Emanuel Silva e Fernando Pimenta, Medalha de Prata na prova K2 1000 metros (Canoagem) |
Chegados ao fim dos Jogos Olímpicos de Londres está na hora de fazer as devidas despedidas e de guardar as bandeiras do olimpismo até 2016. Como adepto de desporto e não apenas de futebol entristece-me ver os comentários dos leigos de bancada que criticam fervorosamente os atletas portugueses. Ao contrário do que a maioria de vocês pode retirar desta frase, eu até apoio que comecemos a exigir mais dos nossos atletas. Um dos primeiros passos para a vitória é a exigência de qualidade.
Recordo-me de em 2009 estar a ver a final do triplo salto nos Mundiais de Atletismo. O Nélson Évora, campeão olímpico, defendia o título mundial obtido em 2007. Nunca nenhum atleta na história do triplo salto tinha conseguido se sagrar bicampeão do mundo. Enquanto assistia à prova, que terminou com a medalha de prata para Nélson Évora, reparei que os poucos adeptos que estavam a assistir estavam a apoiá-lo com uma forte confiança de que ele seria capaz de alcançar esse feito inédito. Quando tal não se concretizou, limitaram-se a dar os parabéns e a festejar efusivamente como se de uma vitória se tratasse. Eu critiquei-o e disse que ele tinha obrigação de fazer melhor. Por esse comentário fui vítima de uma inconsequente perseguição. Embora reconheça o mérito do atleta português, assim como o do britânico que se sagrou campeão do mundo nesse ano, não concordo com a atitude de celebrar as pequenas vitórias morais. Temos que ser exigentes com os nossos atletas para que eles sejam exigentes com eles próprios de forma a motivá-los para irem mais longe daquilo que eles pensam que são capazes de alcançar.
Mas de regresso ao fenómeno dos Jogos Olímpicos. Ao contrário das últimas edições, nesta não eramos favoritos a nenhuma medalha. O mais natural teria sido sair de Londres de mãos a abanar. Mas graças ao esforço e dedicação de Emanuel Silva e Fernando Pimenta, conseguimos uma medalha de prata, a primeira na história da canoagem portuguesa. Mas a história da participação portuguesa nestes Jogos Olímpicos não se resume apenas a esta medalha. Vimos uma selecção de ténis de mesa a chegar aos quartos-de-final e a discutir de igual para igual com uma das principais selecções do mundo nesta modalidade. Só não chegámos às meias-finais por uma nesga de sorte. A vela, o atletismo e novamente a canoagem lograram-nos vários diplomas olímpicos (prémios atribuídos a atletas que se classificaram entre o 4.º e o 8.º lugar de uma competição). Batemos recordes nacionais na natação, vimos o Rui Costa a lutar por uma medalha no ciclismo, mantendo-se sempre na frente da corrida ao longo da prova. Ficámos em 23.º lugar na nossa primeira participação no BTT quando o mais optimista dos apostadores dizia que o David Rosa nem sequer ia ser capaz de terminar a prova. Sim, o Judo foi uma desilusão. Tínhamos a obrigação de fazer melhor e não conseguimos. Mas fora isso, tendo em conta as ausências de alguns dos nossos melhores atletas como o Nélson Évora, a Naide Gomes e a Vanessa Fernandes, levar de Londres o 69.º lugar e uma medalha de prata já é muito bom.
Contudo, em todos os Jogos Olímpicos levanto uma questão: Onde estão os nossos desportos colectivos? Aceito que o nosso basquetebol, andebol e voleibol ainda estejam a crescer e que o nosso pólo aquático e hóquei em campo sejam demasiado amadores para aspirar ao brilho olímpico, mas então e o futebol? Somos um país de futebol não somos? Que é feito dos nossos sub-21? Porque é que desde 2004 não somos capazes de nos classificar para um campeonato europeu que dê acesso aos Jogos Olímpicos? Ou melhor, porque é que quando nos classificamos não conseguimos alcançar um dos lugares de acesso? Embora o futebol, tal como o ténis, seja um dos desportos olímpicos que geralmente passa ao lado das grandes estrelas da modalidade, não devia ser isso uma motivação para os nossos jogadores quererem participar? Deixamos selecções de menor gabarito levar medalhas enquanto ficamos em casa a preparar as pré-épocas dos clubes quando podíamos estar a lutar pela glória do pódio olímpico.
Se em muitas modalidades ainda não temos estaleca para exigir títulos, porque não o fazemos com o futebol?
Mas o verdadeiro grande problema é o facto de que passada esta fase de euforia após o final dos jogos, não voltaremos tão cedo a ouvir falar de canoagem, de ténis de mesa, de vela ou de judo. Volta e meia talvez vejamos uma notícia ou outra sobre atletismo e quanto ao ciclismo há sempre a Volta a Portugal e o Tour de France. Já o BTT também vai continuar na gaveta até 2016. Isto não pode continuar assim. Temos que ser exigentes com os nossos atletas mas também com a comunicação social e com nós próprios. Dizem-se adeptos de desporto? Não se limitem a ver apenas os jogos do nosso campeonato de futebol, vejam atletismo, andebol, voleibol, basquetebol, natação, ciclismo, judo. Vejam ténis de mesa! Apoiem os nossos atletas olímpicos. Do voleibol de praia ao hóquei em campo, apoiem mesmo aqueles que à partida não vão conseguir se qualificar. As melhores histórias são feitas de underdogs, dos pequenos que passavam despercebidos mas que conseguiram alcançar a glória. E não é melhor estar lá a acompanhá-los desde o início em vez de comemorar as medalhas após o acto?
Não deixemos que o fim destes jogos signifique um “adeus, até 2016” para as modalidades. Apoiem o desporto português, dediquem-se às modalidades, parem de dar apenas atenção ao futebol. Exijam mais do nosso desporto e verão que os resultados vão surgir o quanto antes. Acreditem nos nossos atletas e consumam desporto como especialistas e não como meros leigos de bancada.
Para muitos Londres 2012 é um adeus, para mim é um até já.