimos a um determinado espaço no tempo. Quando dizemos “há três anos” estamos a tentar dizer “existem três anos”? Não, o “há” nesta situação vem substituir a expressão “faz três anos”. Uma boa dica para se lembrarem desta regra é associarem o termo “há” à palavra “horas”. Ambas as palavras têm H, e ambas estão associadas à passagem do tempo. Um truque simples para enganarem o vosso cérebro.

Dupla acentuação


Esta é, possivelmente, a regra mais fácil de decorar: Não existe dupla acentuação em português.

Este é um problema bastante comum entre os emigrantes francófonos. Ao contrário da língua francesa, na língua portuguesa não existem palavras com mais do que um acento. “Bebé”, escreve-se apenas com um acento no segundo “e”, e não com dois acentos. Sim, ambas as sílabas são tónicas mas a regra dita que apenas uma delas pode ser acentuada.

Claro que existem algumas excepções facilmente despistáveis. Palavras como “órgão” ou “órfão”, são, à primeira vista, duplamente acentuados. Contudo o til não exerce a mesma função que o acento agudo. O til une o “a” e o “o” formando o ditongo nasal “ão”. É uma conformidade linguística que retirou ao til a função de acentuar a sílaba tónica.

Estas supostas excepções à regra da dupla acentuação, não o são na verdade.

A língua portuguesa é uma das nossas maiores heranças históricas e culturais. É a base da nossa identidade e o elo comum entre Portugal e os restantes países lusófonos. Cabe a nós respeitá-la, promovê-la e cuidá-la. É um exercício que requer algum esforço, mas que no fim acaba por compensar cada minuto desperdiçado.

Com estas dicas, deixo assim a minha contribuição para ajudar todos aqueles que querem aprender a escrever em bom português.