Wednesday, December 12, 2012

Elogio da ineficiência

Todos reagimos com indignação perante as acusações da Finlândia e da Alemanha que retractavam o povo português como preguiçoso e inadequado para trabalhar. Preferíamos passar os dias a apanhar sol e a pensar em maneiras de fugir ao fisco do que a contribuir de forma directa para a produtividade do país. Embora ache que estes comentários são despropositados e exageradamente irrealistas, começo a pensar que eles são capazes de ter razão em certos pontos.

No Reino Unido, E.U.A., Alemanha e restantes países de origem germânica ou anglo-saxónica, é promovida a eficiência e o máximo de produtividade dentro do horário de trabalho. Os trabalhadores que conseguirem concluir as suas tarefas dentro do horário de expediente são elogiados, enquanto que aqueles que fazem mais horas que aquelas estipuladas no seu horário são postos de lado e ficam com o emprego em risco. Cá acontece precisamente o contrário. São mais bem vistos pelos empregadores os trabalhadores que fazem horas extra, mesmo quando estas não são pagas, em detrimento daqueles que saem todos os dias à hora certa com as suas tarefas completas. Isto acontece mesmo quando o empregado que fica mais tempo o gasta a ver e-mails e a navegar nas redes sociais. Promovemos assim uma baixa produtividade e uma ineficiência geral na gestão de horários que além de surreal é inteiramente incompreensível.
 
Todos nós já ouvimos falar dos famosos estágios de advocacia onde os estagiários são obrigados a ficar um bom tempo depois da hora de saída apenas para causarem uma boa impressão. Ao deixarmos um grupo de pessoas inutilmente paradas num local estamos a gastar o tempo delas, a cansá-las física e psicologicamente, além de gastarmos recursos da empresa como luz e água, e aumentarmos o desgaste no processamento dos computadores.

Contudo esta prática continua a ser considerada natural e imprescindível para a selecção dos trabalhadores. Como é possível que não consigam ver a enorme falha desta sua lógica dispendiosa?

Há uns tempos vi alguém a ser elogiado por não ter feito nenhuma directa ao longo de um ano em que fez uma tese de mestrado enquanto frequentava um estágio profissional sem obrigatoriedade de frequência de um horário restrito. Espantou-me que tal comportamento tivesse sido elogiado. Isto não devia ser a excepção mas sim a norma.

Nunca fiz uma directa. Após cinco anos de licenciatura e mestrado e mais três de experiência profissional nunca tive a necessidade de fazer uma directa sem dormir. No ano passado trabalhei numa empresa onde fazia um horário diário das nove da manhã às seis da tarde. Ao mesmo tempo escrevi a minha tese de mestrado e realizei um projecto de tese que consistiu na realização de duas curtas-metragens e da programação de um sistema de visionamento para as duas. Além disso ainda tive que realizar estudos de campo para visionamento e análise da plataforma. Para agravar a situação, todos os dias gastava duas horas em transportes entre a casa e o trabalho. Mesmo assim nunca tive que fazer uma única directa e continuei a sair com os meus familiares e amigos. Consegui entregar a tese a tempo sem a necessidade de pedir um adiamento, ao passo que muitas pessoas que estavam inclusive desempregadas não o conseguiram fazer. Fiz tudo isto sem perder um único episódio das 15 séries que seguia semanalmente. Como consegui fazer isto tudo sem perder uma única noite? A resposta é simples, organizei bem o meu tempo, dormia sempre oito horas por dia e parava sempre que sentia necessidade para o fazer. Basta ter disciplina e organização e tudo é possível.

Embora na minha área por vezes sejamos forçados a trabalhar de noite para cobrir, organizar ou documentar eventos, são excepções pontuais que justificam perfeitamente algumas horas extra de trabalho. Com isto não estou a afirmar que as pessoas que trabalham apenas de noite são desorganizadas. Cada um tem o seu ritmo e algumas pessoas trabalham melhor de dia do que de noite. Agora, nada justifica gastarem 24, 36 ou 48 horas seguidas sempre a trabalhar.
 
Eu trabalho melhor entre as 15 e as 18 horas. Nessas três horas consigo ser mais produtivo que a maioria das pessoas que conheço, contudo também consigo trabalhar bem de manhã, se bem que a um ritmo mais lento. Já de noite, esqueçam. Preciso do meu descanso e do meu tempo pessoal. É importante relaxarmos o nosso corpo e ocupar a nossa mente com algo sem ser o trabalho, se não o fizermos sobrecarregamos o nosso organismo com stress e acabamos por perder energia, vontade e resistência. Acabamos por adoecer sem conseguir ter nada pronto a tempo, nem com o mínimo de qualidade exigida.

É ridículo esta promoção do “fazer parecer que se faz mais”. O que importa são os resultados e quanto mais baixo for o custo para obter esses resultados melhor será a performance do trabalhador e da própria empresa. Compreender este princípio básico é a base do sucesso para qualquer empresa que se queira afirmar no mercado internacional.

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