Wednesday, June 05, 2013

Doce Tentação

Pão-de-Ló de Ovar
Doces. Bolos. Pastéis. Gelados. Semi-frios. Se fosse possível, não me importava de passar o resto da minha vida a alimentar-me apenas de doces. Punha de lado a sopa, dispensava os aperitivos e o prato principal e saltava directamente para a sobremesa. Felizmente, sou sensato ao ponto de saber que se o fizesse não teria muitos mais anos para desfrutar destes simples prazeres.

A gastronomia portuguesa é bastante rica e diversificada. De Norte a Sul criámos, ao longo de gerações, inúmeros pratos que, quer em tempos de escassez ou de abundância, apresentam alternativas saudáveis para nos alimentarmos de uma forma sustentável e nutritiva. Todos eles conjugados numa bela coreografia de sabores, difícil de igualar.

Mas como nem só de pão vive o Homem, atrevo-me a retirar do contexto a mal-amada frase de Maria Antonieta e pedir que nos deixem comer bolo. Comecemos então por Lisboa e pelos Pastéis de Belém. Com ou sem canela, alguns gostam deles com açúcar, outros preferem-nos ao natural, sem nunca nos esquecermos do café que os acompanha. Fora da capital comem-se Pastéis de Nata e até já existe uma cadeia de fast food chinesa especializada em os vender. Receita roubada que em nada se assemelha ao segredo bem guardado de uma das 7 Maravilhas da Gastronomia Portuguesa.

Seguimos então para Sintra e para as suas famosas Queijadas. Bem junto à estação já se sente o cheiro das fornadas acabadinhas de fazer. Uma óptima oportunidade para nos sentarmos a apreciar a paisagem desta terra icónica, mas o nosso caminho é longo e ainda agora começou. Continuemos assim a subir até Leiria. 

Façamos um intervalo para provar um Mil-folhas ou para conhecer as Brisas-do-Lis, pequenos pastéis de ovos e amêndoa parecidos com o Quindim brasileiro. De seguida damos um salto a Fátima. Não para lavarmos a nossa alma do pecado da Gula, mas sim para bater à porta da Pastelaria Milano, casa das desconhecidas Estrelas de Fátima. Um pequeno doce de ovos, amêndoa e açúcar capaz de nos levar aos céus.

Não. Não me esqueci das Cavacas mas a viagem já vai longa e acabei de chegar a Tentúgal. Casa dos pastéis do mesmo nome. Doces de ovos envolvidos em massa folhada. Que apenas evito comer pois não tarda nada chegarei a Aveiro. 

Decido passar por cá a noite. Passeio na Barra e provo uma Tripa de chocolate. Morango, Ovos Moles, Chocolate com Avelã, Amêndoa, e até mesmo alguns chocolates e doces comerciais podem ser encontrados na lista de sabores deste doce parecido com uma Bolacha Americana que alguém se esqueceu de tostar. 

Na manhã seguinte tomo o pequeno-almoço na Confeitaria Ramos. Em pleno centro de Aveiro experimento uns Ovos Moles com chocolate que não se encontram em nenhum outro lugar. Desço a rua até à Pastelaria Veneza e provo os doces com o mesmo nome dessa cidade Italiana. Não fosse Aveiro a “Veneza de Portugal” e a existência destes pastéis, em muito semelhantes às Estrelas de Fátima, veria a sua origem questionada. 

Regresso à viagem. Paro em Ovar de propósito para levar um Pão-de-Ló. Esqueci-me do garfo por isso terei que o deixar para mais tarde. Em Arouca, logo à entrada, entre Trilobites e Conventos, encontro umas Castanhas de Ovos e umas fatias do Pão-de-Ló local. Húmido e coberto por açúcar, uma única fatia serve entre três a quatro pessoas. Muito bom. Muito doce. Exige-se alguma moderação.

Atravesso o Porto e sigo para Felgueiras. Em Margaride reencontro o seu tão típico Pão-de-Ló. Mais parecido com um bolo seco, é um bom aperitivo para ser comido com queijo da serra acompanhado de um copo de Vinho do Porto. 

Já farto de pães-de-ló vou até Santo Tirso. Entre Jesuítas e Limonetes não me consigo decidir. Podia dar um salto a Santiago de Compostela para comer uma Torta de Amêndoa, mas encontro-me de repente com desejos de alfarroba. 

Apanho o avião para Faro. Em Tavira como uns doces em formato de fruta mas que de saudável pouco ou nada têm. Encontro na alfarroba um excelente substituto para o chocolate e levo algumas para casa, pois a viagem já vai longa e o meu estômago não tem espaço para tanto doce.

Possuímos um rico património gastronómico do qual, estes, são apenas alguns exemplos. A comida portuguesa é um excelente aperitivo para a sobremesa que, quando bem escolhida, permite-nos finalizar uma boa refeição com um pequeno pedaço de céu (seja ele em natas ou não). 

Ninguém pode viver à base de doces, mas eles dão o mote para uma agradável viagem com um garantido final feliz.

1 comment:

Andreia said...

Nesta viagem saborosa abres o apetite aos mais e menos gulosos. Não há como resistir. E lá se vai a dieta :/