Thursday, July 23, 2015

Dez Anos de Super Bock Super Rock

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I would like a place I could call my own. Have a conversation on the telephone. Wake up every day that would be a start, I would not complain of my wounded heart.

New Order, Regret

New Order, Moby, Klaxons, Bloc Party, Arcade Fire, Crystal Fighters, Florence + The Machine. 2005, 2007 e 2015. Dez anos depois da primeira vez, e após oito anos de ausência, regressei ao Super Bock Super Rock. Um dos festivais portugueses mais icónicos, embora actualmente seja vítima da maior popularidade do NOS Alive, continua a conseguir trazer alguns dos grandes nomes da música internacional a um Festival de Verão que não parou de crescer desde os primeiros acordes tocados em 1990, um ano tão próximo e, ao mesmo tempo, já tão distante.

A minha primeira visita ao velho Parque Tejo em Loures começou a ganhar forma a partir do momento que anunciaram os New Order, uma das, se não mesmo, a minha banda preferida. Para quem me conhece, os New Order são sinónimos de mim próprio. Como podia perder o seu primeiro concerto em Portugal após vinte anos de ausência? Foi, também ele, um dos últimos concertos que os New Order deram ainda juntos, antes de Peter Hook se separar dos restantes membros por questões que apenas a eles lhes pertencem.

Nesse ano fui com o meu pai, aguardei ansiosamente à beira Tejo, a levar com o frio e a já habitual poeira durante horas. Por concertos dos Loto, de The Hives, Black Eyed Peas e Turbonegro, até que, enfim, a banda que eu tanto aguardava entrou em palco. Cantei cada música até ficar sem voz, e o melhor momento chegou quando o Bernie perguntou ao público que música queriam ouvir e gritei Regret o mais alto que pude. Não sei se ele me ouviu, ou se foi uma coincidência que já constava na setlist, mas foi essa mesmo que eles tocaram. Não podia ter saído mais feliz daquele concerto. Ainda hoje guardo religiosamente a T-Shirt, sem nunca a ter lavado, da Blue Monday que usei nesse dia, assim como o bootleg deste concerto que um colega brasileiro me conseguiu arranjar.

Em 2007, regressei ao Parque Tejo, desta vez mais organizado, e com bilhetes acima dos vinte e cinco euros que paguei pelo meu primeiro ingresso. Fui com um grupo de colegas da faculdade que conseguiram arranjar bilhetes com oferta da viagem de comboio. Ficámos grande parte do dia mesmo em frente às grades, com excepção do concerto dos The Gift, o qual aproveitámos para jantar enquanto esperávamos pelos cabeça de cartaz, Bloc Party e Arcade Fire. Foi um dia desgastante, mas com concertos épicos que ainda hoje guardo na minha memória. A exaustão levou-me até a afastar-me um pouco da multidão durante o encore de Arcade Fire, pois o cansaço do dia e a pressão de estar tão próximo das grades durante todas aquelas horas, fizeram-me atingir os limites da resistência.

Nos últimos oito anos, por diversas vezes pensei em voltar, contudo, a falta de tempo, de dinheiro, ou a pouca qualidade do cartaz, mantiveram-me afastado. Este ano fiz a promessa ao Paulo de que iríamos ao Super Bock Super Rock ver Florence + The Machine. Comprei os bilhetes e, no passado sábado, partimos logo pela manhã em direcção a Lisboa. Chegámos por volta da uma da tarde, e encontrámos estacionamento com alguma facilidade. Um problema que julgávamos complicado de resolver, mas que assim não o foi.

Entrámos no festival por volta das cinco da tarde. Explorámos as atracções promocionais do costume, aprendi a reciclar as caixas de cereais no ecoponto azul e assistimos ao concerto de Márcia sob a pala do Pavilhão de Portugal. Após um rápido jantar, repartido entre panados, sandes e folhados, feitos pela minha mãe, procurámos por um lugar nas bancadas da Meo Arena. O Rodrigo Amarante fez um concerto calmo, ao seu estilo, para uma multidão de poucos milhares. Seguiu-se a grande surpresa da noite, Crystal Fighters. Uma banda que até então era para mim desconhecida, mas que, com uma enorme energia e uma onda de positivismo típico da sua ideologia hippie, fez um grande espectáculo que me deixou profundamente impressionado.

Franz Ferdinand não trouxe nada de novo. Nunca mais era uma da manhã para ver Florence a entrar em palco. Mal os adeptos do afamado arquiduque se ausentaram, eu e o Paulo procurámos um lugar por entre a multidão apeada, no peganhento chão da Meo Arena. Florence fez-nos esperar ainda mais um pouco até à sua grande entrada em palco. Do concerto retenho cada momento. De gastar toda a minha energia na Shake it Out, de absorver cada letra do novo álbum, cuja estreia guardei para este mesmo concerto, e de toda a onda de positivismo, e das loucas correrias de Florence para junto dos fãs. Dos abraços e beijos que alguns tiveram a sorte de partilhar com a vocalista, enfim, de tudo aquilo que fez com que este concerto, este festival, e esta viagem valessem a pena.

Um dia vou regressar a este festival que, nos últimos dez anos, já me trouxe grandes momentos de euforia, sempre aliados a épicos concertos de bandas que conquistaram o seu espaço na minha playlist, na minha montra de CDs ou no meu gira-discos.

Super Bock Super Rock, 25 anos de música. 25 anos de História.

Tuesday, July 21, 2015

A Hora de dizer Basta já passou há muito

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The children now love luxury; they have bad manners, contempt for authority; they show disrespect for elders and love chatter in place of exercise. Children are now tyrants, not the servants of their households. They no longer rise when elders enter the room. They contradict their parents, chatter before company, gobble up dainties at the table, cross their legs, and tyrannize their teachers.

Autor Desconhecido, Comummente atribuído a Sócrates, Platão ou Aristóteles

Há uma ténue resistência sobre aquilo que é perceptível como necessário, e aquilo que não passa de nada mais que um excessivo acumular de subtis abusos. Em Portugal é aplaudido o trabalhador que fica para lá da hora, o workaholic, aquele que chega antes de toda a gente e que sai o mais tarde possível, mesmo que estas horas extra não impliquem a devida compensação salarial, que nos últimos anos, aceitámos que deixasse de ser um direito, para passar a uma luxúria compensação raramente prevista em qualquer contrato.

Enquanto por cá abominamos a austeridade e permitimos que abusos semelhantes a este nos sejam impostos, ano após ano, nos mais ínfimos detalhes da nossa vida laboral, nos países que hoje governam aquela que devia ser uma União Europeia, e não uma Regência Económica, nada disto acontece. Tomemos a Alemanha como exemplo. Lá, um trabalhador que fique para lá do horário de trabalho é visto como incompetente. Alguém que não foi capaz de terminar as suas tarefas dentro do horário que a ele lhe foi concedido. Contudo, se por um motivo de força maior, este mesmo trabalhador tiver que forçosamente ficar para lá da hora de saída, é compensado devidamente pelas horas extra que lhe foram adjudicadas.

Cá, quem consegue um contrato de trabalho, algo que além de estágio profissional ou bolsa, seja ela de Gestão de Ciência e Tecnologia, ou de Investigação, nunca tive o “privilégio” de assinar, tem direito a alguns benefícios que embora sejam diferentes de empresa para empresa, assentam numa base comum. Descontos para o IRS e Segurança Social, Seguro de Acidentes de Trabalho, Seguro de Saúde, Subsídio de Alimentação, Subsídio de Férias e 13.º mês. Ao contrário do que a propaganda capitalista europeia tenta transmitir o 13.º mês não é um extra desnecessário, mas sim uma compensação pelos meses com cinco semanas que todos os anos criam disparidades entre quem recebe à semana e quem recebe de mês a mês.

Alguns ainda têm a sorte de ver as horas extras compensadas, seja com folgas, ou de forma remuneratória. Existem outros subsídios, tais como os subsídios de deslocação e incentivos para a habitação caso um novo empregado se veja forçado a sair da sua terra de origem. Claro que estes extras são muito raros de encontrar, e eu pessoalmente não creio conhecer alguém que os tenha, embora saiba que estes são aplicados por algumas empresas.

Com o passar do tempo, permitimos que estes direitos nos fossem retirados, pouco-a-pouco, de uma forma natural, aceitando de olhos vendados a necessidade dos mesmos, e que estes seriam apenas temporários. Contudo, o que vemos hoje são estágios não pagos, recibos verdes, trabalho precário, trabalhadores full-time com salários abaixo do salário mínimo, salários em atraso, cortes inesperados, e condições abaixo do mínimo recomendável.

Deixámos que isto acontecesse porque não soubemos dizer não, porque não nos impusemos contra estes roubos constantes, porque ignorámos a situação, porque isto só acontece aos outros, porque cedemos às necessidades em vez de nos impormos contra um dos maiores golpes laborais que esta geração alguma vez sofreu. Pois “se tu não aceitas, há sempre alguém para ocupar o teu lugar”. Este é o pior argumento que alguma vez alguém podia dar, mas a verdade é que esse “alguém” imaginário existe, e vai sempre sujeitar-se, seja por ingenuidade, seja por falta de soluções. Algo que não pode acontecer, algo que nunca devia ter acontecido.

Infelizmente, parece-me que já é tarde para mudar grande parte do mal que já está feito. Contudo, isto não significa que este caminho se torne irreversível. Emigremos se assim for, pois merecemos viver e não apenas sobreviver. Que se inicie o movimento do “Não”, e que aqueles que insistem em dizer “Sim”, sejam ajudados e instruídos para não ajudarem a alimentar um golpe que apenas alimenta os bolsos de alguns e que nos mantêm como meros instrumentos numa engrenagem neo-liberal de perpétua precariedade.

Não é difícil descortinar as soluções para este problema de fuga de cérebros e baixa empregabilidade. O caminho passa pela fiscalização das empresas com funcionários em situações irregulares e incumbir fortes coimas por cada caso de incumprimento. É necessário investir no emprego, através de incentivos às empresas, públicas e privadas, aumentar o salário mínimo, os subsídios e os direitos dos trabalhadores. Criar investimento de fundo perdido para empreendedores com projectos estratégicos, ou com potencial para singrarem no mercado nacional e internacional. Promover incentivos à natalidade. Subir os valores das bolsas de Investigação e de Gestão de Ciência e Tecnologia para valores adequados à realidade actual, impor-lhes o mesmo regime de IRS e de Segurança Social que os restantes trabalhadores, e tratar os bolseiros com os mesmos direitos e deveres que outro qualquer funcionário público.

Para que estas medidas tenham efeito é necessário investir. Ignorar o défice durante um período suficiente para que os níveis de desemprego desçam e o poder de compra aumente. Tornar Portugal num país atractivo não apenas para os nossos jovens, mas também para outros europeus que vejam o potencial que temos para oferecer. Criar uma política de solidariedade fiscal europeia, com Segurança Social Comum, Serviços Universais de Saúde Comuns, Salários Mínimos Comuns e Subsídios de Desemprego Comuns. Partilhar a dívida entre os estados, enquanto aqueles que como Portugal, desenvolvem as suas estruturas e criam o caminho necessário para manter um mercado de trabalho móvel, inovador e atraente.

É uma ideia difícil de vender para quem já vive em países onde tudo isto não passa do mínimo exigível no seu dia-a-dia, para os políticos de extrema-direita, e para os capitalistas neo-liberais que apenas vêem cifrões à frente dos olhos. Contudo, convido todos os europeus a virem cá, a visitarem a Grécia, a Irlanda, Espanha, Itália e Islândia. Mas não nos visitem como meros turistas. Falem com o povo, conheçam a realidade do interior, das cidades pequenas, das famílias de classe média que mal conseguem manter as prestações do empréstimo à habitação, das famílias numerosas com agregados que não chegam sequer aos mil euros mensais. Analisem todos os casos, não como números, mas como pessoas reais, e olhem com atenção para a austeridade que defendem. Depois de tudo isto vão continuar a defendê-la?

Olhemos para a Grécia como um exemplo da insurgência e da necessidade revolucionária contra uma União Europeia regida apenas por interesses monetários. Portugueses, unam-se como um povo, como europeus, deixem os vossos confortáveis sofás, e saiam à rua, não para passear, mas sim em protesto real. Exijam aquilo que é vosso por direito, e batam o pé a estas políticas de espezinhamento que tão ao de leve deixámos entrar nas nossas vidas, sem sequer questionarmos o mal que isto nos podia trazer.

Somos Portugueses. Somos Europeus. Somos Jovens. Queremos a oportunidade de nos afirmarmos no mercado de trabalho. A oportunidade de mostrarmos aquilo que valemos. E a oportunidade de o fazermos dentro ou fora de portas. Queremos ser nós próprios. Deixem-nos mostrar-vos o quão melhor podemos fazer este Mundo. Não nos cortem as asas à nascença.

Eu irei voar. E tu?

Thursday, July 16, 2015

Curta Diferença Geracional

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A criança portuguesa é excessivamente viva, inteligente e imaginativa. Em geral, nós outros, os Portugueses, só começamos a ser idiotas - quando chegamos à idade da razão. Em pequenos temos todos uma pontinha de génio.
Eça de Queiroz, Cartas de Inglaterra

Quando pensamos nos velhos tempos da escola primária, lembramo-nos dos tempos passados no recreio. Das amizades que se perderam. Das brincadeiras, das correrias para casa para ver os desenhos-animados, das idas à praia, das visitas de estudo, e da falta de preocupações. De um tempo em que o mais importante era brincar, crescer, e encontrar felicidade nas pequenas coisas do dia-a-dia. No doce que a tua avó te oferecia, no novo brinquedo que recebias, ou na lata que servia de bola nos intervalos.

As calorosas recordações que guardo destes tempos, preenchem o meu coração com um profundo saudosismo e fazem-me sorrir. Lembro-me de ir de comboio à feira de Espinho com a minha avó, e de ela me oferecer um guarda-chuva de chocolate naquela pastelaria da esquina da Rua 19. Dos carrinhos que a minha mãe me trazia do Porto quando chegava tarde do trabalho. De desfilar vestido de Computador de cartão no Carnaval das escolas, de ir à catequese na minha bicicleta verde. De fazer sopas com ervas colhidas na casa da minha tia-avó. De brincar aos Power Rangers com os meus amigos, e ser sempre o azul. Da exposição sobre Dinossauros que ajudei a organizar na minha escola em que todos os meus colegas participaram ao desenhar cada um, um dinossauro diferente. Lembro-me de ver o Dragon Ball, os Popples, os Ursinhos Carinhosos, o Em Busca do Vale Encantado. De não deixar passar um sábado sem gastar as quatro cassetes do Vale Encantado, desde o original até ao quarto. De brincar com dinossauros, legos, carrinhos. De aprender a jogar xadrez. De jogar monopólio com os meus pais. E daquela garagem que recebi no Natal e que parti quando tropecei em cima dela. Enfim, dos momentos felizes que marcaram a minha infância.

Lembro-me que a ideia de crescer sempre foi algo que não me agradou, queria continuar a ser criança, a usar a minha imaginação, e a brincar. Não queria parar de brincar só porque tinha de crescer. No fundo do meu coração desejava ser uma espécie de Peter Pan. Eternamente jovem. Eternamente feliz.

Há uns anos tive uma discussão com uma colega de curso sobre a diferença geracional que existia entre a minha geração, e a das pessoas dois anos mais novas que eu. O argumento dela era que uma diferença geracional não podia ser definida dentro de um espaço de tempo tão curto. Embora de um ponto de vista sociológico me veja forçado a concordar com ela, a verdade é que houve muitas, talvez pequenas, mas muitas diferenças entre as pessoas que nasceram no mesmo ano que eu, e as gerações que se seguiram.

Na minha escola primária nós não frequentávamos o 1.º Ciclo, nem o primeiro, segundo, terceiro ou quartos anos tinham esse nome. Eramos alunos da escola primária, da primeira à quarta classe. Tínhamos um crucifixo por cima do quadro de ardósia, e todas as manhãs, mal a Professora chegava, levantávamo-nos das secretárias e rezávamos uma Avé Maria antes de a aula começar. Quem não fazia o trabalho de casa, ou quem fosse mal comportado, levava uma reguada e ficava sem recreio. Prática que se extinguiu pouco tempo depois de eu ter avançado para o 5.º ano, mas que ainda hoje defendo. Apesar de tudo, quando bem aplicada, um pouco de disciplina apenas ajuda uma criança a crescer, e não o contrário. Nós respeitávamos a nossa Professora, não pelo medo da dor de levar uma reguada, mas pela pessoa em si, e pela forma como nos ensinava as bases responsáveis por sustentar o nosso conhecimento, e o nosso crescimento, como estudantes e como pessoas.

Já nos tempos do liceu, actual secundário, enquanto eu era uma espécie de proto-hipster que gostava de bandas pouco populares e que tiveram o seu auge nos anos 70/80 ou inícios da década de 90, como New Order, Joy Division, Happy Mondays, Sex Pistols, The Doors, The Smiths, Pink Floyd, The Cranberries e Nirvana, a maioria dos meus colegas limitavam-se a seguir a música pop da altura e o hip-hop banal sem qualquer mensagem ou sentido profundo.

Enquanto eu lia Stephen King, Saramago, Pessoa, Arthur Conan Doyle e Oscar Wilde, eles deixavam-se adormecer nas aulas de Português e mostravam pouco interesse pelas experiências literárias que lhes eram ali apresentadas.

Tive o meu primeiro computador aos oito anos, um Pentium 100 sem ligação à Internet. Apenas o usava para brincar com o paint, escrever algumas coisas em Word, e jogar alguns jogos. Nunca fui grande fã de jogos de vídeo. Tive uma Sega Master System II e uma Playstation, mas raramente as usava, sempre preferi jogos de tabuleiro e desportos. Gostava de nadar e de fazer bodyboard, e cheguei mesmo a tentar implementar uma rotina semanal para jogar jogos de tabuleiro com a minha família, mas não pegou. Neste aspecto faltou-me sempre ter amigos mais próximos que pudesse convidar para irem lá a casa, ou um irmão/irmã, que se interessasse por este tipo de coisas.

Tinha 15 anos quando recebi o meu primeiro telemóvel, e mesmo nisso fui algo precoce. Tive que esperar por 2004 para enfim ter ligação à Internet de banda larga. Passei pelos chats do aeiou, pelo mIRC, pelo MSN Messenger, pelo hi5 e pelo MySpace. Aprendi a fazer contas aos escudos e não aos euros, fui à Expo 98, e fiquei admirado como uma exposição em Lisboa podia rivalizar com o tamanho da minha própria cidade.

Enfim, tudo isto, coisas que evoluíram a um ritmo alucinante nas últimas duas décadas e que para quem nasceu dois, três, ou quatro anos mais tarde, já faziam parte da História quando começaram a reconhecer o Mundo que as rodeava. Por não terem passado por isto, por não terem vivido estes momentos, ou por estes não passarem de vagas recordações na mente de uma criança de oito ou seis anos, por tudo isto, é que, para mim, existe uma grande diferença geracional, visivelmente vincada nos comportamentos e na forma de pensar daqueles que nasceram poucos anos depois de mim, mas que não passaram por o mesmo que eu.

Hoje, ser fã de Joy Division é quase um lugar-comum, contudo, no meu tempo era apenas e aqueles que tinham efectivamente vivido a Madchester e a era dourada da Factory Records enquanto esta estava a ocorrer. Para mim, foi preciso esperar pela faculdade para encontrar alguém com gostos musicais, literários e artísticos semelhantes aos meus. Pessoas com uma cultura musical muito mais avançada do que eu podia imaginar para alguém da minha idade, e outros exemplos que facilmente se difundiram nos anos que se seguiram, muito graças à crescente facilidade no acesso à Internet.

Com isto não quero afirmar que a minha geração é melhor que aquelas que se seguiram. Só pretendo vincar esta clara diferença geracional que talvez apenas aqueles que estão do meu lado conseguem ver de forma clara. A verdade é que quem nasceu depois de nós, quem não viveu as mesmas experiências, quem não presenciou a evolução da sociedade e da tecnologia, que nós presenciámos, toma hoje como garantido muitas coisas que nós sempre valorizámos. E isto reflecte-se na forma como encaram a vida, e aqueles que os rodeiam.

Não somos melhores, ou piores. Não existe certo, ou errado. Apenas duas gerações diferentes, semelhantes em certos aspectos, e muito próximas nas idades, mas distintas nos pormenores. Distintas naquilo que, por mais pequeno que seja, faz muita diferença.