Wednesday, December 02, 2015

The Man in the High Castle

Imagem DR
A weird time in which we are alive. We can travel anywhere we want, even to other planets. And for what? To sit day after day, declining in morale and hope.

Philip K. Dick, The Man in the High Castle

Sou um ávido consumidor de séries. Durante anos a minha lista de episódios semanal, entre sitcoms, séries e anime ultrapassava confortavelmente os dois dígitos. Encontrava tempo em todos os intervalos que tinha. Quando chegava a casa, depois do jantar e, se necessário, sacrificava uma ou duas horas de sono para me manter a par dos mais recentes desenvolvimentos.

Hoje, o meu tempo é muito mais escasso, e esses intervalos são bem mais curtos. Ainda tento manter-me a par das poucas séries que sobreviveram ao passar dos anos, mas à medida que estas são canceladas ou que simplesmente chegam ao fim, em vez de as substituir por algo novo, deixo um espaço vazio, preenchido por algo mais urgente.

Por este motivo, são raras as séries novas que consigo acompanhar. Por vezes, durante as férias, num fim-de-semana mais livre, ou numa noite mais longa, consigo recuperar algum do tempo perdido e dar uma olhadela nas sugestões mais recentes. Foi isso que aconteceu este fim-de-semana.

Pela primeira vez em algum tempo senti a necessidade de ver uma série inteira de uma só vez. Simplesmente não consegui parar. Embora a primeira temporada tenha apenas dez episódios, cada um tem a duração de uma hora. Dez horas. Foram dez horas partilhadas entre sábado e domingo, dedicadas apenas a esta série. Dedicadas à história de Frank e Juliana, de Joe e Smith, num Universo paralelo onde as forças do eixo saíram vitoriosas da Segunda Guerra Mundial. É esta a premissa de The Man in the High Castle.

Inspirada no livro homónimo do autor norte-americano Philip K. Dick, The Man in the High Castle é um olhar alternativo da História Mundial, através de um paralelismo ideologicamente inverso de uma Terra dividida ao meio entre duas superpotências, a Alemanha Nazi, genocida e tecnologicamente evoluída, e o Império Japonês, a desfolhar um leve princípio liberal mas tradicionalmente opressor.

Embora nos sejam oferecidos alguns aperitivos sobre como este novo Mundo é desenhado para lá das fronteiras dos EUA, a história desenrola-se quase inteiramente em três cidades norte-americanas, Nova Iorque, São Francisco e Canon City. Neste Universo os EUA foram divididos em três, o Grande Reich Nazi no lado este, os Estados Pacíficos Japoneses no lado oeste, e uma zona neutra conhecida como a União dos Estados Americanos Livres. Este terceiro não é mais que um país fantoche do Governo Nazi, uma “buffer zone” entre os dois impérios, uma zona sem lei, patrulhada por Marshalls, muito ao estilo do Velho Oeste.

Um Mundo alternativo, envolto por uma profunda carga negativa, expressa numa bela cinematografia, fria, carregada, enfim, adequada ao pesar que duas forças governadas por ideais malignos impõe sobre a pouca população que resta após vagas constantes de opressão, genocídio e lavagem cerebral.

The Man in the High Castle segue a história de um grupo de pessoas presas neste Universo. Uma série de películas começam a surgir com imagens da nossa História, dos eventos que não aconteceram neste Mundo. A vitória dos Aliados, a capitulação da Alemanha Nazi e do Império Japonês, a divisão da Alemanha, e o crescimento da União Soviética. Um grupo de resistentes tenta juntar estas películas com o objectivo de retaliarem contra as forças opressoras e, assim, recuperarem um Mundo que nunca viveram mas que é seu por direito.

Algumas componentes de Fringe, uma das minhas séries preferidas, surgem pontualmente, à medida que a narrativa se desenrola. Mas quem está à espera de ver o Peter e a Olivia a entrarem em acção para salvar o dia, ou o Walter a comer alcaçuz, desenganem-se. Não há espaço para comédia, luz, ou esperança neste Universo sombrio. Esta é uma série profunda, pesada. Uma história que durante os próximos dias vai ocupar os teus pensamentos, os teus sonhos. Uma série que te faz pensar. Uma série que tão cedo não vais esquecer.

O clima cinzento e deprimente põe em alerta os teus mecanismos de defesa. Por momentos podes sentir-te tentado em imaginar o Marty McFly e o Doc a aterrarem o seu DeLorean no meio de Times Square para reporem a linha do tempo original. Mas esse pensamento fugaz será efémero, pois durante os sessenta minutos de cada episódio, nada mais será capaz de prender a tua atenção. Não há como fugir ao Universo de The Man in the High Castle.

Aguardo ansiosamente pela segunda temporada desta série. Algo que pode nunca chegar a ver a luz do dia devido à polémica campanha de marketing desempenhada pelo estúdio produtor da série. Talvez colocar símbolos Nazis e do velho Império Japonês em metros e paragens de autocarro norte-americanos não sejam a melhor estratégia para publicitar o vosso produto. Especialmente quando o público ainda desconhece o conteúdo da série.

Polémicas à parte, The Man in the High Castle vale cada segundo das dez horas que compõe a primeira temporada. Desde a terrorífica música de abertura, aos pins da lapela dos oficiais das forças do eixo. É nos pormenores que esta série constrói a sua história. Na grandiosidade de um Universo Alternativo, de uma América dividida, de um Mundo em chamas, de um futuro sem esperança.

The Man in the High Castle merece todos os elogios. Uma narrativa cuja profunda qualidade tão cedo não sairá da nossa memória colectiva.

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