Tuesday, May 10, 2011

Leves Maçãs de Discórdia

“Um jogador descontente, sem capacidade de evolução, que viu no FC Porto uma nova oportunidade para se mostrar e talvez dar o salto que tanto ambiciona.” Corria o defeso de 2010, João Moutinho ainda recuperava de uma das piores épocas dos últimos anos, culminada com a ausência da convocatória para o Mundial na África do Sul, quando fez manchete ao surpreender o universo sportinguista com a sua transferência para o FC Porto.

O meu pensamento, na altura, materializou-se na citação que relembro em cima, e que vejo hoje confirmada nas próprias palavras do antigo capitão leonino. “Só jogando no FC Porto é possível ganhar títulos. Por isso mudei”, afirmou o jogador em declarações ao Público. De facto, quem joga pelo FC Porto arrisca-se a ser campeão, e assim foi.

Ao compararmos o João Moutinho do Sporting CP com o do FC Porto, poucas ou nenhumas diferenças se encontram além da cor da camisola. Como já nos tinha habituado de Leão ao peito, afirmou-se como uma pedra fundamental do meio-campo azul-e-branco. Finalmente teve a oportunidade de descansar, dado o elevado número de alternativas de qualidade, não tinha a obrigação de jogar os 90 minutos de cada partida e pôde, assim, manter um nível de frescura física e psicológica durante toda a época. Algo que no Sporting CP apenas aconteceu na sua época de estreia quando discutia com Hugo Viana por um lugar no losango de Peseiro. Curiosamente, nessa mesma época esteve perto de ser campeão e também chegou à final de uma competição europeia.

João Moutinho não foi para o FC Porto para crescer como jogador, mas sim para ganhar títulos, para descansar, e para se valorizar como um activo que dentro em breve fará valer ao Sporting CP os 25% que ainda mantém da sua cláusula de rescisão de 40 milhões de euros. “A nível financeiro, o negócio é favorável ao Sporting CP”, disse na altura e voltaria agora a reafirmá-lo, não fosse a perda desportiva ser tão alta.

Mantinha alguma esperança neste Sporting CP no início de época. As contratações pareciam ser as acertadas, e fora a venda de Miguel Veloso ao Génova, os negócios pareciam ir de vento em popa. Faltava apenas Paulo Sérgio afirmar-se como o treinador ideal para este Sporting CP. Os bons resultados na Liga Europa ofuscavam a má prestação no campeonato e, dadas as habituais segundas voltas de sucesso a que o Sporting CP nos tinha habituado nas últimas épocas, até Janeiro ainda acreditava que uma boa carreira europeia, assim como a conquista das taças, era possível.

Mas Janeiro chegou, Liedson despediu-se, e a esperança desvaneceu. O Glasgow Rangers levou a sua melhor em Alvalade, o Vitória de Setúbal teve a sorte do jogo na Taça de Portugal, e o SL Benfica deixou-nos para trás na Taça da Liga.

A equipa que terminou a época 2009/2010 não conquistou nenhum título, mas jogava melhor futebol. Na Liga Europa alcançámos os oitavos-de-final e fomos eliminados com um empate a duas bolas em casa pelo Atlético de Madrid que viria a erguer o troféu. Na Taça de Portugal, apesar da goleada no Dragão, alcançámos os quartos-de-final, enquanto na Taça da Liga voltámos a não ir além das meias-finais. João Moutinho, Miguel Veloso e Liedson, alvos de contestação pela má época verde-e-branca, são hoje vistos como as principais ausências responsáveis pela tremenda quebra de qualidade vivida nos últimos meses.

Adrien Silva, Bruno Pereirinha e André Marques são outras promessas postas a “rodar” que podiam ter trazido uma maior estabilidade, e sentido de coesão, para esta equipa que teve na sua ineficiência defensiva, e ineficácia ofensiva, as principais deficiências que levaram a um constante insucesso desportivo.

Más decisões e um péssimo plano de investimento ditaram a realidade actual do Sporting CP. A próxima época, e esta nova direcção, ditam uma certa mudança de mentalidade. A aposta num bom treinador com provas dadas como é Domingos Paciência e uma política de contratações baseada em jovens com margem de progressão, em jogadores internacionais de renome, e na promoção de promessas da Academia de Alcochete, criam já uma base ideológica capaz de dar frutos a médio e longo prazo.

Resta aos sócios encontrarem a paciência necessária para aceitarem este novo projecto e aguardarem pelos títulos que certamente a ele virão ligados. Não seremos campeões para o ano, falta-nos uma base coerente e mesmo com as contratações anunciadas qualquer equipa em renovação precisa de tempo para se afirmar desportivamente. Mas mesmo que falhemos o primeiro lugar, acredito que ao manter esta coerência o Sporting CP será capaz de o disputar até ao fim, sem descurar um possível sucesso europeu.

Que acabem as maçãs podres, os desvios de jogadores e treinadores. Que terminem os rumores, e as constantes notícias de instabilidade. Está na altura da comunidade sportinguista se unir e ajudar a elevar este clube ao patamar competitivo que verdadeiramente merece.

Friday, May 06, 2011

De Braga a Bom Porto

Sorteio Liga Europa, Imagem DR
Há imagens que ficam gravadas na mente, memórias fotográficas de momentos que tão cedo não esqueceremos. Uma delas já tem alguns meses mas permanece tão clara como se ainda mesmo agora a tivesse acabado de ver. A fotografia de um painel, simples, que encontrei por acaso ao ler uma notícia.

O painel mostrava o resultado do sorteio dos quartos-de-final da Liga Europa. FC Porto, SL Benfica, SC Braga e mais cinco clubes, cinco clubes estrangeiros, adversários com a ambição de levantar a taça em Dublin. Cinco adversários, nenhum deles português, nenhum deles de nome, Sporting Clube de Portugal.

Jogavam-se os 16-avos de final, o Sporting CP defrontava os escoceses do Glasgow Rangers em casa e estavam a ganhar por duas bolas a uma. Na primeira-mão em Glasgow o jogo tinha terminado empatado, um golo para cada lado, com o Sporting CP a recuperar da desvantagem mesmo ao cair do pano. Adivinhava-se mais uma caminhada histórica como a vivida na época 2004/05. O jogo tinha começado às 18h05, eu regressava a casa do trabalho por volta das 20h e vi o resultado antes de entrar no carro, 2-1, faltavam cerca de três minutos para o final. Já está ganho, pensei, guardando algum do receio que negava ter.

Cheguei a casa e encontrei o meu pai a vir do café, o jogo já teria terminado e perguntei-lhe se o resultado se tinha mantido. Quando ele me confirmou o 2-2 final, limitei-me a aceitar o triste destino de uma sina que parecia condenar ao desastre esta época sportinguista. A História tinha voltado a repetir-se, já na época anterior o mesmo Sporting CP foi eliminado com um empate a duas bolas em casa, não pelo Glasgow Rangers, mas pelo Atlético de Madrid.

Tivesse o Sporting CP passado com toda a justiça que merecia, teria defrontado o PSV Eindhoven e ao deixar os holandeses pelo caminho, quisesse o sorteio manter os mesmos desígnios, disputaria com o SL Benfica, o eterno rival, por um lugar nas meias-finais. Talvez aí, a fotografia fosse diferente, e em vez de cinco seriam apenas quatro os adversários além-fronteiriços prontos para destronar o sonho luso de uma final cantada sob a língua de Camões.

Mesmo que o SL Benfica tivesse levado a melhor sobre os leões, e mesmo que os minhotos tivessem deixado o Sporting de Alvalade para trás, pelo menos, naquele momento, no rescaldo daquele sorteio, também de verde seria pintada aquela imagem que solenemente navega pelos rios das minhas recordações.

Assim não aconteceu. Passámos ao lado da História, talvez por não estar escrito que esta história fosse a nossa, talvez por ser a altura de dar lugar a outros que também lutam pelo mesmo sonho. Seja qual for a razão, ontem vimos os jogos em casa, ou nas bancadas. Sentámo-nos nas margens enquanto os outros remavam, reservando para nós o consolo de ter partilhado metade do caminho que no dia 18 de Maio de 2011 será para sempre relembrado na História do futebol nacional.

Curiosamente, foi também a 18 de Maio de 2005 que o Sporting CP disputou a final da Taça UEFA. Deixemos que SC Braga e FC Porto façam igualmente História dentro de alguns dias, enaltecendo o mérito das extraordinárias campanhas que ambos fizeram para ali chegar. Outras Histórias serão escritas, apenas espero que da próxima vez o Sporting CP não volte a naufragar nas margens do seu próprio destino.