Thursday, December 21, 2006

Querido Pai Natal

Já devias pensar que ia esquecer-me de te escrever. Deixei isto um pouco para a última, mas espero ainda ir a tempo.

Há já muitos anos que não te peço nada, pelo menos nada que possas fazer, ou ir a uma loja comprar. Este ano não será diferente. E perguntas-me tu, como foi este teu ano? Hesito em responder. Esse assunto talvez seja mais apropriado a um artigo de Ano Novo, mas quem sabe, talvez despache logo isto, como aquelas mensagens de Feliz Natal que tenho recebido nestes dias.

Muito se passou este ano. Alguns momentos interessantes, de decisões difíceis e importantes. Mas, como sempre, chego a esta altura a sentir a mesma coisa, como se nada se tivesse passado. A verdade é que aconteceu tanta coisa este ano que vi-me forçado a regressar à estaca zero.

Poucos são aqueles que se vêem de um momento para o outro no mesmo sítio onde estavam há três anos atrás. Contudo, não vejo isto como um privilégio, embora também não o veja como uma maldição. Talvez não passe do curso natural das coisas, visto que o último caminho que percorri não me estava a levar a lado algum.

Nos últimos dias tenho recebido algumas pistas que apontam para há dois anos atrás. Não sei o que aconteceu de tão importante nessa altura, talvez tenha atingido alguma bifurcação e escolhido o caminho errado, mas se essa bifurcação existiu não me consigo lembrar onde foi.

Tentando racionalizar a coisa, como costumo muitas vezes fazer, se recuei para um ponto tão atrás, eventualmente chegarei a essa bifurcação. E aí pergunto-me a mim próprio, “Como sabes que caminho escolher quando lá chegares?” Se lá chegar. Pois essa bifurcação pode nem existir, ou posso enfim escolher, desde logo, outro caminho – se é que cabe a mim tal decisão.

Não sei como me podes ajudar. Talvez se puseres no meu sapatinho uma bússola que me oriente no caminho certo... Mas, de que vale saber onde se encontra o Norte, se não sei que passo dar a seguir?

Vi-me de tantas maneiras, em tantos sítios, mas acabo por chegar sempre a este. A este eu, e pouco ou nada tenho a ver com quem um dia imaginei ser. De que vale isto? Estarei a exagerar quanto ao estado das coisas? Provavelmente.

Apesar das coisas más persistirem, elas mantém-se longe. Existindo ou não, nunca fizeram grande diferença. Nunca tiveram a importância que por vezes lhes dou.

Procurei escapatórias a problemas que apenas tenho a mim como único culpado. Se me pudesses dizer o que fazer... Mas de nada adianta, pois só eu o posso descobrir.

Não é assim tão mau voltar à casa "partida". Consegui sair de lá, não foi? Apenas me enganei na saída.

Enfim, não te maço mais com os meus problemas, que não podes resolver. Este ano só te peço alguma orientação, para além da habitual boa sorte que o destino, Deus, ou qualquer outra entidade superior, me têm negado.

Fico à espera da tua resposta.

Feliz Natal.

2 comments:

Catarina Soutinho said...

Tomar decisões é sempre um acto doloroso.
Contudo, não as tomar é 100 vezes pior porque ficas a agonizar na tua própria frustração.
LET IT GO WITH THE FLOW, Patrício!

E espero que o Pai Natal não esteja muito ocupado a atender os meus pedidos e te resolva metade dos teus "balanços".

FELIZ NATAL

Anonymous said...

A casa "partida", desprezada muitas vezes por ser a primeira, é, na realidade, aquela com mais poder, a mais importante. Se voltas a estar nela, aproveita. Podes escolher o teu caminho novamente.
***
Merry Xmas