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“O número de transístores por chip sofre um aumento de 60% a cada 18 meses, em produtos com o mesmo custo de produção”. Conhecida como Lei de Moore, esta afirmação data de 19 de Abril de 1965. Gordon Moore, então presidente da Intel, previu assim o ritmo de evolução da capacidade dos processadores para as próximas décadas. Até hoje, esta lei manteve-se inalterada, sem espaço para qualquer contestação.
É esta capacidade de rápido desenvolvimento da nossa tecnologia que nos permite, hoje em dia, passear no bolso com um smartphone, capaz de ridicularizar os computadores topo de gama vendidos há dez anos atrás.
Tamanha evolução, em tão curto espaço de tempo, faz com que um equipamento electrónico comprado hoje, se torne obsoleto no espaço de dois ou três anos. Este tempo de vida útil reduzido, embora seja bom para o mercado de consumo, força os utilizadores a trocarem de equipamento com uma frequência bem maior do que estes pretendiam.
Vítimas da constante inovação tecnológica, a maioria dos utilizadores, procura estar a par das mais recentes novidades. O smartphone que compraram no ano passado já não é tão veloz como estes gostariam, e cria alguns entraves no bom funcionamento de algumas aplicações.
Confrontados com esta realidade, restam duas soluções. Ou investem num equipamento de topo, cujo preço pode facilmente exceder os quinhentos euros. Ou continuam a apostar em smartphones de gama média, comprando um novo dentro de uma baliza de tempo cujas suas carteiras são capazes de suportar.
Para algumas pessoas, um telemóvel capaz de fazer/receber chamadas e enviar mensagens de texto, é mais do que suficiente para se entreterem durante o dia-a-dia. Contudo, para muitos, o acesso móvel à internet, contas de e-mail e redes sociais, assim como a utilização de certas aplicações, são elementos essenciais para as suas funções profissionais e actividades de lazer.
Ao fim de três anos, encontro-me num impasse em relação ao meu equipamento actual. Comprado em Outubro de 2010, o meu Samsung GT-I5800, já não é capaz de suprir as minhas necessidades diárias de comunicação e entretenimento. Há alguns meses, fiz a actualização do firmware do meu smartphone para a versão Android 2.2. Desde então, ele ficou mais lento, deixou de suportar algumas aplicações, e a bateria já não dura tanto. Em tempos conseguia usá-lo durante dois dias seguidos sem ter necessidade de o carregar. Hoje, basta aceder durante alguns minutos à rede 3G para que a bateria caia no vermelho.
Samsung GT-I5800 |
Enquanto adio a minha decisão, decidi perder um momento para rever todos os telemóveis que adquiri ao longo dos anos. Faz precisamente onze anos que tive o meu primeiro telemóvel, um Nokia 6210. Considerado um topo de gama, na altura o seu preço podia chegar a trezentos euros. Mas graças aos pontos acumulados na TMN, aliados a uma promoção ocasional, consegui comprá-lo por pouco mais de cem.
Nokia 6210 |
Infelizmente, este telemóvel teve uma vida curta de pouco mais de dois anos. Um dia, após um treino do clube de futebol onde jogava, reparei que o meu champô tinha rebentado dentro do saco. O líquido entranhou-se nos circuitos do meu 6210, criando uma mancha que dificultava a escrita e a leitura das mensagens.
Ainda durou alguns meses até este se desligar pela última vez. Há já algum tempo que estava a juntar dinheiro para comprar um computador novo, contudo, ainda estava longe do meu objectivo. Decidi então usar esse dinheiro para comprar um telemóvel novo. A escolha recaiu sobre o Motorola V300.
Motorola V300 |
Atraído pelo seu aspecto – sempre tive um fraquinho por telemóveis em forma de concha –, não me deixei intimidar pelo seu preço de duzentos e cinquenta euros. Este incluía um ecrã a cores, um ecrã exterior monocromático, toques polifónicos e uma câmara fotográfica. O grande problema deste telemóvel era não possuir nenhum sistema de ligação de dados entre dispositivos, além do WAP. Por causa disto, nunca fui capaz de guardar as fotografias que tirei com ele.
Também este tem uma história trágica. No início de 2007, fui assaltado numa rua do Porto. Além da carteira, levaram-me o telemóvel. Embora já estivesse a pensar comprar um novo, por causa das limitações a nível da qualidade da câmara fotográfica e da conectividade entre equipamentos, não estava pronto para o fazer naquele momento, nem tão pouco, por motivos tão completamente fora do meu controlo.
Acabei por procurar uma solução de recurso a um preço acessível. Usei novamente os pontos que tinha guardados da TMN para comprar um Samsung SGH-Z230. Por cem euros, este telemóvel conquistou-me pelo seu design, pelo formato em concha, e pelo duplo ecrã que permitia tirar fotos a mim próprio, ou com outra pessoa, sem ter que pedir a alguém que o fizesse por mim. Tinha bluetooth e um jogo de patins em linha, que usava para queimar tempo sempre que o meu leitor de mp3 ficava sem bateria.
Samsung SGH-Z230 |
Acompanhou-me em todas as viagens que fiz pela Europa fora e, além de um ou outro risco, continua a funcionar na perfeição.
Durante muito tempo resisti à moda dos smartphones. Simplesmente não era para mim. Sempre fui bastante poupado no que toca às minhas comunicações móveis. Um carregamento de dez euros chegava a durar-me dois ou três meses. Não me parecia viável passar a pagar uma mensalidade só para poder aceder à internet no telemóvel.
Em Outubro de 2010, não consegui resistir mais à tentação de comprar um smartphone. Equipado com a versão Android 2.1, cartão de memoria de um gigabyte, máquina fotográfica de três megapixéis e 256 Mb de RAM, este telemóvel era mais avançado que o meu primeiro computador.
Com um preço de duzentos e cinquenta euros livre, ou duzentos euros com contrato na operadora, o Samsung GT-I5800 era, de longe, o melhor smartphone que alguém podia adquirir naquela altura, dentro deste preço.
Ainda hoje continua a fazer jus ao investimento. Contudo, passados três anos, creio que está na hora de mudar.
No ano passado, tive que adquirir um número de outra operadora, que não a TMN, por motivos profissionais. Como ia precisar de outro telemóvel, e o meu velho Samsung SGH-Z230 estava bloqueado para a TMN, decidi comprar no OLX um Motorola ROKR U9. Escolhi este telemóvel apenas pelo seu aspecto. Encontrei um vendedor fiável, com um equipamento em bom estado, e não hesitei em comprá-lo.
Embora não tenha grandes razões de queixa, começo a achar pouco prático andar com dois telemóveis. De facto, na maioria das vezes, deixo o meu Motorola em casa, chegando mesmo a esquecer-me que ele existe durante dias a fio. Felizmente, aquele número tem pouca actividade.
Motorola ROKR U9 |
Quando falei sobre esta minha intenção a um amigo meu, ele disse-me para “deixar de comprar um telemóvel às pinguinhas” e para comprar um telemóvel “a sério”.
Nos últimos onze anos gastei um total de setecentos euros em telemóveis. Valor suficiente para comprar um iPhone 5 ou um Samsung Galaxy S4. Contudo, há onze anos atrás não existiam smartphones e, tivesse eu esperado, apenas hoje poderia adquirir o meu primeiro telemóvel.
Para mim, não faz sentido dar mais do que duzentos euros por um smartphone. É um objecto útil, de uso diário, cuja velocidade e qualidade de construção, são importantes para um bom desempenho das tarefas que estes dispositivos se propõe a realizar. É também um objecto volátil, capaz de ser danificado com alguma facilidade, e atraente para qualquer amigo do alheio. Mas, acima de tudo, é uma vítima da Lei de Moore.
Podia investir hoje quinhentos euros num smartphone de gama alta. Podia fazê-lo com o argumento de que, em vez de três, este durará cinco anos. Mas, daqui a 18 meses, quando os novos equipamentos arrasarem por completo os actuais, não me sentirei tentado a adquirir um novo?
Existem inúmeras alternativas, das mais variadas marcas, a um preço acessível. Basta para isso estarem atentos ao mercado, aos fóruns de discussão, e aos sites especializados na avaliação destes equipamentos. É possível adquirir um bom smartphone, a um preço relativamente baixo, sem termos que pagar mais pela marca, ou por extras sem nenhuma utilidade prática.
Vivemos num ciclo vicioso, vítimas da evolução tecnológica. A única forma de escaparmos a ele, é gerir de forma prática e inteligente os gastos que estamos dispostos a suportar.