Cântaro, Imagem DR |
Que um dia deixa lá ficar a asa. Sim, é assim que este provérbio termina. Apesar deste pedacinho de sabedoria popular ter a sua razão de ser, a verdade é que aparentemente tem caído no esquecimento, principalmente pelas vozes dos comentadores de futebol.
Comentadores que dizem "que um dia lá fica", que inventam outra terminação qualquer, ou que simplesmente o adaptam para o enquadrar com a situação que acabaram de presenciar. Pois a verdade é que o provérbio apenas se diz desta forma, e desta forma apenas.
Tinha eu os meus sete ou oito anos, andava ainda na primária a aprender provérbios e a levar reguadas por saber a tabuada – sim, eu levava reguadas por saber a tabuada, ou melhor, por saber demais – e já sabia que o cântaro, de tantas vezes que ia à fonte, acabava por perder a asa.
Tenho que admitir que durante muitos anos pensava que um cântaro era um pássaro, o que, se pensarem bem, até faz sentido. Vamos partir do pressuposto que não sabem o que é um cântaro, e que para além do provérbio nunca tinham ouvido esta palavra antes. Vejam agora os argumentos que transformam este recipiente de transporte de água, numa ave para aqueles que se deixam iludir pelo provérbio:
- O cântaro deixou lá ficar a asa. O que tem asas? As aves. Posso admitir que é um pouco estranho o cântaro perder uma asa só por ir muitas vezes a uma fonte. Mas podia lá ficar preso, ser caçado por um gato, ou ser simplesmente maltratado por algum miúdo inconsciente cujos pais não lhe ensinaram a respeitar a natureza;
- Cântaro, o próprio nome sugere que provém de "cantar". O que canta? As aves. Se canta, e se tem uma asa, só pode ser uma ave, até ao momento em que não o é.
Mas não fujamos do tema fulcral, a verdade é simples e é esta: Apenas existe uma forma correcta de recitar este provérbio e essa forma é,
Tantas vezes vai o cântaro à fonte, que um dia deixa lá ficar a asa.