Saturday, December 31, 2011

Em 2011

Em 2011 sofri, voltei para casa, aceitei novos desafios, apaixonei-me, magoei-me, sarei feridas, resolvi o meu passado, li, estudei, criei, defendi a tese e tornei-me Mestre, fui a Roma, ao Vaticano, passei férias no Algarve, vi fósseis de dinossauros de perto, pisei nas suas pegadas, rezei, fui a Fátima, comi Venezas, Estrelas de Fátima, Palmiers de Ovos Moles com Chocolate, experimentei Marmite, joguei PS3, melhorei as minhas técnicas de fotografia, tive uma má aterragem de avião, quase morri, comi francesinhas, tornei-me um Mestre Pokémon, voltei a estudar Russo, saí com os meus amigos, conheci pessoas novas e outras que já conhecia, escrevi 30 artigos no meu blogue, dois contos e um poema, fiz promessas que não cumpri, outras que concretizei, abasteci o meu carro, vi-o avariar em plena auto-estrada, chamei o reboque e segui para casa, passei noites em relento, andei de bicicleta, corri, ouvi música no meu leitor de MP3, no meu leitor de CDs, no meu carro e na minha aparelhagem, vi televisão, vi séries, comentei em fóruns, em blogues e redes sociais, apanhei limões, rasguei algumas calças, comprei outras, troquei de óculos, comprei lentes novas, comprei uma mochila nova, fui trabalhar, saí mais cedo, saí a horas, saí mais tarde, cheguei mais cedo, cheguei a horas, cheguei atrasado, descobri o 9gag, não me esqueci da Memebase, fui a Oeiras, fui a Lisboa, almocei em Beja, visitei Sintra, comi queijadinhas, vi Within Temptation no Coliseu do Porto, vi Peter Hook na Casa da Música, fui a Guimarães, a Ul, estive duas horas na fila para ir ao S. Paio, apanhei chuva e vim-me embora, discuti, fiz small talk, vi o Sporting CP a perder, a empatar e a vencer, comi um Banana Split, joguei voleibol na praia, voltei a nadar no mar, visitei o Sea Life, deixei cair o meu telemóvel, andei de autocarro, de comboio, a pé, participei na Meia Maratona Cidade de Ovar, perdi 10 euros em Roma, discursei no anfiteatro de Ostia Antica, pisei a areia negra das suas praias, apanhei calor, tomei banho, cortei o cabelo, dancei, cantei, bebi, diverti-me, vi o Em Busca do Vale Encantado, não chorei, arrumei o meu quarto, organizei os meus livros, os meus CDs e os meus Vinis, fiz compras inúteis, outras úteis, outras desnecessárias mas que queria, ganhei, poupei, assustei-me, enganei-me no nome das pessoas, fiquei acordado até madrugada apenas a falar, comi alheiras, filetes de polvo, fui ao cinema, arrependi-me, procrastinei, fiz coisas à pressa, menti, confessei-me, aceitei quem eu era, arrisquei, empenhei-me, desiludi-me, acreditei, fiz um intra-rail, fiz planos, mudei de ideias, gritei, chateei-me, indignei-me, acalmei, ganhei confiança, sensatez e acreditei em mim.

Em 2011 cresci, em 2011 vivi.

Concluído

Procrastinar foi a palavra de ordem do último ano. Nem sempre provocada por simples preguiça, a verdade é que o eterno defeito de adiar, e deixar tudo para as últimas, acabou por deixar a sua marca nas etapas finais do desenvolvimento, e da defesa da minha tese de Mestrado.

Embora oficialmente tivesse iniciado a dissertação no dia 13 de Setembro de 2010, foi apenas em Janeiro deste ano que comecei a trabalhar mais a sério na sua execução. Durante os primeiros meses, o meu emprego em Coimbra e o stress das viagens constantes tornavam os meus fins-de-semana muito pouco produtivos, a acrescentar a isto, as lides domésticas e a preparação do jantar, elementos naturais da minha primeira experiência a viver fora de casa, tomavam conta das minhas noites tornando-me incapaz de mexer uma palha que fosse ao final do dia, quanto mais encontrar inspiração para ler ou para escrever.

Foi apenas quando troquei de emprego e voltei para casa, que pude ter tempo para me dedicar à tese. Ao contrário de Coimbra, em vez de um dia por semana, apenas tinha direito a uma tarde livre, com horas extra todos os dias para a compensar. Mas esta aparente diminuição do meu tempo livre acabou por ser vantajosa por um simples motivo: as viagens de comboio. Todos os dias gasto em média duas horas em transporte do trabalho para casa.

Decidi aproveitar esse tempo para ler artigos e delinear as minhas ideias para a tese. Durante o mês de Fevereiro não fiz outra coisa. Após a leitura dos artigos chegava a casa e seleccionava as passagens dignas de ser citadas, criando blocos de citações sob os diversos títulos das secções da minha tese, blocos esses que ao longo dos restantes meses tratei de preencher e repreencher através de ideias de ligação, para criar um texto coeso que resultou na minha revisão de literatura.

As sextas-feiras à tarde – foram estas as tardes livres que escolhi usar – eram passadas na faculdade, ora na FEUP, ora nas instalações da minha licenciatura, a ler artigos, a escrever, e a delinear o guião da curta-metragem interactiva que desenvolvi como projecto de tese. O resto do fim-de-semana era passado ora na FEUP, ora em casa, a fazer o mesmo, sendo que punha sempre de lado pelo menos uma tarde para passear com a minha namorada, também ela aluna do meu Mestrado e igualmente empenhada em desenvolver a sua tese. O mais difícil destes meses foi mesmo isso, conciliar a tese com a minha relação, com o meu grupo de amigos, e com a minha família.

Apenas consegui ter o guião terminado em meados de Abril. Não que ele fosse extremamente complexo, mas durante várias semanas sofri de um bloqueio criativo que me impediu de escrever fosse o que fosse além do jargão técnico da revisão da literatura.

Com o aproximar do final de Maio a minha tese já começava a ganhar forma, mas ainda faltava o projecto e o estudo, que temia estar condenado a ser pouco desenvolvido. Passei o final do mês de Maio, e o mês de Junho inteiro, em produção e pós-produção da curta-metragem em machinima, e no desenvolvimento da sua plataforma interactiva em MAX/MSP Jitter. Quando consegui ter uma primeira versão pronta, tirei alguns dias de férias e fui fazer os testes junto do público com um inquérito pouco desenvolvido.

Como o semestre já estava a terminar, embora tivesse gasto umas 12 horas na faculdade, apenas consegui encontrar 10 pessoas que se dispuseram a participar no meu estudo. O estudo era simples, consistindo de três etapas. Os participantes viam e interagiam com a plataforma, respondiam a um questionário e eram posteriormente entrevistados sobre a experiência. Com o pouco que consegui no tempo que me restava finalizei a tese e enviei-a para validação. Finalmente entreguei-a no dia 28 de Julho, quatro dias antes da data limite.

A partir daí restava apenas esperar. Esperei tanto que comecei a desesperar. A meio de Setembro fui passar férias no Algarve e levei o meu portátil para poder ver a minha conta de e-mail não fossem eles marcar a defesa em cima do joelho. Felizmente, acabaram por a marcar no dia 11 de Outubro. Apenas soube já dia um desse mês, mas ainda tive tempo de preparar a apresentação.

A defesa em si correu bem, consegui mostrar tudo o que queria dentro dos 20 minutos disponíveis e a própria arguição foi muito melhor que aquilo que estava à espera. O arguente já tinha trabalhado na área da minha dissertação e tinha um conhecimento muito vasto sobre transmedia e storytelling interactivo (não mencionei ali em cima mas foi este o tema da minha tese). Acabámos por ter uma boa conversa ao longo da arguição, embora o meu nervosismo se fizesse notar.

Terminada a arguição o Júri ficou a deliberar enquanto eu aguardava lá fora. Demoraram cerca de cinco minutos mas para mim pareceu-me uma eternidade. Quando finalmente me chamaram, o Presidente do Júri cumprimentou-me, deu-me os parabéns e disse que tinha tirado 16. Fiquei aliviado mas ao mesmo tempo um pouco desiludido. Queria ter tido 18, mas tenho consciência que as limitações do estudo efectuado acabaram por me prejudicar. Talvez o 17 fosse uma nota mais justa pelo empenho que tive no desenvolvimento do projecto, e pela sua qualidade final, mas visto que no final de contas mesmo que tivesse 17 a minha média de Mestrado manter-se-ia inalterada, embora o 16 não me tenha caído bem, aceito-a como um nota justa para a avaliação global que faço da minha tese, e deste ano de trabalho.

Fiquei com o bichinho de que podia ter feito um trabalho melhor e de que o quero fazer. Talvez um dia volte a pegar no meu projecto e o desenvolva para além do seu potencial corrente.

Terminado o meu Mestrado, no que respeita à dissertação apenas me queixo das inúmeras falhas burocráticas que todos sofremos ao longo deste ano. No início prometeram que teríamos vários seminários de apresentação do nosso desenvolvimento, algo que nunca chegou a acontecer. Também disseram que seria possível entregar em Setembro bastando para isso fazer um requerimento.

A meio do ano desmentiram-se e avisaram que se não entregássemos em Julho seríamos obrigados a pagar mais um ano de propinas. Iniciei um movimento de protesto contra estas contradições e, talvez por influência do elevado número de queixas, ou talvez por um descargo de consciência, voltaram atrás e acabaram por deixar entregar em Setembro todos aqueles que fizeram requerimento.

Apesar de ter entregue todos os documentos, incluindo a versão final da tese no dia 5 de Dezembro, apenas apareceu no meu perfil de estudante o estado de “Concluído” na passada quarta-feira, dia 28 de Dezembro. Até hoje ainda aguardo pela atribuição do meu certificado em papel. Dizem que dentro de uma semana já deve estar pronto, mas com estas burocracias é mesmo ver para crer.

Foi um longo caminho onde eu, e apenas eu, fui meu próprio inimigo. Ser-se trabalhador estudante não é para todos, e se pudesse ter essa escolha, preferia ter feito a tese apenas como estudante. Mas as nossas vidas têm que ter outras prioridades, e temos que aprender a ultrapassar os obstáculos pelos nossos próprios meios. Não me arrependo do trabalho que fiz e, embora sabendo que podia ter ido mais longe, fico contente por ter terminado esta etapa e por fazer uma pausa, por enquanto, no meu percurso académico.

Está na hora de descansar e de me encontrar a mim próprio. Caro eu do futuro, como digo no nome do meu projecto, Shall We Meet?

As Compras Inúteis de 2011

Curiosidade, desejos antigos, ou simples impulsos do momento, forçam-nos a comprar coisas que não precisamos. Embora estes casos sejam muito pontuais acabam por ficar na memória mesmo depois de nos livrarmos deles, nem que seja pelo dinheiro que foi desperdiçado de forma tão casual.

2011 não foi dos anos com maior número de desastres orçamentais, mas aqueles que aconteceram merecem algum destaque.


Frasco de Marmite
1.º Lugar) Marmite (Continente de Lagos - € 4,34)

Há já vários anos que tenho ouvido falar desta fantástica “compota” vitamínica muito popular nas terras de Sua Majestade. Famosa entre a comunidade vegetariana (e não só), marmite é feita através de extracto de levedura e muito rica em B12. A sabedoria popular diz que é daquelas coisas que não têm meio-termo, ou se adora ou se detesta.

Apesar dos diversos avisos a alertar que apenas as pessoas que comiam marmite desde uma tenra idade são capazes de verdadeiramente gostar disto, sempre tive curiosidade em provar.

Descobri que se vendia no Continente através da loja online, mas nunca a tinha visto à venda. Enquanto passava férias no Algarve, fui ao Continente de Lagos fazer algumas compras e no meio dos molhos de culinária lá estavam uns quantos frascos de marmite. Senti alguma relutância em trazê-la dado o preço elevado, mas como só se vive uma vês, quando seria a próxima oportunidade para comprar um frasco destes?

Guardei-o no apartamento durante alguns dias, ganhando coragem para descobrir se o investimento tinha valido a pena. A Internet dizia-me que a melhor forma de comer marmite era em tostas com queijo. Assim fiz. Foi de longe a pior experiência gastronómica da minha vida. Só de pensar no sabor daquilo dá-me vómitos. É tão enjoativo e sabe a cerveja morta. Experimentei novamente com queijo para ver se cortava o sabor, mas não, por incrível que pareça ainda soube pior.

Parece-me que faço parte da percentagem da população que odeia marmite. Paciência, terei sempre Nutella, Manteiga de Amendoim ou Geleia para barrar no pão ou nas tostas e sou feliz assim. Já agora deixo-vos com uma pequena dica culinária: Tostas com Atum e Geleia é muito bom, eu sei que a ideia vos repugna, mas acreditem é a das melhores combinações que alguma vez comi em tostas.

Letterman Jacket
2.º Lugar) Imitação de Letterman Jacket (€ 22,5)

Talvez por influência dos filmes de adolescentes norte-americanos sempre quis ter um Letterman Jacket. Por diversas vezes pesquisei online por um, mas sempre que encontrava o preço andava à volta de 200 dólares, demasiado caro para um simples casaco. Recentemente descobri que na Zara vendiam alguns modelos, mas eram vermelhos e o preço rondava os € 45 o que também considero caro visto que seria um casaco para usar apenas algumas vezes.

Um dia passeava por Ovar e vi na montra de um pronto-a-vestir que tinham desses casacos à venda por apenas € 22,5. Decidi aproveitar a oportunidade, contudo, a loja estava sempre fechada aos fins-de-semana e durante a semana fechava às 19h. Um dia saí mais cedo do trabalho e pedi à minha mãe para me encontrar lá na loja. Quando cheguei a senhora estava a fechar e apenas restava a minha mãe que lhe tinha pedido para esperar por mim. Cheguei, experimentei o casaco, ficava-me bem mas reparei que tinha algumas coisas escritas que não faziam sentido nenhum e que além disso ficavam horríveis. Por culpa de ver a senhora ali a adiar o fecho por minha causa acabei por o comprar, pensando que os dotes de costureira da minha mãe seriam suficientes para retirar esses escritos. Infelizmente quando cheguei a casa ela disse-me que não dava para tirar. Como os restantes artigos da loja eram, bom, maus, optei por não trocar.

Apenas o usei uma vês no sábado de Carnaval. Actualmente estou a tentar vendê-lo através de um site de leilões online para tentar recuperar o dinheiro. Não é que o casaco tenha algum defeito, simplesmente é demasiado piroso e não tem nada a ver comigo.

Enfim, devia ter tido mais coragem para chegar à beira da senhora e dizer: “Desculpe lá, mas afinal não o quero levar”. Uma frase tão simples que me teria poupado € 22,5 e que me daria mais algum espaço no meu armário.

Mochila Eastpak
3.º Lugar) Mochila Eastpak (Amazon.co.uk - £ 9,99)

Não comprava uma mochila nova desde 2001. Como a minha já estava bastante deteriorada e com o regresso das aulas de Russo decidi comprar uma mochila nova. Vi que as mochilas da Eastpak estavam em promoção no Amazon.co.uk e com o preço de 10 libras não foi difícil aproveitar a promoção. Sempre quis ter uma mochila da Eastpak, não por toda a gente ter uma, mas pelo seu design simples e prático. Duas semanas depois ela chegou a casa mas para meu descontentamento as alças estavam rígidas. É impossível usá-la sem que as alças fiquem espetadas para a frente em forma de triângulo. Já tentei andar em casa com ela para ver se as alças ganhavam a forma dos meus ombros e até tentei pôr alguns livros pesados para a moldar, mas sem efeito. Não me admira que estivesse tão barata, tem defeito!

Embora as compras online sejam muito úteis, sendo que até hoje tive muitas poucas razões de queixa, no que toca a roupa e acessórios o melhor é limitar-me a comprar nacional e em loja.

Vejo-me assim preso com uma mochila da Eastpak nova, sem uso, mas inútil pois não a posso usar sem parecer muito ridículo. Se a usar apenas num ombro não se nota, mas aí perde completamente o propósito para o qual a comprei.

Em 2012 vou tentar conter os meus impulsos consumistas e aprender a dizer não, por pior que isso pareça. Espero que daqui a um ano não sinta necessidade de repetir uma lista deste género, mas se o fizer, que esta seja mais curta ou pelo menos, menos dispendiosa.   

Friday, December 23, 2011

O Regresso da Véspera da Véspera de Natal Parte V

365 dias, 20 bilharacos, 15 iPads, 9 posts do 9gag, 7 partidas de Itália 90, 3 ligas Pokémon, um Mindo e 0 pencas depois, está de regresso a Véspera da Véspera de Natal. Sim, o momento mais aguardado durante todo o ano está de regresso para vos maravilhar com a mais épica história de proporções altamente altas sem sentido algum de existência, além do propósito apresentado perante vós.

A batalha já ia longa, Jesus e D. Afonso Henriques apenas tinham uma última opção, o próximo movimento ia ditar o resultado final. Não havia espaço para falhar.

“Mindo escolho-te a ti”, grita Jesus esgotando as últimas réstias de fôlego dos seus pulmões.

Um Mindo selvagem aparece. Mindo diz “Isso é subjectivo”. Não é muito eficaz.

“Uno” responde D. Afonso Henriques. Metade dos espectadores pasmam-se de incredulidade com o que acabaram de ver. Salazar cai da sua cadeira, Fernando Pessoa perde os óculos e o Passos Coelho vai voar em turística na TAP, embora ele não tenha que pagar o lugar, fica sempre bem.

“Ó Afonso, ó Afonso, Afonso! Afonso! Ó Afonso! Afonso!”, chama alguém da plateia.

“Que é?! Não vês que estou a tentar sincronizar-me!”

“Não queres dizer ‘concentrar-te’?”

“Eu tenho uma espada de 5 metros. E tu? Já comeste fruta hoje?”

“Comi dois Kiwis e uma banana, e pelo menos sei que não estás a jogar UNO!”

“Que queres que faça? O Eusébio está no Hospital e o Vasco da Gama anda perdido na terra desconhecida chamada Brasil.”

“Usa os Pastéis de Nata, são a fraqueza do Mindo!”

D. Afonso Henriques usa Pastéis de Nata. Mindo está a comer.

Mindo diz “Isso é subjectivo”. Não é muito eficaz.

Jesus dirige-se aos seus discípulos dizendo, “Tomai todos White Russians e dizei, Thou Shalt Not Fuck With the Jesus!”

D. Afonso Henriques recolhe os Pastéis de Nata antes que eles iniciem a sua revolta.

D. Afonso Henriques envia The Dude.

Mindo diz “Isso é subjectivo.”

The Dude responde “Bom, isso é tipo, a tua opinião, meu.”

Mindo está paralisado, não se pode mexer.

Toda a audiência fica expectante, parece que as coisas estão a virar em favor do Afonsinho e da sua espada de cinco metros.

“Vai bater mas é na tua mãe”, responde Jesus.

The Dude põe os óculos e pega no tapete. Mindo já não está paralisado. Mindo usa elogio. “Esse tapete compõe mesmo a sala toda, meu.”

The Dude responde, “Íman”.

Mindo está confuso. Mindo começa a rir-se e a bater palmas. Eusébio aparece do nada, pela porta de acesso ao campo e atira a toalha para o meio da batalha.

“Tu é que és subjectivo!”

Mindo desmaia. The Dude bebe um White Russian. Passos Coelho manda uns putos emigrar, e o Fernando Pessoa encontra os seus óculos. Era Saramago quem os tinha.

Fernando Pessoa dá-lhe com uma luva na cara. “J’accuse!”

Saramago esfrega com o Acordo Ortográfico na cara do Pessoa.

Um selvagem Manuel Machado aparece. Meus caros indivíduos constituintes de uma massa não organizada reunida num lugar designado à prática de actividades de lazer por demonstração das proezas físicas, regulem o vosso nível emocional para um aspecto menos exaustivo e preponderante de exibição de sentimentos menos positivos que os habituais.

Saramago e Pessoa apertam a mão. D. Afonso Henriques, Jesus, os discípulos, Vasco da Gama, Eusébio, o Sexta-feira e o Mindo colocam-se ao seu lado. Manuel Machado apresenta agora um ar apreensivo. Os cinco juntam-se e exibem os seus anéis. “Terra, Água, Vento, Fogo, Coração”. “Pelos vossos poderes combinados eu sou o Capitão Planeta”. O Capitão Planeta faz o kame-ah-meh contra a cara do Manuel Machado, atingindo de raspão o Acordo Ortográfico que se desintegra como um sonho mau nas primeiras horas da manhã. O estádio rejubila de felicidade.

Passos Coelho, que passava por ali, começa a fugir para a classe turística do seu avião da TAP.

Almada Negreiros aparece à sua frente e impede-o de dar mais um Passo. “Acabou de ser revogada”. “Eu não disse nada que proporciona-se essa deixa do Arma Letal”. “Eu quero o que ela está a tomar”. “Isso é… Melhor?”

“Bom, isso é tipo a tua opinião, meu.”

Eusébio, está na hora de transmorfar. “Toalha”. Eusébio aparece vestido apenas com uma toalha, imediatamente cegando toda a gente à sua volta.

Em plena escuridão, Vasco da Gama descobre a Terra Desconhecida chamada Brasil, enquanto o The Dude diz “Não quero viver mais neste planeta”.

Uma figura escura aparece no meio do campo. “Eu quero ser mais que perfeito, maior do que a imaginação!”

Uma luz incandescente envolve toda a audiência que recupera instantaneamente a sua visão. Saramago pensa para si próprio, “Isto deu-me uma ideia para um livro, chamar-se-á Memorial do Convento”.

“Ele está a falar do Ensaio sobre a Cegueira”, diz Pessoa.

“Tu é que és!”

“Isso nem sequer faz sentido!”

“Tu é que tens dois sentidos!”

O Capitão Planeta chama D. Afonso Henriques para junto de si. “Empresta-me a tua espada”. “Eu não jogo nesse campeonato, esses fatinhos de Lycra com as cuecas para fora podem ficar-te bem, mas não assim tão bem!”

“Estou a falar literalmente da tua espada.”

“Ah, bom nesse caso, toma também um Pastel de Nata que pareces esfomeado.”

O Capitão Planeta usa a espada para trespassar Passos Coelho vigorosamente.

“Mais um Passo para salvar o planeta!”

“Bom, isso é tipo, a tua opinião, meu.”

Jesus aproxima-se do Capitão Planeta. Este coloca-lhe a mão no ombro e diz “Lembra-te, o Poder é teu!”

Eusébio volta a vestir-se, enquanto Jesus e D. Afonso Henriques apertam as mãos por uma batalha bem disputada.

No fim, o que conta é pormos de lado as nossas diferenças e unir-mo-nos contra os inimigos comuns.

Almada Negreiros, Fernando Pessoa, Saramago, os discípulos, The Dude, o Mindo, Eusébio, Vasco da Gama e o tipo do boné que apareceu no meio do campo aproximam-se das duas figuras que conversavam amigavelmente por ali.

“E agora todos numa só vós!”

Morram pencas, morram! Pim!

P.S.: Feliz Véspera da Véspera de Natal, o dia mais simbólico de todo o ano que passa despercebido a toda a gente.

Thursday, November 17, 2011

Cavaquinho

Imagem DR
Não mais irei ver o Paulo a fazer o cavaquinho ou o T-Rex. Por mais embriagado que ele esteja, tais momentos, embora épicos, não se vão voltar a repetir. O motivo é tão simples como a própria explicação que ele deu há algum tempo. Criámos e engrandecemos tanto as memórias do cavaquinho que qualquer tentativa de as recuperar apenas poderá resultar em desilusão e na consequente morte do mito.

Os heróis, ou melhor, a sua imagem constrói-se pelos mitos criados em volta das suas conquistas. Adorados pelos seus feitos, as suas histórias são vítimas de um estratégico embelezamento com o intuito de os elevar ao estatuto de campeões, de Deuses terrestres dignos de serem idolatrados por massas de devotos fãs.

Contudo, essas fábulas bem-intencionadas acabam por pesar na consciência do próprio herói, que assim se sujeita a ser acusado de fraude por um ou outro pormenor omitido, exagerado, ou não explicado. Mas, no final do dia, a real densidade deste peso não recai sobre o cavaleiro, nem tão pouco sobre o trovador, mas sim sobre o influenciável aprendiz que segue todas as suas pisadas.

O meu primeiro contacto com a dura realidade de um ídolo deu-se aquando da leitura de Touching From a Distance, biografia de Ian Curtis, vocalista dos Joy Division, escrita pela sua mulher Deborah. Ao descobrir os pormenores mais humanos da sua vida, envoltos em clichés de traição, drogas e egocentrismo, comecei a vê-lo como uma pessoa talentosa e não como o distante ídolo incompreendido que os bardos o faziam parecer. Não me desiludi, e não comecei a ouvir as suas músicas de maneira diferente. Senti-me mais próximo dele e aceitei-o como alguém com uma história real, com alguns pontuais rasgos de inspiração e de talento. Contudo, também compreendo que outros não pensem da mesma forma.

É preciso ter cuidado com as expectativas que criamos, com os pedestais que designamos para determinadas coisas. Quanto mais alto elevamos alguém, maior, e mais dolorosa, é a queda.

Não procuro elevar o Paulo, ou o seu cavaquinho, ao título de herói. As escassas vezes que testemunhei este acto vão para sempre ficar guardadas nas minhas memórias como momentos verdadeiramente épicos de uma genialidade criativa. Exemplos crus de como a falta de sentido de alguma coisa pode quebrar a monotonia de um simples almoço.

E para mim serão sempre isso, memórias. Não desejo voltar a ver o cavaquinho, e espero que ele não mais se repita. Deixemos que as suas histórias alimentem o mito, que esses momentos se cristalizem no tempo como marcos de uma História colectiva partilhada por todos aqueles que os testemunharam.

Deixemos que ele permaneça um segredo mistificado pelos nossos contos. Está na hora de o deixar descansar. O cavaquinho teve o seu tempo, e dele hoje me despeço.

Cavaquinho, cavaquinho, cavaquinho…

Wednesday, November 16, 2011

Com Tranquilidade

Imagem DR
A selecção portuguesa derrotou a Bósnia-Herzegovina por seis bolas a duas carimbando de forma categórica o passaporte para o Euro 2012. Apesar do que o resultado possa indicar, o jogo de ontem foi tudo menos fácil para a equipa das quinas.

Com uma confortável vantagem de dois golos à passagem da primeira meia hora, a selecção soube impor o seu jogo, construindo jogadas de ataque e impedindo que a Bósnia saísse do seu meio campo. Rui Patrício era um mero espectador perante a incapacidade dos bósnios de sair em contra-ataque. Contudo, quando Portugal estava próximo de fazer o terceiro golo, num espaço de cinco minutos, Hélder Postiga é admoestado com um cartão amarelo por simulação de uma falta na área da Bósnia, enquanto as imagens do lance demonstram claramente que era falta, e sofre o 2-1 num penalty marcado por mão de Fábio Coentrão, precedida por um empurrão nas costas do jogador que passou incólume aos olhos do árbitro.

A segunda parte adivinhava-se complicada, mas Portugal soube reagir bem com uma fantástica jogada de Cristiano Ronaldo culminada com um remate à entrada da área que resultou no terceiro golo da equipa das quinas. Novamente a euforia dos portugueses estava destinada a ter sol de pouca dura. Mais um erro de arbitragem a negar um penalty claro por mão do jogador bósnio serviu de presságio para o 3-2 marcado em fora-de-jogo na sequência de um livre onde a defesa portuguesa foi penalizada pela sua passividade.

Felizmente a selecção não se deixou abater e partiu para a goleada com dois golos de Hélder Postiga e mais um de Miguel Veloso. Ontem foi uma noite de festa no Estádio da Luz com a selecção portuguesa a garantir o apuramento para o quinto Campeonato da Europa consecutivo que se irá realizar em Junho de 2012 na Polónia e na Ucrânia.

Mas ontem foi também uma noite de avisos. A facilidade com que o árbitro favoreceu a selecção bósnia é um claro sinal de interesses externos que a todo o custo querem impedir que Portugal tenha sucesso. Embora tenha passado um pouco ao lado das incidências do play-off, no mesmo dia que a selecção se preparava para jogar a cartada decisiva de apuramento para o Euro 2012, Michel Platini, Presidente da UEFA, prestou declarações onde afirmava que Messi iria ultrapassar todos os seus recordes. Um comentário aparentemente inocente mas que mais uma vez ignorava as prestações e a qualidade de Cristiano Ronaldo.

Além do apuramento para o Campeonato da Europa, a noite de ontem trouxe-nos duas certezas: a nossa selecção ainda é muito passiva a defender e não podemos esperar exibições imparciais por parte das equipas de arbitragem. Cabe a Paulo Bento escolher os melhores jogadores, e melhorar a capacidade defensiva da equipa nos oito meses que restam até ao Euro 2012.

O segundo problema será resolvido com uma equipa de qualidade capaz de praticar bom futebol e de vencer categoricamente as selecções que aparecerem pelo nosso caminho. Só assim seremos capazes de ganhar o respeito que merecemos, calando de uma vez por todas as vozes internas e externas que se alimentam do nosso insucesso. Ontem conseguimos fazê-lo apesar das adversidades. Ontem fomos maiores que nós próprios ao garantir um lugar que já era nosso por direito.

Agora resta-nos sonhar, esquecer os desertores, e seleccionar os melhores 23 para representar a selecção e tentar, com tranquilidade, ir o mais longe possível, sempre com a visão da conquista no horizonte.

O nosso lugar na História está à distância de um sonho.

Tuesday, November 08, 2011

Se o Mundo Acabar Hoje?

Asteróide 2005 YU55, Foto DR
Por volta das 23h30 desta noite o asteróide 2005 YU55, com 400 metros de diâmetro, vai rasar a Terra a uma distância de 324.600 quilómetros, distância menor que a que separa a Lua do nosso planeta (384.000 km). Embora esta notícia não seja alvo de uma forte cobertura mediática, despertou em alguns cépticos um certo sentimento de apreensão, impulsionado por um alegado teste das transmissões de emergência dos media norte-americanos, que a FEMA (Federal Emergency Management Agency) tem programado precisamente para hoje.

Apesar deste sentimento não passar de uma preocupação desmedida, refutada pela comunidade astronómica mundial, não deixa de ser interessante ponderar sobre as eventuais consequências do impacto de um asteróide de grandes proporções no nosso planeta. Nestas situações é comum referir-se o asteróide de 10 km de diâmetro que caiu na Península do Yucatan (México) há cerca de 65 milhões de anos atrás, até hoje indicado como um dos principais responsáveis pela extinção dos dinossauros.

O que aconteceria então se o 2005 YU55 atingisse a Terra? Embora não tenha tamanho suficiente para causar um Evento de Nível de Extinção como aquele que caiu no México no final do período Cretácico, seria capaz de causar elevados estragos a uma escala global, dependendo da zona que fosse atingida.

Com fortes probabilidades de colidir numa zona marítima, visto o nosso planeta ser 70% coberto por água, causaria enormes tsunamis capazes de arrasar países inteiros, fazendo desaparecer linhas costeiras por completo. Mesmo regiões mais interiores a largas dezenas de quilómetros da zona de rebentação seriam afectadas pela fúria das águas.

Um impacto em terra teria resultados catastróficos, capaz de destruir uma região inteira e arrasar cidades, tornando inabitável toda a zona em volta. Mas as consequências em curto prazo não são nada em comparação com aquilo que a Humanidade teria que viver a seguir. Dependendo da zona atingida pelo asteróide, são diversas as consequências a longo prazo para a vida no nosso planeta.

Desde uma camada de poeira fina a cobrir a nossa atmosfera durante anos, a extensos invernos nucleares, causados por um abrupto aumento do efeito de estufa, nenhum cenário abonaria qualquer tipo de esperança para a manutenção do nosso nível de vida actual. Às incontáveis mortes causadas por fome, doença e exposição ao frio, há que acrescentar o racionamento de água e alimentos e a supressão de muitos dos direitos de uma sociedade democrática.

Como iria reagir a Humanidade a esta situação? Veríamos a luta pela repartição de recursos incrementar os conflitos entre os países? Seríamos solidários uns com os outros? Estaríamos prontos para dar a mão ao próximo sem nos preocuparmos connosco? Felizmente, não teremos que responder a estas perguntas tão cedo. Contudo, não deixa de ser irónico que embora sejamos mais evoluídos tecnologicamente que os nossos antepassados, continuamos a ser tão ou mais vulneráveis que os dinossauros quando confrontados com os desígnios do Universo.

Se o Mundo acabar hoje? A única certeza que temos é que por mais informados que estejamos nada nos poderá preparar para uma catástrofe de tamanhas proporções.

Para mais Informações:
What Would Happen if Asteroid 2005 YU55 Hit Earth?

Monday, October 17, 2011

Amor

Quando era pequeno costumava sonhar com a mesma rapariga noite após noite. Tinha olhos verdes, e cabelo ondulado de um castanho claro, quase loiro. Não me lembro dos pormenores dos sonhos, apenas que estávamos juntos, e que era feliz. Na verdade, há apenas um momento que me lembro com maior detalhe. Estávamos no jardim perto de minha casa quando chegou uma ambulância, ela entrou lá dentro e levantou voo.

Embora fosse novo demais para saber o que era amor, lembro-me de me sentir muito triste sempre que acordava, como se uma parte de mim tivesse sido retirada contra a minha vontade. Com o passar dos anos os sonhos tornaram-se menos frequentes, chegando ao ponto em que não me lembro da última vez que sonhei com ela. Mas, com o tempo, também ela crescia. O seu cabelo foi escurecendo. Começou a usá-lo apanhado em rabo-de-cavalo, em vez de solto. Os seus olhos de um verde brilhante eram dos mais belos que alguma vez vi.

Durante algum tempo tentei procurá-la mas, nas raras vezes que conhecia uma rapariga com as suas características, ela acabava por não corresponder àquilo que tinha imaginado. Após algumas tentativas falhadas, apercebi-me que não devia basear-me no aspecto físico, mas sim no sentimento que a sua simples presença despertava em mim. Esse sentimento é a base da minha definição de amor.

Acordar e sorrir por esse alguém estar no meu Mundo. Dar graças pela certeza que o que sentimos é real e não apenas um sonho. Ser feliz, ser inteiro, ser parte de algo mais. Ser capaz de me entregar a um nível em que ambas as almas se despem e assumem a sua vulnerabilidade na segurança do seu amor. Partilhar cada momento e querer tê-la ao meu lado quando todos os meus sonhos se concretizam. Afastá-la de qualquer dor, e confortá-la quando esta for inevitável. Para mim, isto é amor.

Não apenas paixão, ou desejo, mas algo mais seguro. Mais quente, mais permanente. Algo que desafia o próprio Universo. Algo que ultrapassa as barreiras do espaço e do tempo. Uma fé mais profunda que a de qualquer religião.

Por mais que o tente descrever, todas as palavras ficam sempre aquém desse subconsciente sentimento que criou em mim a imagem daquele alguém com quem devo partilhar o meu destino.

Ao dizer “amo-te” assino um contrato sob o nosso futuro. És a realização do meu sonho mais antigo, da primeira certeza que tive antes de me conhecer a mim próprio. A realidade de um sentimento desejado. Amar-te é sermos um, uma unidade maior que o próprio Universo. Amar-te é ser feliz. Amar-te é saber que és tu. É saber que sempre foste tu.

Thursday, October 13, 2011

O Meu Manifesto

Uma vez disseram-me que eu devia escolher as minhas batalhas, que é preciso separar as coisas pelas quais vale a pena lutar, das outras que não passam de desconfortos de conveniência. Nos últimos tempos tem surgido um crescente descrédito das manifestações dos “ocupas” e “desenrascados” que se fazem ouvir por todo o mundo, e embora me insira dentro desta geração, não deixo de concordar com a maioria das críticas a eles dirigidas.

Vale a pena lutar por mais oportunidades de emprego, vale a pena lutar contra o trabalho precário, vale a pena lutar por um futuro mais seguro, por melhores salários, por melhores regalias e por um tratamento mais humano com respeito pelo trabalhador. São ideais nobres defendidos pelos nossos antepassados ao longo dos séculos, algo com o qual me posso identificar. Contudo, embora estas manifestações se tenham erguido sob a bandeira desta ideologia, algumas questões radicais e impensadas têm ganho um relevo que não mereciam.

Em tempos de contenção financeira há certas medidas que devem ser debatidas e questionadas, mas não todas. O aumento de impostos coloca pressão sobre as famílias, mas tal é necessário para manter os sistemas educacional e de saúde a funcionar. Podemos questionar os restantes gastos, os investimentos mal feitos, mas os erros do passado existem para aprendermos com eles.

Não digo que as medidas actuais são as correctas, pois não o são. Não estamos a cometer os mesmos erros, mas continuaremos a errar enquanto não percebermos que a solução passa por um maior investimento na criação de emprego e de soluções estratégicas para relançar a economia. Isto são pontos aos quais os nossos líderes têm que dar resposta, mas onde podemos ajudar?

O nosso contributo como cidadãos comuns é simples, basta não vivermos acima das nossas possibilidades, não contrair créditos atrás de créditos, investir na educação, de preferência em cursos com um índice alto de empregabilidade e com um posicionamento económico estratégico, e combater o desemprego de longa duração com o risco do empreendedorismo. Mas podemos também ajudar através de medidas simples como comprar produtos nacionais, recorrer ao pequeno comércio e, sempre que possível, andar de transportes públicos.

Num mundo utópico um licenciado sairia da universidade directamente para o mercado de trabalho com o salário adequado à sua formação, contudo, tal não acontece. Embora esteja escrito em decreto-lei que o salário mínimo de um licenciado nunca deve ser inferior a mil e duzentos euros brutos mensais, o grande crescimento do número de licenciados, mais concretamente em áreas com um baixo índice de absorção e mobilidade no mercado de trabalho, torna isto impraticável.

Ao contrário do que muitos dos manifestantes reivindicam não podemos limitar-nos a esperar que nos ofereçam um emprego de mãos beijadas. Temos que construir currículo, temos que nos esforçar para dar o nosso melhor e, acima de tudo, temos que continuar a lutar pelo nosso lugar, sem nunca perder a esperança.

Após ter terminado a licenciatura estive quinze meses desempregado. Iniciei um mestrado numa área com maior empregabilidade que aquela em que me tinha licenciado. e continuei a construir currículo através de projectos não remunerados, de projectos pessoais, e de formação profissional.

Mas já tinha iniciado todo este processo ainda como estudante. Enviei currículos, fui a diversas entrevistas, mas apenas consegui emprego através de um programa do anterior governo. Essa primeira experiência deu-me alento e capacidade para enfrentar um potencial empregador com outras armas que aquelas que tinha até à altura.

Não me conformei com o meu contrato e continuei a procurar algo melhor, com um pouco de sorte encontrei um novo emprego e agarrei essa oportunidade. Todos os meses deixo algum dinheiro de lado, não pedi crédito para comprar carro, tenho um usado com dezassete anos que comprei com as minhas poupanças ainda quando era estudante. Não quero ser um exemplo para ninguém, mas pelo menos não tenho dívidas, trabalho na minha área e consegui tudo isto sem qualquer tipo de ajuda externa, ou plano de resgate.

A luta tão aclamada nas chamadas músicas de intervenção, não é um combate contra um sistema abstracto, mas uma luta pessoal para mostrarmos o nosso melhor, e fazer todos os possíveis para atingirmos os nossos objectivos.

Sim, há injustiças e devemos insurgir-nos contra elas. Temos que nos unir contra aquilo que é incorrecto, contra as medidas erradas, a nossa voz tem que ser ouvida, mas quando ela se elevar acima de toda a contestação não nos podemos engasgar, não podemos limitar-nos a fazer birras e exigências irrealistas, temos que saber argumentar a nossa posição, e reivindicar os nossos direitos.

Temos que nos mostrar solidários com a situação do país, e com as vidas dos nossos compatriotas. Temos que mostrar que somos uma geração capaz de pensar por si, de tomar as decisões acertadas, de lutar por aquilo em que acredita, mas que também é capaz de se conter, e de dar a mão a quem lhe pede ajuda.

Basta de conformismo, já chega de desabafos que terminem com “tem que ser”. Não podemos passar a vida à espera de dias melhores, está na hora de nos desenrascarmos, está na hora de sairmos à rua. Não para protestar, não para exigir mais que aquilo que é dado aos outros, mas sim para nos fazermos ouvir e para conquistarmos o nosso lugar de direito.

Está na hora de dizermos sim ao nosso futuro!

Sunday, September 25, 2011

As Terras do Meu Verão

Foto: Flamingo nas Salinas da Ria Formosa, Tavira; Autor: Adriano Cerqueira
Portugal
  • Albufeira (Visita)
  • Almancil (Visita, Compras&Utilidades)
  • Alqueva (Visita à Barragem)
  • Aveiro (Visita, Compras&Utilidades)
  • Bairro (Visita à Serra d'Aire)
  • Beja (Almoço)
  • Castelo Ventoso (Almoço)
  • Faro (Visita, Compras&Utilidades)
  • Fátima (Visita)
  • Lisboa (Visita)
  • Loulé (Compras&Utilidades)
  • Monte Gordo (Visita)
  • Moura (Passagem)
  • Oeiras (Estadia)
  • Olhão (Jantar)
  • Portel (Passagem)
  • Porto (Visita)
  • Quarteira (Férias)
  • Santa Maria da Feira (Feira Medieval)
  • Santo Tirso (Volta a Portugal)
  • São João da Madeira (Compras&Utilidades, Cinema)
  • Sintra (Visita)
  • Tavira (Visita)
  • Torreira (S. Paio)
  • Vila Nova de Gaia (Visita)
  • Vila Real de Santo António (Visita)
  • Vilamoura (Visita)

Itália
  • Roma (Estadia)
  • Ostia (Visita a Ostia Antica, Praia)

Vaticano
  • Cidade do Vaticano (Visita à Necropolis e Basílica de São Pedro) 

Monday, September 05, 2011

Ao Abrigo da Casa Mortuária

Já passava das dez e meia da noite quando o Fernando passou por minha casa para me dar boleia até ao S. Paio. Sob a escuridão da noite o céu carregado de nuvens ameaçava chover. “O cenário ideal para uma festa na praia”, pensei. Entrei no seu jipe onde já me aguardavam o Paulo e o João. Fizemos o desvio habitual por S. João de Ovar para ir buscar o Xavier, e fizemo-nos à estrada com a esperança que a viagem, tal como a noite fossem curtas. Mal podíamos imaginar o quão errados estávamos.

O S. Paio realiza-se todos os anos no início de Setembro na praia da Torreira, concelho da Murtosa. Dura cerca de uma semana, recheada com concertos, romarias, e outras festividades típicas das festas de Verão. Na verdade, é a última festa de Verão para os estudantes da região, o que acaba por atrair pessoas de vários sítios, muito além dos concelhos contíguos de Ovar, Estarreja, Espinho ou Aveiro.

Os 16 quilómetros que separam Ovar da Torreira, num dia normal, são feitos em cerca de vinte minutos, dependendo do trânsito. Dada a afluência habitual deste tipo de festas é natural esperar que a viagem não seja feita de forma tão rápida e tranquila como de costume. A experiência de anos anteriores dizia-nos que o habitual é perder cerca de uma hora na fila até chegar à Torreira, seguida de uma dor de cabeça infernal à procura de um lugar para estacionar.

Ao entrar na estrada nacional que atravessa a Ria de Aveiro até S. Jacinto estranhámos a falta de trânsito. Parecia que este ano iam menos pessoas, o que até fazia sentido visto terem reaberto o Parque de Campismo, e como a noite se adivinhava chuvosa a maioria das pessoas teria preferido ficar em casa em vez de se aventurarem por estes lados. Mas, como já diz a sabedoria popular, as aparências iludem.

Chegados ao Vela Areinho encontrámos os primeiros sinais da fila que nos atormentaria o resto da noite. “Tens aí lugar”, dizia eu em tom de brincadeira visto que ainda estávamos a cerca de doze quilómetros do nosso destino. Em retrospectiva, se tivéssemos ficado por ali, talvez não teríamos demorado tanto tempo a lá chegar.

O principal ponto de referência, que é ao mesmo tempo o local de trânsito crítico entre Ovar e a Torreira, é a Ponte da Varela que atravessa a Ria de Aveiro e liga a Murtosa à Torreira. A ponte fica a cerca de cinco quilómetros da Torreira e é o ponto de convergência entre os carros vindos de Norte, de Este a partir de Estarreja, e de Sul. Ao fim-de-semana durante o Verão é habitual haver problemas de trânsito nesta zona por causa das praias, mas nada que se compare com o que aconteceu naquela noite.

Era meia-noite em ponto, estávamos em viagem há cerca de uma hora e vinte minutos. A ponte ainda era uma mera miragem no horizonte. Conseguíamos ver o fogo-de-artifício à distância enquanto a frustração de não conseguirmos sair do mesmo sítio começava a fazer as suas mazelas.

Passámos por um desvio manhoso onde alguns carros estavam a virar em direcção às Quintas do Norte. Decidimos voltar para trás e arriscar seguir por esse caminho. As vantagens de ter um jipe é que os caminhos de gado, embelezados por ervas altas e areia solta não são um grande problema. Aquele caminho foi de facto dar às Quintas do Norte, contudo voltámos a apanhar outra fila. Não fomos os únicos a ter aquela ideia.

Ao fim de meia hora de pouca evolução, deparámo-nos de novo com outra estrada secundária. Arriscámos novamente, desta vez na retaguarda de um SUV que parecia conhecer o caminho. Contudo, como já é habitual, em vez de o seguirmos até ao destino, decidimos explorar um desvio que parecia não ir dar a lado nenhum. “É assim que todos os filmes de terror começam”, disse, em protesto por não termos continuado a seguir o SUV. Após uns dez minutos de solavancos fomos dar a uma ETAR escondida no meio do mato. Não tivemos alternativa se não voltar para trás.

Quando finalmente regressámos à civilização conseguimos sair numa rotunda já depois da ponte. Voltámos para a fila inicial que apesar de andar devagar, pelo menos estava bem mais fluida que aquela de onde saímos. Era uma da manhã quando finalmente chegámos à Torreira. Não tivemos meias medidas e estacionámos o carro às portas da cidade em cima de um passeio.

Fizemos a pé o resto do caminho, com a chuva miudinha a transformar-se em chuva a sério. Felizmente tinha levado um casaco com capuz, que embora não fosse impermeável para aquela situação servia.

Decidimos parar na Casa Mortuária onde um grupo de pessoas se estava a abrigar do mau tempo. O Luís e o Edgar que estavam ali a acampar vieram ter connosco. Falámos durante cerca de uma hora na esperança que a chuva parasse. Tal não aconteceu. Despedimo-nos deles e voltámos para o carro.

Apesar do mau tempo, a fila continuava longa, agora em ambas as direcções. Fazer inversão de marcha naquela zona foi um verdadeiro martírio, chegámos a estar com o jipe perpendicular à estrada, tapando duas faixas, enquanto uma ambulância se aproximava. Felizmente conseguimos entrar na fila antes que ela chegasse.

É de estranhar que a GNR apenas estivesse a controlar o trânsito na entrada da Torreira e em uma das rotundas depois da ponte. Não deviam ter agentes destacados ao longo de todo o percurso? E em todos os pontos críticos de trânsito?

Chegados à rotunda onde tínhamos entrado, decidimos voltar pelo mesmo caminho através das Quintas do Norte. Uma senhora que bloqueava a nossa saída, saiu do carro para nos perguntar se dava para ir por ali para a Torreira. O meu pensamento para com esta alma perdida foi: “Com este tempo e ao fim de horas na fila, porque não quer ir embora?”

Daí para a frente a viagem foi calma e sem grandes incidentes. Chegámos ao Carregal num instante e ainda parámos para comer um cachorro na Badalhoca. Eram três da manhã quando cheguei a casa.

Nas quatro horas e vinte minutos que passei fora de casa, apenas uma hora foi passada fora do carro, ao abrigo da Casa Mortuária.

Friday, September 02, 2011

O Primeiro Dia do Resto da Minha Vida

Ontem o meu avião despenhou-se e fui o único a não sobreviver. Há momentos que nos marcam, alguns por não acontecerem, outros pela simbologia que atribuímos a certas datas e ao significado que esses dias têm para nós.

O primeiro dia de Setembro de 2011 podia ser mais um desses dias, o meu primeiro dia de liberdade após um longo ano de pressões e assédio moral, dentro de um emprego desprezível e de uma cidade que nunca me soube acolher. Felizmente, não me limitei à conformidade de um contrato relativamente seguro e procurei por algo melhor que acabei por encontrar logo em Janeiro. Regressei a uma cidade que posso chamar de casa e iniciei um novo emprego onde conheci um ambiente agradável de camaradagem e de entreajuda, onde os nossos esforços não são apenas encorajados mas também bastante elogiados.

O dia 1 de Setembro foi um dia como outro qualquer, não fosse por ser o primeiro dia de trabalho depois das férias, nada de notável se passaria naquele dia. Mas ontem o meu avião despenhou-se, aterrou de lado e a asa raspou pela pista. A porta de emergência do lado do meu assento não resistiu ao choque e abriu-se desamparadamente, deixando o calor e os fumos do combustível da asa entrarem para dentro da cabine. Todos se salvaram menos eu, e o dia de hoje não é nada mais que uma sombra daquilo que podia ter sido.

Ontem foi dia 1 de Setembro, um dia em que nada aconteceu. Ontem não andei de avião, e este não se despenhou, ontem não estive em casa durante o dia. Ontem, esqueci-me das chaves e tive que pedir à minha vizinha para entrar em casa. Ontem, adormeci e cheguei um pouco tarde, troquei os horários e demorei-me a arranjar. Ontem, o meu pequeno-almoço foi uma caneca de cevada e torradas e não um panike, um croissant, um café e um sumo de laranja. Ontem, passei a manhã maldisposto, senti frio e apanhei chuva ao sair de casa. Ontem, foi dia 1 de Setembro.

No dia 31 de Agosto, aterrei no Porto. Adormeci, e perdi o autocarro para o aeroporto, demorei-me na estação de comboios para encontrar a paragem de autocarros e cheguei em cima da hora. O avião atrasou-se e apanhámos turbulência, tivemos uma aterragem atribulada e a porta de emergência estava a deixar entrar água. Sobrevivi a um trem de aterragem defeituoso, e cheguei a casa por volta das seis da tarde.

Ontem foi um dia como outro qualquer, e ainda bem que assim foi.

Tuesday, August 16, 2011

Prólogo

Em qualquer aventura, o que importa é partir, não é chegar.
Miguel Torga

Uma viagem, como uma boa história, começa com uma simples ideia. A ideia pode surgir de uma conversa, de um cartaz que nos chama a atenção, de um sonho deixado por concretizar, ou de uma simples vontade de quebrar a rotina. Esta não foi diferente.

Tudo começou ainda em finais de 2009, eu, o Luís e o Paulo, tínhamos acabado de ir correr até ao Furadouro. Já antes tínhamos falado de uma viagem pela Europa de carro, sem nunca irmos além do desejo por realizar. Mas algo começou a mudar, a ideia ganhou forma, e essa mera vontade era agora um plano, um projecto prestes a tornar-se realidade.

Após deixarmos o Paulo em casa, seguimos para as nossas, uma viagem rotineira que, não fosse pela imprevisibilidade do trânsito, seríamos capazes de fazer de olhos vendados. Quando já passávamos perto do nosso velho liceu, perguntei ao Luís se a “Eurotrip” – nome com que baptizámos a nossa epopeia pelas estradas da Europa – se iria realizar. Foi com a simplicidade do seu “sim” que, naquele momento, o percurso começou a ser delineado. Apenas faltava partir.

Wednesday, August 03, 2011

Cinco da tarde do dia 1 de Agosto de 2011

Cinco da tarde do dia 1 de Agosto de 2011. São inúmeros os momentos que se perdem no tear do tempo, sem nunca terem uma oportunidade para se destacarem dos demais. Também este corria o risco de ter o mesmo fatídico fim, não fosse ele portador de um enorme simbolismo na memória colectiva de cerca de 56 pessoas.

Desde Setembro de 2010 que todos sabíamos o que esta data representava. O fim de um ciclo para uns, a confirmação do seu adiamento para outros. Na sua definição mais simples era apenas uma hora marcada num calendário burocrático, o prazo limite para a entrega da tese.

Não posso imaginar o sentimento dos restantes quando o ponteiro tocou as cinco, já eu, fiz questão de o dizer a todos que se encontravam à minha volta, deixando-me envolver por um perpétuo sentimento de dever cumprido.

Não deixei a entrega para a última hora, se o tivesse feito talvez o simbolismo desta hora fosse ainda mais forte, contudo, estaria vulnerável à vontade de um Murphy sempre atento às tentações de qualquer procrastinador. Passava pouco das três da tarde do dia 28 de Julho quando entrei na secretaria do mestrado para entregar a versão provisória da dissertação. Aguardei alguns minutos pela confirmação de que todos os documentos se encontravam em ordem e saí da sala com um sorriso nos lábios.

Resta ainda preparar a apresentação para a defesa que terá lugar em Setembro, mas por enquanto está na hora de olhar para todas as promessas que foram feitas ao longo do último ano, todas as actividades postas de lado em detrimento da tese, e fazer todos os possíveis para as realizar.

Ao longo do último ano fui acumulando coisas para fazer depois de terminar o mestrado:

  • Regressar às aulas de Russo;
  • Escrever as Crónicas da Eurotrip;
  • Retomar a história de Sara e Miguel;
  • Inscrever-me num ginásio;
  • Voltar a correr até ao Furadouro;
  • Voltar a passear de bicicleta;
  • Retomar a leitura dos diversos livros que ficaram em lista de espera;
  • Assim como os filmes e séries guardados na gaveta;
  • Criar uma base de dados com os meus livros, álbuns e DVDs;
  • Retomar as emissões do podcast da Rádio da Rádio;
  • Reavivar o projecto Rarely Interesting

Entre outros que não menos importantes são mais fáceis de executar. Dentro de um ano voltarei a olhar para esta lista para confirmar quais dos pontos não passaram de promessas vãs, e actualizar o estado dos restantes. Pelo menos por agora, tempo e liberdade é algo que tenho de sobra.

Cinco da tarde do dia 1 de Agosto de 2011. Uma hora, um momento que finalmente já passou.

Tuesday, July 19, 2011

Guia Prático da Procrastinação

Ao começares a ler este artigo já deste o primeiro passo. Mas não te preocupes, o caminho não é muito longo, caso contrário não valeria a pena percorrê-lo. Procrastinar não é ser preguiçoso, não é deixar tudo para a última só porque não te apetece fazer agora. Procrastinar é pôr de lado aquilo que neste momento não te irá trazer qualquer tipo de satisfação, e gastares o teu tempo com algo que gostas.

A primeira coisa a fazer é colocares-te numa posição em que pelo menos aparentes estar ocupado. Evita ler textos demasiado longos. Navega pela net em intervalos de tempo regulares e pouco espaçados. Mantém uma janela de conversação ligada com alguém que não fale muito, mas que também não te mantenha à espera de resposta por um período muito longo. E não te esqueças de deixar sempre o e-mail, e algum documento aberto no background, com fácil acesso, não vá alguém apanhar-te em flagrante delito.

Agora apenas te resta encontrar algo com o qual te ocupares. Qualquer motor de busca é um bom sítio para começar, as ideias vão surgir naturalmente e quando te deres conta já passa da hora de sair. O truque está em não gastares as tuas fontes. Não te limites a apenas um site, pesquisa coisas novas e mantém-te activo. Os sites de notícias são também uma boa forma de ocupares o teu tempo. Sugiro que consultes as secções de Ciência e Cultura, e aprofunda os temas que por lá encontrares com pesquisas na Wikipédia ou em sites da especialidade.

Adere às redes sociais, o twitter e o tumblr são os ideais, com vários links e coisas interessantes a serem divulgadas a cada minuto. Desaconselha-se o uso do facebook visto que assim corres o risco de te perderes em minúcias sociais de pouco interesse e, sinceramente, ninguém quer saber o que os outros andaram a fazer no fim-de-semana.

Enquanto o facebook é facilmente reconhecido a alguma distância, o twitter, o tumblr, e as restantes redes são vistas como corpos estranhos e não provocam no eventual bisbilhoteiro a sensação de que estás a procrastinar.

Explicado desta forma até parece que dá mais trabalho fazer nada que nada fazer. Com o tempo vais-te aperceber como isto é bem mais fácil do que parece. Provavelmente viste este link no twitter ou no facebook, e decidiste gastar alguns minutos do teu tempo a ler um artigo sobre fazer nada. Se chegaste até aqui, já estás num bom caminho.

Tuesday, June 14, 2011

A Rede Desligada

Nos últimos anos raras foram as vezes que, por um motivo ou outro, estive sem acesso à internet por um longo período de tempo. Há cerca de um ano o meu portátil avariou, como na altura não tinha outro computador em casa, nem sequer um smartphone, não tive remédio se não resignar-me ao período de espera para reparação que durou à volta de um mês.

Infelizmente, limitar-me a ficar desligado não é um luxo com o qual me possa deleitar. Era Março e o segundo semestre tinha apenas começado. Não fosse por algumas propostas de projectos e pouco ou nada havia para fazer. Pedi ajuda a um amigo para me deixar ir a sua casa usar a internet para responder a alguns e-mails, e para enviar as propostas. Como fazia isto cerca de duas vezes por semana não posso dizer que estive completamente “desligado” durante esse tempo.

Na ausência de um computador, agravando a isto o facto de estar doente, encontrei algum reconforto na televisão. Descobri algumas séries novas e revi outras que há muito tinha deixado de ver. Permaneci atento ao telejornal, praticamente o único programa televisivo que acompanho diariamente quando não tenho qualquer problema em aceder à internet, portanto, não estava mesmo nada desligado, talvez apenas um pouco fora do alcance daqueles que não tivessem o meu número de telefone.

Em 2013, talvez não seja assim. Segundo este artigo, a frequência de explosões solares vai aumentar a um nível que já não é visto desde 1859. Na altura as comunicações por via de telégrafo foram gravemente afectadas ao ponto de serem necessários longos meses até estas voltarem a funcionar.

Isto foi no século XIX onde, em comparação com a tecnologia de hoje em dia, éramos bem mais primitivos. Em 2013, se o pior cenário se vier a realizar, podemos estar perante um verdadeiro “switch off” à escala global. Não ficaremos apenas sem internet, mas os computadores, telemóveis, televisores, electrodomésticos e carros podem irremediavelmente deixar de funcionar.

Todo e qualquer aparelho maioritariamente electrónico corre sérios riscos de ficar inutilizado devido à alta intensidade de radiação solar que vai passar pelo nosso planeta, aliada aos eventuais pulsos electromagnéticos, conhecidos por serem capazes de deixar uma grande cidade às escuras em meros segundos.

Sem querer soar como um profeta do apocalipse, a verdade é que a possibilidade deste evento acontecer é algo que nos devia preocupar. Nos cenários mais optimistas, talvez apenas acabemos por sofrer algumas quebras de energia sem que delas surjam grandes complicações. Contudo, é importante olhar para nós próprios e reflectir sobre como seremos capazes de “sobreviver” sem estarmos constantemente ligados à rede.

O Mundo iria literalmente parar e, durante alguns meses, teríamos que nos reabituar a viver sem o auxílio da tecnologia. Os contactos teriam que ser feitos pessoalmente, por escrito, ou através de telefones fixos, a rádio iria substituir a internet como a principal fonte de informação imediata, a televisão teria que regressar ao analógico, os pagamentos teriam que ser sempre feitos em dinheiro e muitos carros e transportes públicos deixariam de funcionar. Outros problemas a nível do funcionamento dos serviços de saúde, registos bancários, e de comunicação com os serviços de segurança e de emergência, também marcariam esta nova sociedade inadaptada a uma vida mais “real”.

Estaremos assim tão dependentes da tecnologia que o único resultado de um switch off não programado seria o pânico geral? Gostava de acreditar que não, mas a verdade é que tudo aponta em contrário. Mas talvez nem tudo seja negativo. A falta de internet e televisão poderá incentivar as pessoas a ler e a sair de casa, a enriquecerem-se cultural e intelectualmente após se verem livres da constante amálgama de informação indecifrável que a cada segundo estes meios lhes tentam impingir.

A verdadeira ameaça, contudo, não se prende pela falta de comunicação, mas sim no risco de perdermos a nossa memória digital. Ficheiros, documentos, blogues e sites, todos arriscam-se a ser apagados se os discos e servidores onde se encontram sofrerem mazelas irreparáveis.

Todo o arquivo deste blogue encontra-se em formato digital, assim como a maioria do meu portfólio académico e profissional. Todo o conteúdo ao qual nos últimos anos dedicámos horas, dias e meses para criar poderá desaparecer em meros segundos com pouca ou nenhuma prova da sua existência. Torna-se assim importante proteger o nosso arquivo digital e, quiçá, manter algumas cópias analógicas desse mesmo arquivo.

O tempo dirá até que ponto estamos prontos para retroceder no nosso avanço digital. Até lá, como já diziam os antigos “desligados”, a prudência é mãe da segurança.