Thursday, December 18, 2014

Em Comum

Imagem DR
A friend should be one in whose understanding and virtue we can equally confide, and whose opinion we can value at once for its justness and its sincerity.
Robert Hall

Convivemos com, essencialmente, quatro tipos de pessoas. Aquelas que seguem as nossas recomendações, aquelas que embora não o façam no imediato eventualmente acabam por o fazer, aquelas que as ignoram mas que as acabam por descobrir por mero acaso, e aquelas que apenas as seguem depois de outra pessoa as ter recomendado.

Todos conhecemos alguém que se encaixa numa destas categorias. Dentro do nosso grupo de amigos, entre os familiares mais próximos, assim como nos colegas de trabalho, e nos conhecidos com quem partilhamos certos aspectos da nossa vida.

O que faz alguém aceitar a tua opinião ou seguir alguma sugestão, seja ela um destino de viagens, um livro, um filme, ou uma banda, parte do tipo de relação que essa pessoa partilha contigo. Do respeito que nutre, ou não, por ti. Do reconhecimento do teu “bom gosto”, ou de uma partilha de interesses em comum.

Nem sempre foi fácil encontrar alguém que partilhe dos mesmos gostos que nós. A internet e as redes sociais, hoje em dia, facilitam a disseminação e a partilha de conhecimento. Fenómenos que antes eram vistos como obscuros, ou restritos a um determinado nicho, podem hoje ressurgir e tornarem-se facilmente populares, bastando para isso que alguém com um certo grau de influência sobre os seus pares o partilhe.

Quando andava no liceu, não conhecia ninguém com quem pudesse falar sobre música, livros, filmes, séries, ou outro qualquer elemento cultural, que não aqueles que faziam parte da cultura pop da altura. “Ninguém vê o Em Busca do Vale Encanto, ninguém ouve New Order, e ninguém gosta da Primavera.” Durante meses mantive esta frase no meu Messenger, era o meu protesto silencioso contra a falta de alguém com quem falar sobre as coisas que mais gostava.

Com o passar dos anos a situação mudou, e hoje é raro encontrar quem não goste, ou quem não tenha pelo menos ouvido falar da maioria das coisas que eu gosto. Contudo, há agora uma diferença. Enquanto no passado seguir uma recomendação de alguém implicava algum investimento, gastos em deslocações e, por vezes, dias inteiros dedicados a essa demanda cultural, hoje basta uma simples pesquisa num motor de busca e alguns minutos do teu tempo.

Esta redução do custo de investimento e de consumo de bens culturais, que são hoje, na sua maioria, gratuitos e disponíveis online, fez com que o paradigma da interacção, e da partilha desses mesmos bens dentro do nosso grupo de amigos, passasse a ser encarado de outra forma.

Enquanto há poucos anos aceitava-se que alguém não pudesse comprar um álbum, ou ir ao cinema, hoje essa questão já não se coloca. Sim, existe conteúdo pago, e ir ao cinema nunca foi tão caro, contudo, e sem querer entrar no ramo da pirataria, hoje existem inúmeras formas legais para ver um filme, uma série, ou ouvir música, de forma gratuita.

Uma amizade, ou outra qualquer relação, não é definida pela partilha de gostos em comum, embora estes possam ter sido a base que a susteve numa fase inicial. Contudo, a dinâmica com que alguém lida com uma recomendação tua, diz muito sobre certos aspectos da vossa interacção. Desde o respeito, ao reconhecimento do quão bem essa mesma pessoa te conhece. Aspectos esses que se estendem à avaliação da qualidade da tua crítica, e da tua própria opinião.

Não me vejo como um líder de opinião, nem tão pouco defendo que os meus gostos sejam superiores aos de qualquer outra pessoa. Não os procuro impor, e apenas os partilho quando algo me apaixona, ou quando acho que essa pessoa pode também vir a gostar.

Contudo, não há sensação pior que ver alguém agradecer a outro por algo que tu próprio lhe recomendaste. Num Mundo cheio de informação, os filtros são necessários, mas, por vezes, é descabido não reconhecer um simples gesto de partilha.

Procuro sempre seguir as recomendações de quem perdeu algum do seu tempo para as partilhar comigo. Não sou um líder de opinião, mas sugiro que também o façam. Quem sabe todo o Universo de novas paixões, experiências e aventuras que estão a perder só porque escolheram ignorar a sugestão de alguém. É tão fácil como carregar em Play.

No comments: