Sunday, December 23, 2007

O Regresso da Véspera da Véspera de Natal

365 dias, 48 bilharacos, 12 Pencas e 1 Pão-de-Ló! Sim, hoje não é a Véspera de Natal! É a Véspera da Véspera de Natal!

Jesus passeia num campo verdejante enquanto multiplica os pães para oferecer aos pombos. No fundo ouve-se a banda sonora do Senhor dos Anéis.

Ao fundo, Jesus vê uma bola de raios a desvanecer-se no horizonte. Dentro dela, encontra-se um sujeito com óculos escuros. A tensão pode ser vista nos olhos de ambos. Jesus pára de multiplicar os pães e começa a multiplicar o peixe. Um carro pára ao lado de Jesus e pede-lhe indicações para o Shopping mais próximo.

“Meu! Hoje é a Véspera da Véspera de Natal”, diz Jesus.

“Exacto, amanhã vai estar terrível!”, responde o condutor.

“Hm... Vais sempre em frente, viras à direita na rotunda e depois tem umas setas a indicar.”

O homem dos óculos escuros começa a correr na direcção dos dois. Jesus pára de multiplicar o peixe e agarra em dois bacalhaus, preparando-se para o embate.

O homem dos óculos escuros chega à beira de ambos, Jesus prepara-se para o golpe final.

“’Tá mal!”, diz o homem dos óculos escuros.

“Hun?”, diz Jesus, perplexo.

“É só mesmo virar à direita na rotunda?”, pergunta o condutor.

“É pá, não!”, diz o Dantas.

“Morre Dantas, morre! Pim!”, diz o Almada Negreiros.

“Vai pentear macacos!”, responde o Dantas.

E assim o fez.

“Afinal como é?”, pergunta o condutor, já impaciente com a longa espera pela tão aguardada resposta que nenhuma destas personagens parecia disposta a entregar facilmente.

O homem dos óculos escuros vira-se para Jesus, eles trocam olhares, embora Jesus não possa ver os olhos do homem dos óculos escuros, porque o Sol está a bater-lhe de frente, e porque o homem dos óculos escuros, usa óculos escuros.

“Não é preciso ir até à rotunda. ‘Tás a ver aquela viela ali à esquerda? Vais por ali. No primeiro cruzamento viras à direita e segues sempre em frente. Vais ter directamente ao parque de estacionamento do Shopping.”

“Obrigado! Há algum supermercado pelo caminho?”

“Há, o Flor da Maria, porquê?”

“Porque preciso de comprar pencas.”

Jesus e o homem dos óculos escuros trocam olhares, Almada Negreiros penteia macacos, e o condutor segue o seu caminho.

Fim.

Sim, hoje é a Véspera da Véspera de Natal. Lembrem-se dela, ou podem acabar perdidos a pedir indicações a um Jesus com dois bacalhaus.

Morram Pencas, morram! Pim!

Monday, December 17, 2007

Saímos de um, entramos noutro, saímos de outro, entramos num

Centros Comerciais. Já longe vai o tempo em que a abertura do Gaiashopping era tida como motivo de grande comemoração. Um sinal de inovação tecnológica que nos punha a par do resto da Europa. Hoje constroem-se centros comerciais uns em frente aos outros. Estes chegaram mesmo a deixar a calma da periferia para se instalarem no centro das cidades.

Os centro comerciais estão na moda, são a moda, e vieram para ficar. Nenhuma cidade por mais pequena que seja prescinde do direito ao seu “InserirNomeDaTerraShopping”, e mal esteja pronto e a funcionar, surgem de imediato planos para o “Centro Comercial InserirNomeDaTerra”, de forma a salvaguardar uma concorrência comercial saudável entre ambos.

Os habitantes ficam todos felizes e passam a desmarcar as suas agendas para poderem usufruir do leque variado de lojas, recheadas dos mais variados produtos, todos os fins de semana. Aliás, ao domingo só existem duas tradições, a missa das onze menos um quarto, e o passeio pelos diversos centros comerciais da região.

No Natal ainda há quem faça um desvio do seu habitual passeio pelas vitrinas, para gozar de umas boas duas horas no centro do Porto – dentro do carro, parados no meio do trânsito – para vislumbrar as iluminações de Natal. Com o acrescido de, este ano, uma instituição bancária lá se ter lembrado de construir um monte de arames com luzes e chamar-lhe “A Maior Árvore de Natal da Europa”.

Os centros comerciais são o “pão nosso de cada dia”, que curiosamente deixou o comércio tradicional sem dinheiro para comprar pão. Mas também, quem compra pão hoje em dia? Nas zonas de restauração dos centros comerciais podemos encontrar os mais variados tipos de refeições, saudáveis e económicas, pela modesta quantia de um euro ou dois.

Hambúrgueres, pizas, baguetes, entre outros, perfazem um menu do melhor que os centros comerciais têm para oferecer. Gorduras, hidrocarbonetos, e os mais variados condimentos sintéticos. Haverá melhor maneira de mantermos um corpo são? Como já dizia a publicidade de uma marca de iogurtes, corpo são, mente sã.

Que é feito do passeio à beira mar? Do piquenique no campo? Das visitas a museus, ou parques de diversões? Concertos, peças de teatro, filmes, romarias, festivais, todo um mundo por explorar nos dias sagrados da nossa semana.

Depois de cinco longos dias, para quê desperdiçar o nosso tempo de descanso com trivialidades comerciais, quando podemos explorar a natureza, enriquecermo-nos culturalmente, ou simplesmente passar um bom bocado entre familiares e amigos.

Saímos de um, entramos noutro, saímos de outro, entramos num. A vida passa e nós a vê-la passar.

Joy Division, A queda e ascensão de um mito

Joy Division, Foto DR
2 de Maio de 1980, a última vez que Bernard Sumner, Peter Hook, Stephen Morris e Ian Curtis se juntaram em palco. Dezassete dias mais tarde, Ian Curtis punha termo à sua vida, e não mais alguém ouviria ao vivo aquele incontrolável talento de epilepsia musical.

18 de Maio de 1980, um dia antes da viagem para os E.U.A. que levaria os Joy Division dos bastidores da pacata cidade de Macclesfield, para a ribalta da música mundial, o seu vocalista desistiu da fama, do sonho, da família, e da vida.

Os Joy Division tornaram-se naqueles que podiam ter sido, mas nunca o foram. Com a morte de Ian, a pequena banda desmoronou-se, e as suas letras caíram no esquecimento. Apenas foi preciso um ano para que surgissem os New Order, tal como uma Fénix renascida das cinzas dos “desaparecidos” Joy Division.

Estes três rapazes limparam o pó às guitarras e lançaram-se à aventura, conquistando o coração de milhares de fãs em todo o mundo. Mas, o que eles não esperavam, era que o seu velho amigo os acompanhasse neste longo percurso.

Cada vez mais os fãs apregoavam pela Love will tear us apart, envolvidos numa Atmosphere de quem tinha perdido o Control. Vinte e sete anos volvidos desde esse último concerto, e a figura de Ian está mais em moda do que alguma vez esteve.

Os poucos álbuns da banda são reeditados e postos à venda com faixas extra de performances ao vivo. Anton Corbijn, fotógrafo Holandês de renome realiza Control, filme sobre a vida de Ian, baseado no livro da sua esposa, Deborah Curtis, Touching from a Distance (Carícias Distantes). Porquê Ian? Porquê agora, tão depois da tua morte? Por que és agora relembrado?

Com a morte de Ian, os Joy Division caíram no esquecimento, passando décadas numa falsa hibernação. De repente ressurgem, e atiram os New Order para a sua sombra. Porquê acordar este gigante adormecido? Porquê agora?

Que necessidade é esta de imortalizar algo que durante tanto tempo remetemos para a escuridão? Ian cantava,”tenho que encontrar o meu destino, antes que seja tarde”, talvez seja demasiado tarde para ele, mas eis que a sua banda o encontrou, vinte e sete anos mais tarde que o previsto.

Os Joy Division estão de volta, e estão na boca, e no ouvido, de toda a gente. Tiveste que morrer como mártir Ian? Terias tudo isto planeado? Como seria a tua vida se não a tivesses terminado? Valeu a pena?

Não sei as tuas respostas. Não sei se te devo agradecer por teres dado espaço para os New Order renascerem. Não sei que te dizer. Apenas sei que, seja lá porque o fizeste, jamais serás esquecido.