Tuesday, February 26, 2013

Sporting CP: A Fórmula para um Futuro Sustentável

Foto DR
Ao longo desta época tenho-me abstraído de comentar os inúmeros desaires e actos falhados que assolaram a equipa de futebol do Sporting CP. Mais uma vez iniciámos a época com um bom plantel e com a aliciante de que pela primeira vez desde a saída de Paulo Bento do comando técnico da equipa, esse mesmo plantel tinha várias opções de qualidade para cada uma das posições. Opções essas capazes de colmatar eventuais castigos ou lesões que tanto nos penalizaram na época anterior.

Mas os erros começaram cedo, não apenas por terem falhado a contratação do tal avançado que iria competir directamente com o Wolfswinkel, mas também pela venda e empréstimo de jogadores estratégicos que tiveram influência directa nas prestações positivas da equipa quer na época anterior quer ao longo da pré-temporada. Jogadores como Matías Fernández e Oguchi Onyewu que embora fossem inconstantes e habituais vítimas da contestação dos adeptos, também foram capazes de resolver diversos jogos durante a sua passagem pelo Sporting CP. 

Tínhamos plantel para sermos campeões? Não sei, mas tínhamos um plantel forte o suficiente para lutar de igual para igual com os nossos rivais e para nos posicionarmos num dos lugares cimeiros do campeonato sem grande dificuldade. O que nunca tivemos foi uma equipa. Jogadores internacionais e experientes entravam em jogo cansados e desmotivados. Sem coesão, com fortes dificuldades para comunicarem entre si, mas acima de tudo, desmotivados e descrentes. Ao sinal da primeira adversidade, fosse ela uma atrapalhação defensiva, uma jogada de perigo do adversário, um penalty falhado, ou um golo marcado cedo demais, a “equipa” – e digo equipa entre aspas, pois em campo apenas via um conjunto de jogadores que não demonstravam qualquer conhecimento do verdadeiro sentido dessa palavra – baixava os braços e dava por garantida a derrota. Este não é o espírito do Sporting CP, esta não é a atitude que um clube candidato ao título pode ter. Este não é o clube centenário que em tempos conheci.

Trocou-se de treinador. Dissemos adeus à Liga Europa, à Taça de Portugal e à Taça da Liga e afundámo-nos na tabela classificativa. Passámos meses sem saber o que era vencer, voltámos a trocar de treinador, ganhámos, levantámos a nossa esperança e vimo-la cair quando voltámos a perder. Em Janeiro, vimos jogadores importantes a sair e a forçar-nos a recorrer à equipa B para colmatar as novas lacunas do plantel. Restam-nos agora dez jornadas para jogar. Pela primeira vez na nossa História ficámos matematicamente excluídos da luta pelo título com trinta pontos ainda em disputa. Caímos na mó de baixo. Batemos no fundo. Apenas podemos esperar que os próximos tempos não nos façam descer ainda mais. 

Resta-nos lutar por um lugar nas competições europeias. A dez jornadas do fim, esses sete pontos que nos separam do quinto lugar nunca pareceram tão longe ou tão difíceis de alcançar.

As novas eleições podem significar o renascer da esperança para alguns. Já eu, não coloco qualquer expectativa em nenhum dos candidatos. Apenas espero que eles sejam capazes de ver a solução para um Sporting CP com um futuro competitivo e sustentável com a mesma clareza com que eu hoje vejo.

A estratégia é simples. Começar do zero. Iniciar a próxima época não com o objectivo de ser campeão, mas com um objectivo mais realista e sustentável como o posicionamento num lugar de acesso à Liga dos Campeões. Chamar de volta todos os jogadores emprestados e construir um plantel unido e com alternativas. Apostar em dois ou três jovens formados na Academia, já rodados na equipa B ou noutros campeonatos, para serem gradualmente introduzidos na equipa inicial. Investir em quatro ou cinco jogadores com valor e experiência internacional para colmatar algumas das lacunas do plantel. Manter o treinador e dar-lhe ar para respirar e tempo para impor as suas ideias. Investir num projecto a médio-prazo, entre três a cinco anos e, acima de tudo, promover uma estabilidade interna que dê segurança aos jogadores, ao treinador e aos adeptos. Se este plano for imposto com rigor, no final deste processo estaremos, não só a lutar pelo título, mas a vencer competições com maior regularidade e a elevar o nome do Sporting CP no futebol europeu.

Sim, pelo nosso palmarés temos a obrigação de nos apresentarmos todas as épocas como candidatos ao título. Mas ao baixarmos esta fasquia para os jogadores, veremos que os resultados irão surgir e que numa época em que ninguém dará nada por nós, estaremos lá em cima, pé ante pé, a lutar pelo primeiro lugar até à recta final. Esta fórmula já foi comprovada em equipas como o Barcelona, o Arsenal e o Manchester United. E vimo-la dar frutos cá dentro com o Boavista FC, o SC Braga e o FC Porto da década de 80. 

Se formos capazes de ter paciência, de dar ouvidos à razão, de pôr de lado o orgulho e de olhar em frente com a frieza de uma mente assertiva, seremos campeões. É este o Sporting CP em que eu acredito e é este o rumo que terá de ser tomado. 

Esforço, Devoção, Dedicação e Glória, eis o Sporting!

Monday, February 25, 2013

“As silvas dão amoras”

Foto DR
Entre aspas pois embora gostasse que esta frase fosse minha, ela pertence a Sidónio Pardal, Arquitecto do Parque Urbano de Ovar. Foram estas as palavras escolhidas para finalizar o seu discurso de inauguração. Quatro simples palavras que simbolizam da melhor forma todo o processo que levou à construção deste parque.

Alvo de muitas críticas, sobrecarregado por constantes e incoerentes dúvidas e visto durante meses como um mero mito, foi preciso esperar pela conclusão da obra para que todos os Velhos do Restelo se resignassem a regressar às suas casas com o orgulho ferido por verem o seu mau-agoiro definhar sem qualquer fruto. Esta silva amaldiçoada pelos leigos ignorantes, fez nascer uma bela amora no coração da cidade de Ovar.

Uma obra que apenas peca por tardia. Há muito que esta cidade ansiava por um espaço verde. Um espaço de lazer, onde as famílias podem levar as suas crianças. Um espaço central, onde o cidadão comum pode fazer exercício. Um espaço natural e limpo, onde os malefícios da poluição podem ser esquecidos. Um espaço calmo, onde qualquer um pode passear ou sentar-se a ler um bom livro. Há muito que Ovar precisava de um lugar assim.

O Parque Urbano, embora já inaugurado, é ainda uma obra incompleta e inacabada. Inacabada pois, por mais que o Homem queira não pode acelerar certos processos naturais, como o crescimento das árvores ou o amadurecimento dessas ditas amoras. Incompleta pois ainda há muito a fazer. Está ainda em processo a reabilitação de dois moinhos e de um edifício próximo do antigo cinema. Serão locais de exploração lúdica, muito há semelhança do Parque Molinológico de Ul. Também está ainda prevista a construção de um parque infantil na zona poente do parque.

É fácil olhar hoje para esta obra e felicitar os seus intervenientes, mas pelo caminho foram mais as vozes de contestação do que as de apreço. O grande teste surgiu poucos dias antes da inauguração. O temporal que assolou o país em inícios de Janeiro não deixou o Rio Cáster incólume, forçando o seu caudal a transbordar as margens e a tomar como sua grande parte da zona ribeirinha do parque. O mau-agoiro e a contestação cresceram, novamente movimentados por falsas informações. O parque foi construído com um sistema de drenagem híbrido que protege as margens e que impede que o parque sofra danos de maior na eventualidade de ocorrer uma cheia. Um sistema simples que tem como base a vegetação plantada de forma estratégica para evitar a propagação das águas. O Parque sobreviveu a este temporal e provou que as suas fundações são sólidas o suficiente para sobreviverem ao teste do Tempo.

O Parque Urbano de Ovar veio dar uma nova vida a um espaço esquecido, repleto de vegetação selvagem e com pouca ou nenhuma utilidade. Viu renascer o Rio Cáster, muitas vezes negligenciado pela população. Deu uma nova cara a algumas fontes históricas que há vários anos permaneciam esquecidas. Interligou zonas da cidade que antes pareciam distantes e facilitou os acessos pedonais ao centro de Ovar.

Este local demonstrou não ser apenas uma necessidade, mas um direito da população ovarense. Um típico parque citadino ao estilo dos Parques Românticos, inspirado pelo Central Park de Nova Iorque e pelos jardins clássicos da Grécia Antiga. Uma obra do mesmo arquitecto do Parque da Cidade do Porto e do Parque Urbano de São João da Madeira, e em tudo, semelhante a eles. Um pulmão verde numa zona antes esquecida do coração da cidade de Ovar. Um espaço há muito desejado pela população. Um sonho tornado realidade.

Sunday, February 17, 2013

Moon Prism Power, Make-up!


Ao contrário da maioria dos desenhos-animados mais populares da minha infância, como Dragon Ball, Pokémon, Widget, The World Watcher ou Denver, The Last Dinosaur, Sailor Moon sempre ocupou um papel secundário. Talvez por ser um anime mais direccionado para o público feminino, contudo, sempre que possível não perdia um único episódio. Como todos os rapazes do meu tempo, dizia que via Sailor Moon por causa das transformações onde as navegantes (a partir deste ponto vou referir-me a elas por Sailor Senshi) apareciam completamente despidas. 

Por causa da sua posição secundária na minha programação de TV, nunca segui de forma aprofundada a sua história, nem tão pouco, prestei muita atenção às diferenças entre as temporadas. Era, na altura, mais um anime a seguir o formato dos Power Rangers, em que um monstro atacava uma cidade, elas transformavam-se para o derrotar e tudo acabava bem. 

Os anos foram-se passando, volta e meia apanhava um episódio no Canal Panda e perdia uma boa meia-hora a levar com a dobragem irritante da versão portuguesa. Inúmeros erros e falas sem sentido perdidas na tradução faziam-me desistir ao fim de um ou dois episódios. Decidi então pesquisar mais sobre esta série. Encontrei diversos blogues dedicados a este anime, e algumas wikis. Em quase todos, os seus autores queixavam-se da censura inquisitória imposta pela versão norte-americana de Sailor Moon. Estes retractavam uma visão muito mais negra e emocionalmente bem-desenvolvida presente na versão original que simplesmente tinha sido removida ou obscurecida da versão traduzida. Ao longo do tempo intriguei-me sobre como seria a versão original em japonês. Seria assim tão bem construída? Teria Sailor Moon sofrido de uma opressão ao estilo do Estado Novo tão grande que a sua mensagem tinha sido distorcida ao ponto de perder tudo aquilo que fazia deste anime uma obra que merecia a adoração de milhões de fãs a nível mundial? A única forma de responder a esta questão seria ver a versão original. 

Os 200 episódios que compunham as cinco temporadas de Sailor Moon foram, para mim, o principal obstáculo para sentar-me em frente da televisão e rever esta série. Mas um dia, há cerca de dois meses, decidi, finalmente, arranjar os episódios, incluindo a temporada que nunca foi transmitida nos E.U.A., e comecei a vê-los sempre que tinha algum tempo livre. Ontem acabei de ver o último episódio e posso afirmar que as minhas suspeitas se confirmaram. Sailor Moon sofreu tanto com a censura e erros de tradução que o Mundo perdeu uma das melhores histórias de amor e, até mesmo, um dos melhores animes dos últimos vinte anos. 

Serenity e Endymion: Um amor que atravessa os milénios


A primeira temporada apresenta-nos duas faces. Dividida em três momentos, repartidos por 46 episódios, a temporada inaugural começa por apresentar Usagi Tsukino, a protagonista da série. Uma jovem de 14 anos, que odeia estudar, passa a vida a comer doces e a chegar atrasada às aulas. Além de ser desastrada e de estar constantemente a chorar. Um dia uma gata, chamada Luna, aparece e transforma-a em Sailor Moon. Sim, um dos principais erros da versão portuguesa da série é tratar a Luna como um gato, em vez de uma gata, mas isto até é o menos. De seguida são apresentadas as restantes Sailor Senshi, numa primeira fase apenas a Sailor Mercury e a Sailor Mars, com uma misteriosa Sailor V a surgir constantemente no background da história. Após o primeiro inimigo ser derrotado, é apresentada a Sailor Jupiter e a Sailor V aparece para revelar a sua verdadeira identidade como Sailor Venus, trazendo consigo o gato (sim, gato e não gata como na versão portuguesa), Artemis. Pelo meio presenciamos um dos inimigos ter uma mudança de coração e apaixonar-se por uma amiga de Usagi, passando para o lado do bem, apenas para ser morto pelos seus antigos colegas. Sim, morto. Ao contrário da imagem que a versão traduzida tentava passar, há um lado realista e obscuro de Sailor Moon na versão original que nos foi negado pela censura. 

Uma das situações que achei mais bem-feita durante a primeira temporada é a relação entre Usagi e Mamoru Chiba (a identidade do Mascarado, ou Tuxedo Kamen na versão original). Uma relação de amor/ódio entre as suas personas reais e um profundo apreço e paixão entre os seus alter-egos. Durante a maior parte da primeira temporada a própria lealdade do Tuxedo Kamen é posta em causa, com a Luna a questionar constantemente se ele não seria apenas mais um inimigo.

A primeira temporada também nos apresenta uma justificação para tudo aquilo que se estava a passar. Desde o surgimento dos inimigos, até ao facto de serem estas pessoas a terem o fardo de carregar com estes poderes. Tudo isto se deveu a uma guerra milenar entre o Reino da Lua e o Dark Kingdom que resultou no sacrifício da Rainha Serenity, mãe de Sailor Moon, para pôr fim ao conflito e dar uma nova vida no futuro à sua filha, Sailor Moon, e aos restantes intervenientes, nomeadamente as Sailor Senshi, e o Príncipe do Reino Dourado da Terra, Endymion (incarnação de Mamoru Chiba). 

Lost in Translation


Um dos grandes problemas que a série sofreu através da censura foi a ambiguidade sexual de alguns personagens e a própria orientação sexual dos mesmos. Desde raparigas transformadas em rapazes, e vice-versa, para evitar que as crianças ocidentais tivessem que lidar com relações entre lésbicas e homossexuais, a erros de tradução que confundiram profundamente os fãs que ao serem apresentados com as transformações e com certas afirmações por parte de outros personagens, simplesmente ficavam com o cérebro a andar às voltas quanto à natureza de determinados personagens. 

O primeiro contacto com este nível de censura acontece no final da primeira temporada. A relação homossexual entre dois inimigos é ocultada ao simplesmente cortarem as cenas em que estes falavam mais intimamente. Numa cena, um desses inimigos sacrifica-se para estar junto do seu parceiro já morto, jurando o seu eterno amor pelo camarada caído. Contudo, tal deve ter surpreendido os espectadores ocidentais visto terem-lhes sido negados os principais momentos da relação entre estes dois.

Neste aspecto, Sailor Moon, apesar de ter estreado em 1992, mantém-se bastante actual. São retratadas todo o tipo de relações. Somos presenteados com personagens heterossexuais, homossexuais, bissexuais e transsexuais. E todos eles são aceites pela sociedade onde vivem. Contudo, a censura dos anos 90 achou que o mundo ocidental não estava preparado para lidar com isto e optou por ocultar a verdadeira natureza de alguns personagens. Natureza essa que deu uma muito maior profundidade à série e que infelizmente, mais uma vez, ficou perdida na tradução.

A morte das Sailor Senshi


No final desta primeira temporada, o Príncipe Endymion é manipulado de forma a passar-se para o lado do mal, mas mesmo assim continua a proteger a Sailor Moon e as restantes Sailor Senshi. Esta nunca deixa de acreditar nele e luta até ao fim para o fazer reverter à sua identidade original. 

Mesmo no final, que para mim está ao nível dos melhores momentos de Dragon Ball ou Naruto, quer no nível de acção, quer na profundidade emocional e moral apresentada, somos vítimas da censura. Na versão original, Usagi tem que lidar com a morte das suas amigas, uma por uma, todas as Sailor Senshi morrem para a proteger e para fazer com que ela chegue à base dos inimigos para os derrotar e repor a paz. Sozinha, magoada e psicologicamente abatida, Usagi consegue na mesma chegar à fortaleza do Dark Kingdom e enfrentar a Rainha Beryl. Pelo meio, o Príncipe Endymion tenta impedi-la, mas através do seu amor e de uma caixinha de música em formato de estrela que ela lhe tinha oferecido noutra vida, Usagi consegue reavivar a memória de Mamoru. Este vira-se contra a rainha e ele próprio acaba morto. 

No momento mais baixo de sempre para este personagem, Sailor Moon reúne todas as suas energias e com a ajuda das almas das suas amigas, consegue, por fim, derrotar a Rainha Beryl e trazer a paz para a Terra. No processo, Usagi Tsukino pede um desejo para que todos possam viver uma vida normal como se nada disto tivesse acontecido. Aqui, sinto que os fãs são de certa forma traídos, visto que toda a história regressa ao início como se nada se tivesse passado. As Sailor Senshi e Mamoru Chiba estão novamente vivos e apenas a Luna e o Artemis mantêm as memórias das verdadeiras identidades destes personagens.

Imagino que isto tenha acontecido para assegurar qualquer eventualidade da série ser ou não renovada para uma segunda temporada. O que acabou por acontecer pelo menos mais quatro vezes.

Neo Queen Serenity e o Século XXX 


Uma das coisas que mais gostei no início da segunda temporada foi como lidaram com a recuperação da memória da Sailor Moon. Usagi, depois de derrotar o novo inimigo, desespera e lamenta o facto de não poder continuar a ser uma rapariga normal. Evitando, durante o máximo de tempo possível recorrer às restantes Sailor Senshi para que pelo menos estas pudessem ter a vida que lhe foi negada. Infelizmente, nenhuma delas teve essa sorte, acabando todas por aceitar o seu destino e abraçarem o fardo de defender a Terra. 

Na segunda temporada somos apresentados com o início da relação entre Usagi Tsukino e Mamoru Chiba. Início e repentina separação, após o aparecimento de Chibiusa, uma rapariga do futuro que mais tarde se descobre ser a filha de Usagi e Mamoru no futuro. Futuro esse que estranhamente apenas se passa no século XXX. Pelos vistos estas personagens vão conseguir viver durante mais de mil anos mantendo a sua juventude. Chibiusa regressa ao passado para recuperar o Silver Crystal para salvar a sua mãe, Neo Queen Serenity, e a futura cidade de Crystal Tokyo dos inimigos, Black Moon. Estes acompanham-na até ao passado com o mesmo objectivo. No fim, com muito sacrifício e com Chibiusa a ser manipulada para o lado do mal, o bem acaba por prevalecer e quer a Tokyo do presente, quer a Crystal Tokyo do futuro são salvas.

Usagi e Mamoru reatam a sua relação e Chibiusa regressa ao futuro. Nesta temporada a primeira Outer Senshi é apresentada, Sailor Pluto (hoje em dia provavelmente teriam muita dificuldade em explicar porque é que Plutão, que já não é considerado um planeta, teve direito a uma Sailor Senshi, enquanto Ceres e outros planetas-anões foram ignorados, enfim, sinais dos tempos). Sailor Pluto é a responsável por guardar as portas do espaço e do tempo e, juntamente com os restantes navegantes dos planetas do Sistema Solar exterior, compõe as Outer Senshi, responsáveis por proteger a Terra contra ameaças extraterrestres. 

Monty Python, I mean, Sailor Moon and the Senshi of the Holy Grail


Na terceira temporada, as Sailor Senshi vão em busca do Santo Graal. Sim, até Sailor Moon cai neste cliché. As Sailor Uranus e Sailor Neptune são apresentadas. Inicialmente como inimigas, no fim, como aliados. As duas apresentam a primeira profunda relação lésbica da série que é mais uma vez posta de lado na tradução, visto que a Sailor Uranus é transformada em rapaz na versão ocidental. Algo muito mal feito, visto que quando “ele” se transforma apresenta corpo de mulher e veste-se com o uniforme colegial típico das Sailor Senshi.

Do sacrifício pessoal das Sailors Uranus e Neptune, dispostas a dar a sua vida para completar a sua missão, à exclusão da Sailor Saturn por esta representar o planeta do desespero e da destruição, esta temporada é de longe a melhor e aquela mais repleta de acção. Os últimos episódios são impossíveis de largar com toda a acção envolta na descoberta do Messias e da ameaça do Pharaoh 90, força maligna e destrutiva que tenta conquistar a Terra. Apenas o sacrifício da Sailor Saturn, que assume o lado do bem depois da Sailor Moon a convencer de que o seu coração estava a ser controlado por uma força maligna, consegue impedir que o nosso mundo seja destruído.

Sailor Moon salva a Sailor Saturn, mas esta reverte para a sua infância e transforma-se numa bebé, visto que toda a sua energia vital foi usada para destruir o Pharaoh 90. Sailor Uranus e Sailor Neptune juram proteger a nova vida da Sailor Saturn e abandonam as restantes Sailor Senshi com o sentido de dever cumprido.

Pegasus e o Dead Circus


Já a quarta temporada apresenta-nos novos inimigos e um novo aliado. Pegasus. O cavalo alado surge para dar novos poderes às Sailor Senshi, escondendo-se dentro do coração de Chibiusa. Pegasus era na verdade Helios, um sacerdote do antigo Reino Dourado da Terra responsável por proteger o Golden Crystal dos novos inimigos, Dead Circus, liderados pela rainha Nehellenia, antiga rival da Rainha Serenity, que invejava a felicidade do Reino da Lua. 

Esta temporada serviu de certa forma como uma temporada de transição, onde as Sailor Senshi ganharam novos poderes e a relação entre Usagi, Mamoru e Chibiusa foi-se solidificando. Sendo, provavelmente, a temporada com mais fillers, não deixou muitas saudades, mas vale pela acção dos últimos episódios, por alguns momentos chave ao longo do seu story arc e pelos momentos de descontracção de que esta série, ao fim de quatro anos, bem precisava. Para aqueles que quiserem ver esta temporada com maior pormenor, basta ligarem o Canal Panda a partir da meia-noite. 

Sailor Galaxia, Three Lights e a batalha final

A quinta e última temporada é a malfadada temporada que nunca foi transmitida nos E.U.A. É de longe uma das melhores temporadas desta série, pecando apenas pelos cerca de 15 episódios de fillers que ocupam quase metade dos 34 episódios que compõem o quinto e último capítulo deste anime. 

O início é simplesmente fantástico. Pegando no final da quarta temporada, Nehellenia regressa e desperta a Sailor Saturn. As nove Sailor Senshi, mais a Sailor Chibi Moon (transformação de Chibiusa), unem forças para a derrotar após esta capturar Mamoru Chiba e ameaçar matá-lo se a Sailor Moon não se render. Pelo caminho, as Sailor Senshi sofrem mas conseguem vencer. A própria Sailor Moon descobre um novo poder e uma nova transformação, surgindo assim a Eternal Sailor Moon. 

Derrotada Nehellenia, um novo inimigo surge, Sailor Galaxia. Uma antiga Sailor Senshi controlada por uma força maligna chamada Chaos que ambiciona coleccionar todas as Star Seeds da Via Láctea. Três novos aliados surgem, as Sailor Starlights, que estranhamente são rapazes antes de se transformarem. Vivendo sob a identidade de Three Lights, uma banda pop, e com o objectivo de encontrarem a sua princesa que fugiu para a Terra. As Starlights rapidamente fazem amizade com Usagi Tsukino, sendo que uma delas chega mesmo a apaixonar-se por ela. Seiya, identidade da Sailor Star Fighter, apaixona-se por Usagi que nesta temporada tem que lidar com a ida de Mamoru para os E.U.A., que nunca chega a ir, desaparecendo sem deixar rasto.

A relação entre Seiya e Usagi intensifica-se, sem nunca vermos o amor de Seiya ser correspondido. Embora a maioria dos fillers me terem custado bastante a ver, ontem à noite cometi o erro de ver o primeiro episódio do último acto. Sailor Moon tem destas coisas, por mais irritantes ou desinteressantes que os fillers possam parecer, chega a um ponto, quando a história começa a andar para a frente em que não conseguimos mais deixar de ver. Apenas me deitei já passava das três da manhã, quando finalmente acabei de ver o último episódio.

Neste arco final da série, Usagi descobre que Mamoru Chiba não a tinha abandonado, mas que na verdade tinha sido morto logo no início pela Sailor Galaxia para que esta pudesse roubar a sua Star Seed. Todas as Sailor Senshi, à excepção das Sailor Starlights, sacrificam-se e no final e apenas a perseverança e a vontade de Sailor Moon em acreditar que existe bem dentro do coração de todas as pessoas, conseguiu libertar a Sailor Galaxia do controlo de Chaos. Acabando assim por limpar todo o mal causado por este inimigo.

As Sailor Senshi e Mamoru Chiba regressam à vida, repostas as suas Star Seeds e Usagi volta a reunir-se com os seus amigos. A princesa das Sailor Starlights também regressa e estas decidem voltar ao seu planeta. No fim, somos presenteados com um momento romântico entre Usagi e Mamoru, sob o luar prateado da Lua Cheia a cobrir quase na totalidade o céu de Tokyo. Um final feliz, sem loose ends e com todas as histórias concluídas, deixando a possibilidade de uma continuação num futuro próximo.

Adeus Sailor Moon, até ao teu regresso!


Continuação essa que foi confirmada no ano passado. Este verão, vamos ser presenteados com uma nova temporada de Sailor Moon. Existem vários rumores sobre se esta nova temporada vai ser uma continuação da quinta, – o que em princípio tornaria difícil comercializá-la no ocidente, visto que a quinta temporada nunca foi transmitida em vários países – ou se vai ser um novo recomeço para a série, como fizeram com o Dragon Ball Kai. Existe ainda a possibilidade da nova série ser completamente diferente de Sailor Moon, pegando em novos personagens. É esperar para ver.

Podem estar a pensar sobre o porquê da quinta temporada de Sailor Moon nunca ter sido transmitida nos E.U.A. Não existe nenhuma versão oficial que justifique o sucedido. Apenas o rumor de que a autora da série, Naoko Takeushi, simplesmente “passou-se” com a censura e decidiu proibir que a série continuasse a ser transmitida internacionalmente. Já o facto de o sexo das Sailor Starlights ter sido alterado da Manga para o Anime, enfureceu-a ao ponto de praticamente desistir da série. Se bem que, a meu ver, esta alteração foi benéfica pois permitiu fortalecer a relação entre Usagi e Seiya.

Embora Sailor Moon tenha um número excessivo de fillers, os finais e os momentos chave de cada uma das temporadas fazem deste anime um dos melhores que alguma vez vi. Uma profunda história de amor, repleta de acção e de sacrifício pessoal com uma boa dose de comédia e entretenimento pelo meio. Aconselho a todos aqueles que gostam do género Magical Girl ou que acompanharam minimamente a série durante a sua infância, a reverem-na na sua versão original e a voltarem-se a apaixonar pelo mundo fantástico de Sailor Moon.


Deixo-vos com a cena final da quinta temporada de Sailor Moon:

Aniversários e facebook

Imagem: YourVectors
Tal como a maioria das funcionalidades do facebook, a notificação dos aniversários dos utilizadores que fazem parte da tua rede não é nenhuma novidade. Ainda hoje recebo semanalmente um e-mail do hi5 (sim, um dia terei que cancelar a minha conta, mas só a chatice de iniciar esse processo dá-me preguiça para o fazer) com as datas dos próximos aniversariantes. Desejar um feliz aniversário a alguém através do seu mural no facebook tornou-se num paradigma social tão estabelecido que chegou mesmo a tornar obsoleto o envio de mensagens por telemóvel.

Hoje em dia são raras as pessoas que mantém uma agenda com as datas de aniversário dos familiares e amigos, e mesmo aquelas que guardam essas datas no telemóvel são um número que apenas não diminui pois as aplicações de calendários dos smartphones têm ligação com os contactos do facebook e mantém as datas actualizadas sem haver qualquer necessidade de as programar manualmente. Tornámo-nos dependentes desta rede social para nos lembrarmos dos aniversários das pessoas que nos são próximas. Eu próprio confesso já ter sucumbido a este trágico facilitismo.

No ano passado, esqueci-me do aniversário de um amigo meu, chegando mesmo a deixar passar várias semanas antes de finalmente me lembrar dele, simplesmente porque ele não possui essa notificação visível no seu perfil. Eu costumava não precisar de nenhum auxiliar de memória pois simplesmente decorava os aniversários daqueles que me eram próximos, mas hoje o meu cérebro elimina essa informação pois a vê como desnecessária visto que o facebook tratará de me avisar quando a data se aproximar. Como é óbvio, ainda existem algumas pessoas das quais posso dizer a data com precisão sem ter que recorrer a nenhuma cábula, mas elas são hoje em dia um grupo muito restrito.

A massificação do facebook ajuda-nos a lembrar com maior facilidade dos aniversários da nossa rede de contactos, mas também criou uma face bem mais sinistra na espada de dois gumes que é o acto social de dar os parabéns a alguém. Se é fácil e gratuito felicitar alguém através do facebook, também é mais inaceitável e difícil de justificar quando nos esquecemos de o fazer. Visto que ao contrário do hi5, o facebook não envia e-mails a notificar sobre quem vai fazer anos nessa semana, podemos sempre afirmar que não estávamos online nesse dia, contudo, o facto desta rede social estar interligada com a agenda do nosso smartphone, deita essa justificação por terra abaixo, além de que, raro é o utilizador que não visita o facebook pelo menos uma vez por dia.

Se, de certa forma, o acto de nos lembrarmos do aniversário de alguém é agora pouco valorizado, ao optarmos por não o fazer, corremos o risco de que a outra pessoa veja isto como um insulto ou como uma falta de consideração. Eu não ligo muito às mensagens de parabéns, gosto de as receber, mas compreendo que a maioria não foram dadas porque se lembraram de mim, mas simplesmente porque foram notificados de tal. Tudo bem, não espero que os meus 500 contactos saibam de cor a data do meu aniversário. Contudo, quando alguém, principalmente alguém que me é próximo, se esquece ou não o faz, interpreto que tal aconteceu ou por motivos de força maior, caso eu e a pessoa estejamos em bons termos, ou então porque optaram deliberadamente por se “esquecerem” de mim. Já tive pessoas que chegaram mesmo a afirmar que não me deram os parabéns porque “não ligam a essas coisas”. Bom, visto que eu é que faço anos, a única coisa que importa é que eu “ligo a essas coisas” e por uma questão de respeito deviam lamentar-se por se terem esquecido em vez de encontrarem desculpas esfarrapadas sob perspectivas tão egocêntricas.

Eu gosto de ser prático nestas situações. Apenas felicito aqueles que me são próximos e aqueles que, embora não passem de conhecidos ou colegas, se lembraram do meu aniversário. Com todos aqueles que se esqueceram e não o justificaram, retribuo de igual modo, sendo que até hoje, ainda ninguém se deve ter apercebido disso, ou então simplesmente não sentem necessidade de que me lembre deles nos seus dias de aniversário.

Pondo de lado a minha visão pessoal, felicitar alguém pelo facebook não só é gratuito, como demora apenas pouco mais de dez segundos e permite aos utilizadores serem criativos, recorrendo aos infinitos recursos que a internet lhes proporciona. Desde cartões personalizados, a músicas, vídeos, fotos, memes ou simples frases inspiradores, existem imensas opções e métodos personalizados para dar os parabéns a alguém. Algo que nenhuma mensagem ou MMS consegue igualar, com a vantagem de que se a pessoa não for da vossa rede, não gastam dinheiro nenhum.

Deixem-se de desculpas esfarrapadas e gastem dez segundos do vosso dia para dar os parabéns a alguém. Ignorem os desconhecidos se assim quiserem, mas depois como se vão sentir quando eles próprios se lembrarem de vocês quando o vosso dia chegar? Não é tão rápido como um like, mas agora nem sequer precisam de sair da Home page para escreverem nos murais dos aniversariantes. Pode ser um gesto comum, ou até mesmo vazio, mas é capaz de alegrar um pouco o dia a alguém e, por vezes, até ajuda a resolver conflitos e a fazer as pazes com velhos inimigos.

Saturday, February 16, 2013

O Ideal em Conflito

Foto: Adriano Cerqueira
Sonhar. Ao longo dos anos conheci várias pessoas que íntima ou, até mesmo, publicamente me confidenciaram os seus sonhos de carreira profissional. Enquanto muitas não passavam de meros clichés entediantes, algumas destas histórias tocaram-me, quer pela paixão, quer pela motivação que as suas palavras transpareciam.

Fizeram-me acreditar que elas seriam capazes de tornar os seus sonhos em realidade e por momentos, eu próprio senti-me parte das suas soberbas missões. Mas quando a conversa caía inevitavelmente sobre mim, nada tinha para lhes dizer. Cheguei muitas vezes mesmo a inventar alguma coisa em cima do joelho só para não sentirem pena por mim ou para não pensarem que sou demasiado reservado. A cruel verdade é que não tenho nenhum sonho a nível profissional, nem tão pouco sou capaz de dizer qual a área em que gosto mais de trabalhar, ou quais as funções que mais gosto de exercer.

Lembro-me de uma aula de apresentação de uma cadeira na faculdade. Num anfiteatro cheio, a professora perguntou a cada um de nós qual o seu sonho, ou, mais concretamente, onde gostavam de trabalhar. Imprensa, Televisão, Rádio, Assessoria, Cinema, Fotografia, foram as respostas mais comuns, cada uma parecia mais assertiva que a anterior. Estava sentado numa das filas do meio, portanto a minha vez demorou a chegar. Entrei em pânico quando me apercebi que ia ser o próximo. A pressão e a necessidade de responder forçaram-me a ser honesto. “Quero ser paleontólogo”, disse. Muitos se riram a pensar que eu estava a brincar com a situação. Mas a professora levou a resposta a sério e eu contei a velha história que sempre conto: “Desde pequeno que quero ser paleontólogo, mas gosto muito de escrever e de contar estórias, por isso decidi tirar comunicação. Sempre vi essa área mais como uma carreira para levar a sério, enquanto a paleontologia não passava de um hobby”.

Durante anos afirmei que quando acabasse a licenciatura iria voltar a estudar. Ia-me inscrever em Geologia e ao fim de três anos, tirar doutoramento em Paleontologia. Quiçá talvez não precisasse sequer de voltar a tirar uma nova licenciatura e pudesse ir logo para doutoramento. Mas quando a altura chegou, inscrevi-me num Mestrado em Multimédia, arranjei emprego e assim fiquei. Adiei o meu plano e hoje acho muito pouco provável que algum dia o venha a concretizar.

Quando ainda estava no meu primeiro ano de mestrado, cheguei mesmo a inscrever-me nos exames nacionais. Paguei cinco euros para fazer o exame de Biologia/Geologia que dava acesso ao curso que queria. Mas quando chegou a altura não o fiz. Disse a mim próprio que faltei porque tinha uma aula marcada para a hora do exame. Era uma aula de Gestão de Projecto. Essa cadeira apenas tinha três aulas temáticas e um plano de negócios. Faltei às primeiras duas aulas por serem à mesma hora das minhas aulas de Russo, mas fui à última sobre Marketing, no dia em que podia ter feito esse tal exame de acesso à faculdade.

Se olhar para trás estou perdido. Ainda me lembro como se fosse hoje. O momento em que preenchi a folha de candidatura para o ensino superior. Estava com a folha à minha frente, sozinho, num café em Aveiro. Tinha terminado de preencher a maior parte do documento, mas ainda me faltava completar duas opções. As únicas que importavam. Geologia ou Ciências da Comunicação? Não conseguia decidir. Liguei ao meu pai, ele aconselhou-me a optar por CC e assim o fiz.

Naquele momento podia ter escolhido o meu sonho, ou pelo menos aquilo que eu desejava desde criança, mas não o fiz. Não o quis fazer. No dia em que saíram os resultados das candidaturas sonhei que tinha entrado em Geologia. Lembro-me de acordar e de ficar feliz por esse sonho não se ter tornado realidade. Seria isto prova de que no fundo o meu sonho nunca foi verdadeiramente ser paleontólogo? A verdade é que deitei por terra todas as oportunidades que tive de seguir paleontologia. Mas se isto é verdade, porque estudei geologia ao longo do 12.º? Porque me esforcei tanto a fazer resumos e a estudar semanalmente para uma disciplina que não fazia parte do meu plano curricular? Como justifico o 18 que tirei confortavelmente no exame? E o facto de que se tivesse entrado teria a maior média de acesso daquele curso? Porque sabotei a única coisa para a qual me esforcei verdadeiramente em toda a minha vida? Não sei. Não sei. Não sei.

Preciso de um sonho. Preciso de algo no qual acreditar. A falta disso materializou-se numa profunda desmotivação, para a qual vários empregadores já me chamaram à atenção. Embora sempre tenha feito um bom trabalho em todas as empresas que representei. Sempre senti que faltava alguma coisa. Por mais elogiado que fosse, faltava sempre um brilho, uma chama, algo mais. Podia apenas ser por eu ser demasiado perfeccionista, mas nunca senti que se tratasse disso.

Tive alguns momentos em que me senti satisfeito com o resultado final. Momentos esses que me deram confiança e que me fizeram ir dormir com um sorriso na cara. Mas nunca senti que fossem suficientes. Talvez exija demasiado de mim próprio ou talvez procure uma satisfação utópica que o mundo real é simplesmente incapaz de me oferecer. Honestamente, não acho que seja isso. A resposta parece-me ser bastante mais simples: Estou insatisfeito com a minha vida profissional e sinto a necessidade de ter um sonho, de ter um objectivo. De acreditar em algo maior do que mim próprio e de lutar por isso, olhando para cada obstáculo como mais uma barreira a derrubar e não como algo finito e intransponível.

Ontem questionava-me sobre qual seria o emprego ideal. Um salário a rondar os três mil euros dentro da actual realidade económica portuguesa, um horário flexível – no sentido em que eu pudesse fazer as horas que me apetecessem, desde que os projectos estivessem prontos e entregues dentro do prazo, e não no sentido de fazer horas extra e trabalhar aos fins-de-semana como já me chegaram a propor –, e a possibilidade de viajar. Características utópicas, mas que são apenas isso, características. Podia estar a falar de um fotógrafo, de um realizador, de um camionista ou de um padeiro. Desejo características confortáveis e irreais, mas não uma função, não uma área. Há pessoas que aceitariam exercer o seu emprego de sonho por menos que o salário mínimo e com horários miseráveis e sobre-humanos. Já eu, não consigo escolher uma área, uma profissão, nem tão pouco uma actividade da qual possa dizer: “É este o meu sonho, é isto que me fará feliz para o resto da vida e que me fará sentir-me motivado ao acordar pela manhã”.  

Não vivo desprovido de sonhos. Tenho sonhos pessoais pelos quais luto e que estou a caminho de concretizar. Mas sinto-me incompleto. Desequilibrado. Sinto a necessidade de ter uma carreira, um objectivo, uma profissão que me satisfaça. Preciso de sonhar e de descobrir aquilo que quero. Até ao dia em que o encontre, o mundo será sempre um lugar cinzento das nove às cinco com um cheque no final do mês. Sem brilho e sem chama, apenas dinheiro e privilégios. Preciso de uma vitória, não de pequenas conquistas. Preciso de acreditar, de algo que me dê confiança. Mais do que qualquer emprego, preciso desta resposta.