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“Aconselho-te a apressares-te. Esta velocidade pode ser imprópria para cardíacos.” Ariel, não, não era este o seu nome, mas bem que podia ser. A tal senhora de branco ascendia no céu até pairar em pleno ar. Que movimento indescritível, e cheio de tão tremenda beleza. Beleza essa coberta por uma sombra.
Ele estava lá em baixo, controlava-a contra a sua vontade. Ela aponta a sua flecha para os inocentes. Eles nada lhe fizeram, nem a ela, nem a ele. Mas é a ele que Ariel obedece. "Tem que ser agora", diz-lhe sem mexer os lábios.
Ela está relutante, incapaz. Porque tem ela de dar tal destino aos inocentes? Porque deve tamanha pureza e serenidade, ser sujeita a esta opressão? A tamanha demanda pelo inaceitável? Pelo perverso?
Ariel, identifica o seu alvo e puxa a flecha para trás. "Isso. É agora!", grita ele. Sim, é agora, ela sabe que não é capaz. Não disto. Mas existe algo que ela ainda pode fazer: Pôr um fim à sua opressão.
Ela direcciona a sua mira para o coração daquele ser perverso. Com alvo no centro da sua perversidade, a traição abate-se sobre os céus, e a seta trespassa-o. Ariel nem pestaneja, há mais vidas a salvar.
O Eu que, de tantas adversidades, e problemas impossíveis, vê-se mais uma vez numa situação de perigo irrealista e surreal. "Porque raio estas coisas só acontecem a mim?! Que sonho tive eu tão desastroso que acabou com o universo de outrem?".
A caminho do calor reconfortante daquela que um dia o salvou de si mesmo, a sua bicicleta pára. Também os grandes heróis são amigos do ambiente. À sua frente, algo que desde criança ele aprendeu a familiarizar e a conhecer melhor que ninguém.
Este não tem quaisquer exageros cinematográficos. Doze metros da cabeça à ponta da cauda. Dentes e mais dentes. Braços curtinhos com apenas dois dedos, mas de cor negra. Muito negra.
O T-Rex olhava-o. Nada havia a fazer. Não era capaz de pedalar mais depressa. Este seria o fim. Não existiam realidades generosas, ou salvamentos de última hora. Não desta vez. Desta vez, era o fim.
Mas Ariel não podia deixar que assim fosse. Afinal tudo isto era obra do seu mestre que agora jaz morto numa poça da sua própria malvadez. Do céu deixa cair o salvador. Não aquele que se esperava, mas outro da mesma espécie. Mais pequeno, decerto. As apostas não estão do seu lado.
A clareza do bem é translúcida na sua pele, e na sua leve penugem branca. O T-Rex maior recupera os sentidos. Atordoado após testemunhar um da sua espécie a cair dos céus. Ignorando Ariel, e o nosso herói, ele olha nos olhos do recém-chegado.
Antes de fugir desenfreadamente estrada fora. Este Eu seria capaz de jurar que o tinha visto a sorrir.
A luta começou. Ariel é incapaz de a ver. O seu tempo não pode ser preenchido por estas coisas mundanas. Ela cometeu o único acto imperdoável, mesmo que apenas o bem possa surgir da sua traição.
Terá agora que responder perante um poder maior. Um poder que transcende qualquer um, até inclusive, os poderes do Eu que morreu em seu desespero.
A luta interminável entre dois membros de uma espécie extinta continua a ser disputada por baixo do olhar de Ariel. Ao nosso Eu apenas resta o reconforto de algo a que pode chamar de casa.
Este é o seu mundo. Este é o seu dom. Esta é a sua maldição.