Wednesday, January 09, 2013

As Compras Menos Certas de 2012

Imagem DR
Buyer’s Guilt. Já todos sentimos aquele incómodo remorso de comprador que nos atormenta sempre que fazemos um investimento arriscado ou quando compramos algo por impulso. Aquele livro que vimos em promoção na Fnac mas que apesar disso estava dois euros mais barato na Bertrand. A peça de roupa que deixámos para os saldos e que agora se encontra esgotada. O portátil que fomos obrigados a comprar uma semana antes de saírem os novos processadores. Ou até mesmo aquela Televisão 3D que nos faz pensar se terá valido a pena o investimento.

Há um ano atrás, poucas horas antes de 2011 dar lugar ao novo ano, escrevia sobre as compras inúteis que tinha feito ao longo desse ano. Objectos de pouco valor que juntos não chegavam sequer a fazer quarenta euros.

Ao longo de 2012 consegui dar alguma utilidade a esses objectos. Vendi o meu casaco Letterman Jacket. A mochila da Eastpak acabou por ser muito útil quer para uso profissional, quer para carregar os meus cadernos para as aulas de Russo. Ao fim de algum tempo as alças acabaram por ir ao sítio e hoje em dia é raro sair de casa sem ela. Quanto à Marmite, sinceramente não faço ideia o que aconteceu. Ao regressar do Algarve deixei-a na cozinha e não mais a vi. O mais provável é que tenha ido para o lixo visto que ninguém gostou daquilo.

Dois em três não é mau. Consegui recuperar um investimento, outro teve sucesso à segunda tentativa e o terceiro, bom, o frasco custou pouco mais de 4 euros, mas embora não possa recuperar essa quantia, pelo menos posso dizer que já provei Marmite.

Em 2012, procurei ser um pouco mais sensato nas minhas compras e evitei fazer alguma da qual me pudesse arrepender. Não posso assim dizer que tenha feito alguma compra inútil, contudo, existem pelo menos duas que aterraram a alguma distância do alvo.

Foto: Adriano Cerqueira
1.º Lugar) Jurassic Park Ultimate Trilogy em Blu-ray (Amazon.co.uk – £ 12.28)

Como grande fã de Jurassic Park não podia deixar de ter toda a trilogia em versão Blu-ray (sim, já tinha a versão em DVD, mas estava na hora de dar o salto para o HD). Depois de alguns meses de altos e baixos no preço, mal vi que o pack tinha atingido o mínimo histórico de 12 libras, não hesitei. Fiz a encomenda no dia 31 de Maio e poucos dias depois já o tinha em casa embrulhado e pronto para disfrutar de seis horas de dinossauros em HD.

Ainda hoje esta pode ser vista como uma boa compra visto que no Amazon.co.uk este pack encontra-se neste momento a £ 16.49. Contudo, no final do verão um amigo meu informou-me que uma caixa especial, que além dos Blu-rays também trazia alguma memorabilia da trilogia, estava a 15 euros! Na altura em que encomendei o meu pack essa caixa custava mais de 40 euros e na altura achei que não valia a pena o investimento. Mas a 15 euros não teria pensado duas vezes. Ainda ponderei compra-la na mesma e depois vender o meu pack, mas quando finalmente tomei a decisão o preço dela já tinha subido para cerca de 30 euros.

Se tivesse esperado alguns meses tinha conseguido a caixa especial por uma pechincha. Contudo, encontro algum reconforto no facto de que muitas das pessoas que a compraram acabaram por receber a caixa danificada e cheia de amolgadelas. Quem sabe se eu não teria a mesma sorte?

Foto: Adriano Cerqueira
2.º Lugar) Motorola Rokr U9 (OLX – € 35)

No início do verão de 2012 comecei a usar um número da Vodafone. Felizmente o meu smartphone já veio desbloqueado de origem, contudo visto que ele não é um Dual SIM, vi-me forçado a arranjar um segundo telemóvel para alocar o meu cartão da TMN.

Queria um telemóvel barato, pequeno e com uma bateria duradoura. Procurei nas marcas e vi alguns modelos interessantes por cerca de 25 euros. Com os pontos que tinha da TMN até era capaz de tirar alguns euros a esse preço. Quando estava prestes a efectuar a compra, tive uma ideia: Porque não aproveitar esta oportunidade para comprar o telemóvel que sempre quis? “Por esta altura deve estar muito mais barato”, pensava eu.

Há uns anos atrás, vi um anúncio ao Motorola PEBL e apaixonei-me pelo design desse telemóvel. Na altura tinha comprado um telemóvel novo há poucos meses e por isso não o comprei. Mas agora podia finalmente tê-lo.

Após uma rápida pesquisa descobri que havia uma versão mais recente deste mesmo telemóvel, o Rokr, que até tinha algumas características interessantes, como a capacidade para ler e armazenar mp3, uma câmara de 2 megapixéis e um ecrã externo com touchscreen. Contudo, o preço rondava os 70 euros. Demasiado caro para aquilo que eu queria. No OLX encontrei alguém a vender esse mesmo telemóvel, usado, por apenas 35 euros. Combinei com o vendedor e comprei-o.

O telemóvel tem servido o seu propósito mas acabou por me desapontar em alguns aspectos. O ecrã externo touchscreen não funciona – deve ter perdido a sensibilidade ao toque após alguns anos de uso – e a capa da bateria volta e meia solta-se. Tendo em conta que ficou por metade do preço e tratando-se de um telemóvel usado, não me posso queixar. Contudo, agora vejo que mais valia ter comprado um dos telemóveis de baixo custo da TMN. Para o uso que lhe dou, sinto que paguei mais 10 euros apenas para satisfazer um desejo antigo.

Embora não sinta que tenha feito alguma compra inútil em 2012, acho que tenho que estar mais atento aos pormenores para que daqui a um ano possa estar de consciência tranquila de que todas as compras que fiz foram as certas.

Para 2013, apesar de prever uma maior contenção, vou tentar fazer investimentos estratégicos, aproveitando apenas promoções e eventuais oportunidades que possam surgir. Se daqui a um ano voltar a fazer uma lista deste género, é porque ainda não foi desta que aprendi a lição. 

Thursday, January 03, 2013

Surpresa

Imagem: Guylian
Este Natal ofereceram-me uma caixa de chocolates Guylian. Uma das minhas marcas preferidas, a par com Ferrero Rocher, After Eight e Milka. A caixa vinha embrulhada num papel vermelho com um padrão em branco de símbolos natalícios e com um laço dourado. Pela forma e pelo peso não me surpreendeu que o resultado fosse uma caixa de chocolates.

Há já muitos anos que me habituei a não esperar outra coisa pelo Natal que não seja chocolates, dinheiro, aftershaves ou perfumes. Contudo, alguns dias depois, quando me apeteceu abrir a caixa, reparei que esta apenas continha cavalos-marinhos. Nada de conchas, bivalves ou estrelas-do-mar. Apenas cavalos-marinhos. Continuava a ter as duas variedades de chocolate e o saber mantém-se sempre igual independentemente da forma que o chocolate tenha, contudo, não estava à espera que esta caixa enorme apenas tivesse cavalos-marinhos.

Não posso dizer que esta surpresa me tenha deixado extasiado ou que tão pouco me tenha intrigado ao ponto de me ir informar melhor sobre os produtos vendidos pela Guylian. Mas esta simples constatação inesperada foi a única verdadeira surpresa que tive este Natal.

O Natal para mim não se resume a presentes. Mesmo que não tivesse recebido nenhum, o meu espírito natalício continuaria em alta. Apesar disso, confesso que tenho saudades daquelas manhãs de Natal quando acordava de sobressalto e corria para a cozinha para ver as prendas que o Pai Natal me tinha deixado. Tenho saudades de me sentir como uma criança na manhã de Natal. Saudades da expectativa, da ansiedade, mas acima de tudo, da surpresa.

Surpresa. Algo que não posso dizer que me recordo de alguma vez ter sentido desde que deixei de receber brinquedos na manhã de Natal. Sim, fui vítima de um ou outro susto. Já vi um gato a saltar para baixo de um carro numa estrada escura sem qualquer aviso. Mas fora esses pormenores, hoje em dia tudo parece-me previsível. Nada me surpreende, pelo menos não positivamente. Parece que de há uns anos para cá as únicas notícias “surpresa” que recebo são negativas. E mesmo essas, se pensar um pouco, surgem quase sempre após vários indícios de uma inevitável previsibilidade.

Sejam elas prendas, classificações, resultados, reacções, todas elas são previsíveis. Até mesmo os resultados desportivos são facilmente previsíveis depois de dedicar algum tempo a analisar os pormenores da modalidade que estiver a ser disputada.

Sou vítima das capacidades analíticas da minha mente. Analiso demasiado bem as situações e as pessoas. Estas facilmente se tornam previsíveis e aborrecidas após algum tempo. É um duro fardo para carregar.

Como me entreter se nada de novo acontece? Felizmente o Mundo ainda me é capaz de surpreender, seja através de notícias insólitas ou da observação do caos organizado da natureza. Alimento-me com informação nova para apagar este vazio de surpresa e descanso a minha mente com histórias. Sejam elas em livro ou em filme, por mais previsíveis que sejam, sempre possibilitam alguns momentos de distracção. Ajudam-me a desligar dos cálculos e suposições constantes que afogam a minha mente em algoritmos desconexos com caóticas soluções.

Na minha vida a única coisa que ainda me consegue surpreender é o amor. Talvez seja por isso que faço dele a minha prioridade e a principal força motriz que impulsiona o meu dia-a-dia. Amar e ser amado é em si a verdadeira prenda da vida. Uma prenda que se constrói e renova a cada dia que passa, recheada de surpresas que alimentam e dão brilho ao teu caminho. Amar é a única carreira à qual sou capaz de me dedicar.

Para tudo o resto, permaneço céptico. Quero acreditar no dia em que algo me irá verdadeiramente apanhar de surpresa. Talvez aquele emprego irrecusável que surgiu do nada, a oportunidade para conhecer um ídolo ou algo mais simples, como uma prenda inesperada oferecida do fundo do coração por alguém que foi capaz de ler os meus desejos sem eu os ter contado.

Esse dia parece-me improvável. Mesmo que ele chegue, talvez já antes o tenha adivinhado.

É difícil conviver comigo próprio. Constantemente a proteger-me de qualquer desilusão ou entusiasmo através da revelação prévia do resultado. Pelo menos ainda consigo agarrar-me àquele sentimento longínquo, quando, ainda criança, acordava de manhã no dia 25 de Dezembro e sabia que algo de mágico estava prestes a acontecer.