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Todos somos irreverentes, cada um à sua maneira, especialmente durante a adolescência. Embirramos com coisas sem importância. Vivemos para o novo, para o desconhecido. Para o banal, para o profundo. Para as emoções fortes, e para as más decisões. Somos aquilo que queremos ser, e aquilo que queremos que os outros vejam. Mas, acima de tudo, somos sonhadores.
Ao crescer, os sonhos transformam-se. Perdemos alguns, substituímos outros. Desistimos dos desejos de infância, e construímos a realidade sobre os alicerces da nossa ambição.
Em tempos escrevi sobre a necessidade de não pormos de lado os nossos objectivos. Não, em detrimento de um potencial desaconselhado pelos habituais Velhos do Restelo, que apenas desejam ver-nos falhar. Era irreverente. Argumentava que um trabalhador satisfeito por ver o seu sonho concretizado, era mais feliz, mais produtivo, mais capaz de exercer a sua profissão.
Hoje, ainda concordo com esta premissa, mas confronto-a com a realidade. Poucos sabemos aquilo que verdadeiramente queremos. Ainda adolescentes, sonhamos alto. Ambicionamos vitórias fáceis, e prémios avultados. Desconhecemos o potencial das nossas qualidades e das nossas aptidões. Confundimos desejo com vocação e, por vezes, perdemo-nos nas decisões mal tomadas.
De que vale então sonhar, se não temos nenhuma garantia de ser esse o sonho, que nos irá fazer felizes? A magia constrói-se nessa mesma incerteza. Sonhos descartáveis, todos temos. Já sonhos verdadeiros, apenas os tem quem for capaz de enveredar pelo desconhecido. Quem não tem medo de enfrentar todo e qualquer obstáculo. Quem não desiste ao primeiro sinal de adversidades. Quem tem talento, e não o desperdiça. Quem tem vontade, e se esforça. Quem se adapta à realidade, em vez de sonhar de forma desmedida. Quem o faz por amor à camisola, e não por dinheiro.
Sonhar, não é um meio para atingir um fim. É uma lista de ambições e objectivos, adequada a tudo aquilo que nos faz feliz, às nossas qualidades, aos nossos conhecimentos, e às nossas capacidades.
Haverá sonho mais nobre que a busca pela felicidade? A própria declaração de Independência dos E.U.A. inclui este desejo na sua afirmação mais conhecida, ao definir os direitos básicos do Ser Humano como ,“a vida, a liberdade e a busca pela felicidade”.
“Eu sonho com um dia ser feliz com aquilo que faço”. Escrevi, em tempos. À partida, um objectivo simples, mas difícil de alcançar. Contudo, esse deve ser o propósito principal quando nos deparamos com a possibilidade de melhorarmos a nossa vida, de mudar de emprego, de cidade e de país, ou até mesmo, de voltar a estudar.
A criança sonha, o jovem constrói, e a obra nasce. Existe um sonhador em cada um de nós. Não o devemos calar. Não o devemos esquecer. Podemos adiá-lo, por força das circunstâncias e das nossas próprias prioridades, mas nunca o podemos esquecer.
Todos somos sonhadores. Mas nem todos sabemos sonhar.
A ambição desmedida, e os sonhos irreais, são a receita para o insucesso. O segredo está em conhecermo-nos a nós próprios. Até ao mais ínfimo pormenor. Os nossos defeitos. As nossas mais-valias. Aquilo que nos dá prazer, e aquilo que sabemos fazer melhor que ninguém.
Aquilo que sabemos. Que desconhecemos. Que queremos conhecer. Aquilo que nos torna únicos. Não a nossa vocação, mas sim a capacidade de adequar o nosso sonho à fatia da realidade, que nos fará mais felizes.
Ainda existem sonhadores? Sim. Cada um à sua maneira. Sonhamos com carreiras, com famílias, com amizade e com amor. Traçamos os nossos objectivos e procuramos alcançá-los. O dia em que deixamos de sonhar, é o dia em que deixamos de viver.
Todos temos um sonho. De que espera para construir o seu?