Sunday, May 30, 2010

Pão-de-Ló Flôr de Liz



Sinopse: Um olhar sobre o processo de produção do Pão-de-Ló de Ovar.
Edição: Adriano Cerqueira
Som & Imagem: Adriano Cerqueira
Música: Luis Pereira

Tuesday, May 18, 2010

Keep Walking in Silence

Ian Curtis, Foto DR
Foi há 30 anos que o mundo da música viu partir uma das suas mais talentosas e inspiradoras influências do século XX. Líder do movimento post punk do final da década de 70, Ian Curtis marcou o universo da "Madchester", impulsionada por Tony Wilson e pela editora Factory Records.

Contemporâneo de nomes como The Buzzcocks, Sex Pistols e Happy Mondays, sem esquecer o lendário Martin Hannett, Ian Curtis ao lado de Bernard Sumner, Peter Hook e Stephen Morris, imortalizou a lírica melancólica da sua música sob o mito criado em volta da banda Joy Division.

A 18 de Maio de 1980, por motivos que ainda hoje não são claros, Ian Curtis pôs fim à sua vida dias antes dos Joy Division partirem para uma digressão nos E.U.A., que serviria de rampa de lançamento para a ribalta mundial. Após a morte do vocalista, os três membros sobreviventes mudaram o nome da banda para New Order e, durante duas décadas, prosseguiram a sua carreira, com a memória de Ian sempre presente.

Ian deixou a ex-mulher e a filha, Natalie, que na altura tinha apenas um ano de idade. É inegável a influência de Ian Curtis e dos Joy Division na música actual, em bandas que vão desde os U2, a Interpol ou The National. Para sempre irá prevalecer a dúvida sobre o legado que Ian deixou por partilhar. O eterno "e se?" de um génio assolado por epilepsia, que um dia apenas disse: basta.

A tua música permanece como uma eterna inspiração na vida de todos os teus fãs.

Continua a caminhar em silêncio Ian.

Monday, May 17, 2010

O Dia em que Caminhei com Dinossauros

Walking with Dinosaurs: The Arena Spectacular
Em Novembro do ano passado quando descobri o Walking with Dinosaurs: The Arena Spectacular – também conhecido por The Live Experience – não imaginava que alguma vez tivesse oportunidade de assistir a tamanho espectáculo, foi então com grande surpresa que no início deste ano recebi a notícia de que esta produção da BBC vinha a Portugal em Maio. Marquei logo no meu calendário e ansiosamente aguardei pela confirmação da data, pacientemente esperando pelo momento em que os bilhetes fossem colocados à venda. Pelo meio rezava para que nada me impedisse de ir e para que o espectáculo não fosse cancelado. Comprei os bilhetes com alguma antecedência e preparei a viagem antecipadamente. Quando o dia finalmente chegou, sentia-me como quando era criança, ansiosamente à espera da manhã de Natal para ver os presentes que o Pai Natal me tinha trazido.

Walking with Dinosaurs: The Live Experience esteve em exibição no Pavilhão Atlântico de 14 a 16 de Maio, num total de 7 espectáculos. Escolhi a sessão de Sábado, dia 15, às 15h30, hora perfeita para ir a Lisboa a uma hora razoável e regressar no mesmo dia. Às 9h18 embarquei na estação de Ovar, e assim dei início a uma viagem que me faria recuar 225 milhões de anos e em duas horas viajar por um mundo há muito perdido na presença de algumas das mais majestosas e magníficas criaturas que alguma vez povoaram o nosso planeta.

A viagem em si foi bastante normal, mas não sem os já habituais percalços que de vez em quando se cruzam pelo caminho de qualquer viajante. Devido a obras na linha entre Santarém e Vila Franca de Xira, fiquei cerca de uma hora parado algures entre Santarém e o Entroncamento. Apesar do imprevisto cheguei a Lisboa pouco antes da uma da tarde com tempo suficiente para almoçar e chegar a horas ao espectáculo. Almocei na cervejaria Lusitana um bitoque com ovo e batatas fritas, embora a minha dieta forçada me impeça de consumir qualquer tipo de fritos, a ementa não fornecia outras hipóteses mais saudáveis. Após o almoço passeei pelo Parque das Nações e fiquei surpreso com as obras de restauração na Torre Vasco da Gama, um empreendimento desta dimensão não teria direito a ser notícia?

Como o Pavilhão de Portugal estava fechado e faltava-me paciência para “visitar” o centro comercial, limitei-me a dar uma volta pelos jardins e pela zona ribeirinha enquanto aguardava pelas três da tarde para me dirigir ao Pavilhão Atlântico.

A hora não tardou a chegar. Passei com rapidez pela segurança que se limitava a verificar a validade dos bilhetes e num instante estava lá dentro. Antes de procurar o meu lugar dei uma volta pelas lojas e comprei algumas lembranças; há que salientar que aqueles preços eram tudo menos em conta, mas compreensíveis se tivermos em consideração que aquele espectáculo custou pouco mais de 2 milhões de euros para se tornar realidade.

Ao entrar no balcão onde se encontrava o meu lugar era impossível não reparar no palco gigante montado no interior do Pavilhão Atlântico. Apenas aqui tinha entrado duas vezes. A primeira em 98 aquando da Expo para ver uma peça sobre os oceanos no na altura denominado Pavilhão da Utopia, nessa ocasião sentei-me numa cadeira mesmo no centro do Pavilhão. A segunda foi em Dezembro de 2003 quando fui ver o concerto dos The Doors, na altura fiquei no segundo balcão do lado esquerdo, mesmo junto ao palco. Desta vez o meu lugar era no primeiro balcão em frente para o palco. A minha primeira impressão foi de espanto e curiosidade perante a enorme mandíbula que ilustrava o negro portal de onde iriam surgir os dinossauros. Tomei o meu lugar, tirei algumas fotos e aguardei pelo início do espectáculo.

Quando a hora chegou, o Atlântico escureceu, na tela por de trás da mandíbula, imagens da Terra no período Triásico quando a velha Pangea aglomerava todos os pedaços de terra firme, davam o mote para o início de duas horas de pura fantasia protagonizadas por duas dezenas de réplicas de dinossauros animadas em tamanho real.

No meio daquela Terra primitiva surgiu um pequeno homenzinho, o “paleontólogo” e narrador do espectáculo. Embora ele tivesse algum dom de discurso e animação do público, mal podia esperar para ver dinossauros a passear por ali como se fossem mesmo reais. Tal como o ciclo da vida, a performance começou com o eclodir de um ovo. Um pequeno Plateosaurus espreitava o mundo pela primeira vez em mais de 200 milhões de anos. Rapidamente deu entrada o primeiro dinossauro animado, um predador com cerca de 5 metros de comprimento que sem perder tempo atacou a cria acabada de eclodir. A mãe Plateosaurus não tardou a entrar em cena para acudir aos gritos de aflição da sua cria recém-nascida. Desde pequeno que os meus dinossauros preferidos são os Sauropodes, apesar do Plateosaurus ser apenas um Prosauropode, ver aquele animal enorme com os primeiros indícios de um pescoço comprido em palco é algo que apenas posso descrever como extraordinário, mas a tarde ainda guardava coisas bem mais maravilhosas pela frente. Cedo vimos os continentes a afastarem-se e demos um salto até ao período Jurássico. Um Stegosaurus e um Allosaurus entraram em palco para retratar uma velha cena de luta pela sobrevivência. Ver aquele belo monstro de placas e cauda com espinhos na velha dança predador/presa com um dos maiores carnívoros do período Jurássico é uma visão que apenas Hollywood tinha sido capaz de reproduzir, pelo menos, até agora. Mas um dos maiores momentos da tarde estava quase a chegar.

Quando o enorme Brachiosaurus deu entrada em cena, nunca me senti tão pequeno perante um dos maiores dinossauros que alguma vez existiu. Ainda mais fantástico foi o final da primeira parte do espectáculo quando mãe e cria Brachiosaurus cruzaram os pescoços em sinal de afecção maternal. Ver o acto carinhoso daqueles dois gigantes é algo único que tão cedo não irei esquecer. Apenas lamento que tenha sido nesse preciso momento que a minha câmara ficou sem bateria. Contudo, a única recordação que verdadeiramente importa são as emoções e as lembranças que para sempre guardarei daquele momento.

Além dos dinossauros, a floresta artificial, a banda sonora e os vídeos que ilustravam o fundo do espectáculo ajudavam a criar uma atmosfera quase indescritível que apenas consigo adjectivar como simplesmente fantástica.

Regressados do intervalo, vimos os continentes continuarem a afastar-se, enquanto a nossa viagem no tempo prosseguia até ao período Cretácico. Vimos a viagem intercontinental de um dos maiores pterossauros que alguma vez existiu, assistimos a um bando de Utahraptors lutar pelos restos de uma presa, presenciámos a luta de dois Torasaurus pelo domínio da respectiva manada e vimos um Ankylosaurus defender-se de uma cria de Tyrannosaurus Rex. A cria de T-Rex rapidamente conquistou o coração do público que não conseguia evitar um sorriso perante o arrojo deste pequeno animal perante dois enormes herbívoros armadilhados com fortes defesas. A mãe Tyrannosaurs Rex não tardou a entrar em cena para acudir à sua cria. Confesso que não consegui evitar um pequeno susto no instante em que a T-Rex entrou em palco a rugir em plenos pulmões. Novamente o amor materno entre uma cria e a sua progenitora deu o mote ao fim do espectáculo. Enquanto a Terra era atingida por um asteróide de 10 km de diâmetro, ambos os animais procuraram refúgio um no outro em busca de um último instante de conforto antes da terrível extinção que pôs fim ao reinado destas belas e magníficas criaturas.

Saí do Pavilhão Atlântico com um sentimento de espanto e com as expectativas mais do que superadas, apenas lamentava que o espectáculo não fosse mais longo e que não pudesse repetir a experiência. Esta experiência valeu cada cêntimo e não me importaria de pagar mais para poder entrar em palco e ver os dinossauros de perto. Embora soubesse que não eram reais, por momentos perdia a certeza dos factos e deixava-me envolver pela fantasia daquela tarde: o mais perto que alguma vez estarei de ver dinossauros ao vivo. É a concretização de um velho sonho de infância. Por um lado sei que irei guardar estas recordações com uma vivacidade maior do que aquela que teria se tivesse assistido a este espectáculo ainda criança, mas por outro, lamento não ter essa inocência e capacidade de imaginação que me fariam absorver cada momento daquela tarde como se tivesse mesmo viajado no tempo e caminhado com dinossauros.

O resto do dia quase parece insignificante perante a majestosidade daquele espectáculo, mas não deixou de ter os seus momentos. Dei mais uma volta pelo Parque das Nações, ainda fui ver os preços da bilheteira do Oceanário, mas os doze euros de entrada fizeram-me pôr de lado a ideia de revisitar um espaço ao qual já fui duas vezes. Optei então por ir ver o Estádio José Alvalade. Apesar do meu eterno sportinguismo nunca lá tinha ido. Como era de esperar, o estádio estava fechado, dei uma olhadela nas lojas do Alvaláxia e dei uma volta em redor do Alvalade XXI. Antes de regressar à Gare do Oriente, ainda vi a equipa de juniores a treinar-se no relvado por uma entrada que tinham deixado aberta.

Regressei ao Vasco da Gama perto da hora de jantar, optei por uma refeição mais saudável e fui comer umas massas ao Vitaminas. Pelo meio cruzei-me com um velho conhecido no metro e aguardei por um telefonema que acabou por não acontecer.

Após o jantar, mantive-me ocupado enquanto esperava pelo comboio. Fui ao Modelo 24 comprar uma sandes e uma garrafa de água, o mesmo Modelo 24 onde há 3 anos tomei pequeno-almoço após o Super Bock Super Rock.

Às 21h39 embarquei em Lisboa-Oriente com destino a Ovar. Devido aos mesmos problemas da manhã, o comboio atrasou-se 45 minutos e apenas cheguei à uma da manhã a casa. Pelo caminho tive que aturar uma velhota irritante que passou a viagem toda – ou pelo menos até ao Entroncamento, onde saiu – a queixar-se do atraso ao telemóvel, constantemente a repetir as mesmas frases a alto e bom som para impedir que os restantes passageiros tentassem sequer dormir. Achei também curiosa a situação de duas senhoras que precisavam de estar no Porto à 0h40 para poderem apanhar o metro para o Aeroporto, e que devido ao atraso já não o iriam conseguir apanhar. Se precisavam tanto de ir para o Aeroporto porque não apanharam um comboio mais cedo? Mesmo que este não se tivesse atrasado, dificilmente conseguiriam chegar a tempo ao metro.

Cheguei a casa com sentimentos divididos. Por um lado estava extremamente feliz por ter aproveitado esta oportunidade, mas por outro, não conseguia deixar de lamentar o triste regresso à realidade. Contudo agarro-me à felicidade de ter passado por esta experiência única que irei para sempre guardar na minha memória: o dia em que caminhei com dinossauros.

Saturday, May 01, 2010

Viver Off-line

I used to think that the day would never come, that my life would depend on the morning sun.
True Faith, New Order

Naquele instante não sentia que tivesse conquistado o ciberespaço, nem tão pouco ultrapassado a co-dependência das novas tecnologias. Não. Naquele instante o meu triunfo não era uma qualquer vitória sobre um adversário imponente, mas simples clareza. A certeza de que é possível viver desligado da teia de informação que diariamente se apodera do meu tempo, e que qualquer suspeita do contrário não era nada mais do que uma negação da seguinte verdade: existe vida além da internet.

Por várias vezes afirmei não possuir qualquer tipo de vício. Embora não me permita subjugar pelos vários objectos de prazer que de vez em quando procuro, sempre lidei com a possibilidade de entrar em colapso se alguma vez me visse privado da pequena janela de informação que me mantém dentro do restrito grupo dos modernos illuminati: a internet.

Após um período de quase dois meses sem qualquer acesso a um computador, em que os únicos instrumentos de comunicação se reduziam a um telemóvel e uma TV, posso afirmar que não sinto qualquer necessidade de me manter ligado. Confesso que tal suscitou alguns imprevistos, nomeadamente a nível académico, ou não estivesse eu ligado a uma área em que o computador é a principal, se não mesmo, a única ferramenta do ofício. Mas ao pôr de lado essa necessidade, a maior auto-estrada de informação à face do planeta acaba por se revelar bastante limitativa.

Com o tempo livre que ganhei ao ser forçosamente separado do meu PC, pude rededicar-me à leitura, descobrir novas séries e filmes, e passear um pouco pelas regiões vizinhas. De facto, o maior obstáculo era inventar novas coisas para ocupar o meu tempo – não tinha noção de quanto tempo livre realmente tinha até me ter visto livre daquilo que ocupava a maior parte do meu dia. A partir de agora irei sempre estranhar aquelas pessoas que dizem que 24 horas não são suficientes. Se for o caso, pergunto-vos, estão a aproveitar bem o vosso tempo?

Agora sinto uma maior clareza. Começo a aproveitar o meu tempo ao máximo, e a dar valor aos pequenos momentos de descanso que consigo encaixar nos meandros dos meus habituais afazeres. A verdade é que, até há pouco tempo, limitava-me a consumir rios de informação desnecessária e completamente inútil, hoje, a menos que esteja envolvido nalgum projecto, mal consigo estar mais de quinze minutos em frente a um monitor sem me aborrecer e ir procurar algo mais para ocupar o meu tempo.

Apenas lamento ter sido forçado a adiar alguns projectos que pretendo desenvolver online, mas à parte disso, por mais sedutora que toda a informação do mundo possa parecer, há algo a dizer sobre o mundo real que, apenas ao entrar off-line, começamos a ver com olhos dignos do seu encanto.