Wednesday, September 24, 2014

A Bicicleta Cinzenta

Foto DR
Ainda sinto nas minhas costas o calor daquela tarde de Julho. Era 2005 e estava ansioso para estrear a minha nova bicicleta. Saí de casa pouco depois das duas da tarde. Partia em direcção à Torreira com pouca, para não dizer nenhuma, noção da distância que me separava do meu destino. Lancei-me à estrada com alguma água, mas sem protecção do Sol, e com uma roupa inadequada para este trajecto.

Comprei a minha bicicleta numa superfície comercial que entretanto fechou e voltou a abrir. Na altura, em vez de uma livraria, o espaço era ocupado por uma loja de electrodomésticos. Tinha um pequeno orçamento e estava disposto a poupar o máximo possível. Tinha apenas duas opções, uma bicicleta de montanha básica, cinzenta, e outra em tons de vermelho com suspensões nas rodas da frente e ligeiramente mais cara. Nenhuma das duas era adequada para andar na estrada, mas estava longe de poder investir numa que o fosse.

Acabei por escolher a cinzenta, e usei o dinheiro que me restou para comprar um DVD, uma edição especial de um dos meus filmes preferidos. Aguardei alguns dias antes de fazer a sua viagem inaugural. Podia ter escolhido um trajecto mais simples, e mais curto, mas não o fiz. Podia ter ido à praia, ou apenas passeado pelo centro. Não. Escolhi fazer um percurso de vinte quilómetros, sem qualquer preparação, e durante as horas de pior calor. Era, claramente, um adolescente imprudente.

Até à rotunda que ligava à estrada da Ria, o meu percurso apresentou-se banal e sem qualquer incidente. Ou não o tivesse já feito incontáveis vezes ao longo da minha vida. Mas os cerca de cinco quilómetros que separam aquela rotunda da minha casa, em nada faziam adivinhar o que viria a seguir. Três quartos de um caminho ainda por percorrer, repletos de longas rectas infinitas, com pouca ou nenhuma sombra onde me abrigar, acolhidas por um calor infernal, apenas apaziguado pela ligeira brisa que atravessava as calmas águas da Ria.

A cada pedal que dava, parecia estar mais longe do meu destino. O cansaço não tardou a tomar conta de mim. Foram incontáveis as paragens que fiz, ora para beber água, ora para me abrigar do Sol e do calor que queimava as minhas costas. Lembro-me das dores. Lembro-me do meu respirar ofegante, lembro-me da motivação que me fez continuar até à Torreira, apenas para voltar e repetir de novo, todo o mesmo caminho.

Foi um erro que não voltei a cometer. E uma bicicleta que durante muito tempo permaneceu parada. Nos tempos que se seguiram apenas a usava para me levar até ao liceu, ou para dar alguns passeios, acompanhado por um novo velho CD que ansiava por ouvir. Da garagem, passou para os arrumos abertos do quintal. Durante mais um Inverno húmido e rigoroso, nada a protegeu das intempéries, além do pequeno telhado que a cobria. Reencontrei-a no Verão de 2007, enferrujada e com um pedal que cedo não tardou em se partir. Nada fiz para me livrar da ferrugem, mas troquei a corrente, arranjei o pedal e enchi os pneus.

Nesse, e nos Verões que se seguiram, comecei a viajar de bicicleta com alguns amigos. Saímos cedo de casa, enquanto ainda não estava um calor impeditivo. Escolhíamos um destino e íamos até lá. Fosse pelos lamaçais da Marinha, pelas subidas e matas de São João, ou pela Ria, na mesma estrada onde em 2005 me aventurei. Uma tradição que permaneceu intacta até 2010. Até à nossa última longa viagem entre Ovar e São Jacinto.

Não foi o calor, nem as suas queimaduras. Não foi o pedal partido do Luís, nem a ferida na perna do Paulo depois de eu ter chocado com ele. Não foi o cansaço, nem aquela terrível subida do Calvário que, no regresso, parecia mais alta que a Serra da Estrela. Nem tão pouco foi a falta de vontade, ou de tempo. Simplesmente deixou de acontecer.

Não mais voltei a pegar na minha bicicleta. Com os pneus furados, uma nova camada de ferrugem, e a impossibilidade de trocar de mudanças, ela é hoje nada mais que uma velha recordação, ainda guardada à espera de um local onde possa descansar eternamente.

Há quatro anos que sonho em comprar uma nova. Estando mesmo disposto a investir mais um pouco, para ter uma bicicleta adequada ao uso que lhe quero dar. Contudo, ainda não aconteceu, nem tão pouco o farei durante este Verão. Uma velha tradição que, para já, continua o seu interregno, com data ainda por definir.

Hoje, mais do que nunca, quero muito andar na minha bicicleta.

Thursday, September 18, 2014

Dig Deeper, Dois Meses de Insanidade

Insanity Workout, Imagem DR
Digno de admiração é aquele que tendo tropeçado ao dar o primeiro passo, levanta-se e segue em frente.
Carlos Fox

Duas semanas. Faltam apenas duas semanas para terminar um programa de sessenta dias. Um programa que me puxou até aos limites da resistência, e da aptidão física. Um programa que me fez mergulhar nas minhas reservas de energia, levá-las até ao vermelho, e continuar em esforço até aos alongamentos finais e ao tão esperado cool down. Faltam apenas duas semanas mas apenas penso no que irei fazer a seguir.

Insanity. O nome é adequado. Mesmo para alguém que já seja viciado em exercício, experimentar, ou apenas ver os primeiros vídeos a frio, faz-nos encher a cabeça com palavras como “impossível”, “exagerado” e “esgotante”. E foi precisamente isso que pensei na primeira vez que fiz o fit test. Tinha programado começar no dia 20 de Maio. Contudo, algumas complicações a nível pessoal e uma pesada onda de desmotivação, levaram-me a adiar por mais algumas semanas. No dia 9 de Julho disse para mim próprio que já estava farto de desculpas e decidi começar.

O Insanity é um programa de exercício com a duração de sessenta dias e que pode ser feito em casa. É apenas necessário um tapete, uma televisão ou um computador, água, e muita força de vontade. Os criadores do programa recomendam o uso de um monitor cardíaco para catalogar o vosso progresso. Eu optei por não usar um, pois na altura que comecei não tinha a confiança necessária para acreditar que seria capaz de o levar até ao fim, e decidi por não fazer esse investimento. Hoje, arrependo-me desta opção, pois além da minha percepção subjectiva, e das claras melhorias no meu corpo, não sou capaz de afirmar com precisão o quanto melhorei nos últimos dois meses.

Criado por Shaun T, um antigo atleta norte-americano, e uma estrela no mundo do fitness, este programa de sessenta dias baseia-se em exercícios de cardio e de controlo do núcleo abdominal através de um conceito de treino de intervalo máximo (max interval training, no original). Num treino de intensidade normal, os exercícios têm uma evolução constante, começam devagar e vão crescendo até um momento de alta intensidade que é seguido de um movimento de recuperação, e de uma pausa longa. O Insanity não funciona assim. Não existe uma evolução, nem movimentos de recuperação. O ritmo é intenso desde o início e as pausas, que não duram mais que trinta segundos, são abruptas. Os exercícios não abrandam. Apenas param.

Um total de onze vídeos com duração média de quarenta minutos, repartidos ao longo de sessenta dias. Este programa requer bastante dedicação. Uma hora por dia, seis dias por semana, com apenas um dia de descanso. É intenso. É desgastante. Mas depois de ultrapassar a barreira do primeiro mês, dificilmente me imagino a começar ou a terminar o meu dia sem aquela hora de insanidade intensa.

Os resultados são impressionantes. Mesmo após os dias mais difíceis não sinto qualquer dor, e rapidamente recupero a energia necessária para as minhas tarefas do dia-a-dia. Antes de começar a fazer Insanity, vivia uma rotina quase sedentária de casa/trabalho. O meu único exercício eram os quarenta minutos diários a pé que fazia entre casa e o meu local de trabalho. Estava desmotivado e a passar por um momento em que a insegurança e o pessimismo reinavam, e controlavam os meus pensamentos. Comecei também a ganhar peso, e a perder alguma da confiança que normalmente me caracteriza.

Não foi o Insanity o principal motor por trás da minha transformação nas últimas semanas, mas foi uma fonte de motivação constante e uma ajuda imprescindível. Hoje sinto-me bem mais seguro e confiante. Estou a investir em mim e a crescer a cada dia que passa. Tenho mais energia, e as ondas negras do pessimismo estão a ser levadas por uma maré de optimismo, que espero um dia manter como constante.

A importância de dar aquele primeiro passo, um gesto tão simples como levantar-me da cama e pôr um vídeo a dar, é hoje clara, enorme. De uma magnitude cujo epíteto ainda se está por revelar. Nós próprios somos o melhor agente de motivação. O melhor impulsionador. Somos a pessoa que mais confia e que mais acredita em nós. Devemos alimentá-la. E o Insanity é um bom começo.

Não o fiz pelos resultados, mas sim para provar a mim próprio de que sou capaz. Cheguei mesmo a convencer dois amigos a aventurarem-se por este caminho de insanidade, e mais três já mostraram interesse em fazer o mesmo. Um deles vai mesmo terminar nos próximos dias, enquanto eu próprio ainda tenho mais duas semanas pela frente.

Existem inúmeros programas de exercício que podem ser feitos a partir de casa e com resultados comprovados. Insanity, Insanity Asylum, Focus T25, Hip-Hop Abs, Turbo Fire, P90X, para nomear alguns. Uma pesquisa detalhada, e algumas horas perdidas a informarem-se sobre aquele que é mais adequado para as vossas necessidades pode ajudar-vos a dar o salto para uma vida mais saudável e cheia de energia.

Nas palavras de Shaun T, não comprometam a forma, vão ao fundo e puxem com mais força, pois vocês conseguem.