Saturday, December 31, 2011

Concluído

Procrastinar foi a palavra de ordem do último ano. Nem sempre provocada por simples preguiça, a verdade é que o eterno defeito de adiar, e deixar tudo para as últimas, acabou por deixar a sua marca nas etapas finais do desenvolvimento, e da defesa da minha tese de Mestrado.

Embora oficialmente tivesse iniciado a dissertação no dia 13 de Setembro de 2010, foi apenas em Janeiro deste ano que comecei a trabalhar mais a sério na sua execução. Durante os primeiros meses, o meu emprego em Coimbra e o stress das viagens constantes tornavam os meus fins-de-semana muito pouco produtivos, a acrescentar a isto, as lides domésticas e a preparação do jantar, elementos naturais da minha primeira experiência a viver fora de casa, tomavam conta das minhas noites tornando-me incapaz de mexer uma palha que fosse ao final do dia, quanto mais encontrar inspiração para ler ou para escrever.

Foi apenas quando troquei de emprego e voltei para casa, que pude ter tempo para me dedicar à tese. Ao contrário de Coimbra, em vez de um dia por semana, apenas tinha direito a uma tarde livre, com horas extra todos os dias para a compensar. Mas esta aparente diminuição do meu tempo livre acabou por ser vantajosa por um simples motivo: as viagens de comboio. Todos os dias gasto em média duas horas em transporte do trabalho para casa.

Decidi aproveitar esse tempo para ler artigos e delinear as minhas ideias para a tese. Durante o mês de Fevereiro não fiz outra coisa. Após a leitura dos artigos chegava a casa e seleccionava as passagens dignas de ser citadas, criando blocos de citações sob os diversos títulos das secções da minha tese, blocos esses que ao longo dos restantes meses tratei de preencher e repreencher através de ideias de ligação, para criar um texto coeso que resultou na minha revisão de literatura.

As sextas-feiras à tarde – foram estas as tardes livres que escolhi usar – eram passadas na faculdade, ora na FEUP, ora nas instalações da minha licenciatura, a ler artigos, a escrever, e a delinear o guião da curta-metragem interactiva que desenvolvi como projecto de tese. O resto do fim-de-semana era passado ora na FEUP, ora em casa, a fazer o mesmo, sendo que punha sempre de lado pelo menos uma tarde para passear com a minha namorada, também ela aluna do meu Mestrado e igualmente empenhada em desenvolver a sua tese. O mais difícil destes meses foi mesmo isso, conciliar a tese com a minha relação, com o meu grupo de amigos, e com a minha família.

Apenas consegui ter o guião terminado em meados de Abril. Não que ele fosse extremamente complexo, mas durante várias semanas sofri de um bloqueio criativo que me impediu de escrever fosse o que fosse além do jargão técnico da revisão da literatura.

Com o aproximar do final de Maio a minha tese já começava a ganhar forma, mas ainda faltava o projecto e o estudo, que temia estar condenado a ser pouco desenvolvido. Passei o final do mês de Maio, e o mês de Junho inteiro, em produção e pós-produção da curta-metragem em machinima, e no desenvolvimento da sua plataforma interactiva em MAX/MSP Jitter. Quando consegui ter uma primeira versão pronta, tirei alguns dias de férias e fui fazer os testes junto do público com um inquérito pouco desenvolvido.

Como o semestre já estava a terminar, embora tivesse gasto umas 12 horas na faculdade, apenas consegui encontrar 10 pessoas que se dispuseram a participar no meu estudo. O estudo era simples, consistindo de três etapas. Os participantes viam e interagiam com a plataforma, respondiam a um questionário e eram posteriormente entrevistados sobre a experiência. Com o pouco que consegui no tempo que me restava finalizei a tese e enviei-a para validação. Finalmente entreguei-a no dia 28 de Julho, quatro dias antes da data limite.

A partir daí restava apenas esperar. Esperei tanto que comecei a desesperar. A meio de Setembro fui passar férias no Algarve e levei o meu portátil para poder ver a minha conta de e-mail não fossem eles marcar a defesa em cima do joelho. Felizmente, acabaram por a marcar no dia 11 de Outubro. Apenas soube já dia um desse mês, mas ainda tive tempo de preparar a apresentação.

A defesa em si correu bem, consegui mostrar tudo o que queria dentro dos 20 minutos disponíveis e a própria arguição foi muito melhor que aquilo que estava à espera. O arguente já tinha trabalhado na área da minha dissertação e tinha um conhecimento muito vasto sobre transmedia e storytelling interactivo (não mencionei ali em cima mas foi este o tema da minha tese). Acabámos por ter uma boa conversa ao longo da arguição, embora o meu nervosismo se fizesse notar.

Terminada a arguição o Júri ficou a deliberar enquanto eu aguardava lá fora. Demoraram cerca de cinco minutos mas para mim pareceu-me uma eternidade. Quando finalmente me chamaram, o Presidente do Júri cumprimentou-me, deu-me os parabéns e disse que tinha tirado 16. Fiquei aliviado mas ao mesmo tempo um pouco desiludido. Queria ter tido 18, mas tenho consciência que as limitações do estudo efectuado acabaram por me prejudicar. Talvez o 17 fosse uma nota mais justa pelo empenho que tive no desenvolvimento do projecto, e pela sua qualidade final, mas visto que no final de contas mesmo que tivesse 17 a minha média de Mestrado manter-se-ia inalterada, embora o 16 não me tenha caído bem, aceito-a como um nota justa para a avaliação global que faço da minha tese, e deste ano de trabalho.

Fiquei com o bichinho de que podia ter feito um trabalho melhor e de que o quero fazer. Talvez um dia volte a pegar no meu projecto e o desenvolva para além do seu potencial corrente.

Terminado o meu Mestrado, no que respeita à dissertação apenas me queixo das inúmeras falhas burocráticas que todos sofremos ao longo deste ano. No início prometeram que teríamos vários seminários de apresentação do nosso desenvolvimento, algo que nunca chegou a acontecer. Também disseram que seria possível entregar em Setembro bastando para isso fazer um requerimento.

A meio do ano desmentiram-se e avisaram que se não entregássemos em Julho seríamos obrigados a pagar mais um ano de propinas. Iniciei um movimento de protesto contra estas contradições e, talvez por influência do elevado número de queixas, ou talvez por um descargo de consciência, voltaram atrás e acabaram por deixar entregar em Setembro todos aqueles que fizeram requerimento.

Apesar de ter entregue todos os documentos, incluindo a versão final da tese no dia 5 de Dezembro, apenas apareceu no meu perfil de estudante o estado de “Concluído” na passada quarta-feira, dia 28 de Dezembro. Até hoje ainda aguardo pela atribuição do meu certificado em papel. Dizem que dentro de uma semana já deve estar pronto, mas com estas burocracias é mesmo ver para crer.

Foi um longo caminho onde eu, e apenas eu, fui meu próprio inimigo. Ser-se trabalhador estudante não é para todos, e se pudesse ter essa escolha, preferia ter feito a tese apenas como estudante. Mas as nossas vidas têm que ter outras prioridades, e temos que aprender a ultrapassar os obstáculos pelos nossos próprios meios. Não me arrependo do trabalho que fiz e, embora sabendo que podia ter ido mais longe, fico contente por ter terminado esta etapa e por fazer uma pausa, por enquanto, no meu percurso académico.

Está na hora de descansar e de me encontrar a mim próprio. Caro eu do futuro, como digo no nome do meu projecto, Shall We Meet?

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